júnior santosMaria Leonor Januário da Silva, 39 anos
Os dados são do Pacto pela Saúde 2010/2011, do Ministério da Saúde, e são vistos com grandes preocupações entre obstetras e gestores. As altas taxas de mortalidade por afecções perinatais refletem, de maneira geral, baixos níveis de saúde e insatisfatórias condições assistenciais à mãe e ao recém-nascido. Por exemplo, a estrada é um risco enorme para mulheres com deslocamento de placenta.“Numa condição dessa, em que a mulher é submetida a viagens longas em estradas, muitas vezes em péssimo estado, é um milagre de Deus que mãe e bebê cheguem vivos aqui. Deus é brasileiro e deve ter nascido aqui, porque protege essas mulheres”, afirmou a diretora médica do Hospital José Pedro Bezerra, o Santa Catarina, a obstetra Kátia Mulatinho.
O hospital realiza, em média 500 partos mensais. Recebe parturientes de 29 municípios do estado e vive superlotado. “Fazemos praticamente 100% dos partos de Extremoz e Ceará-Mirim”, disse a diretora do hospital. Em Natal, as unidades de assistência obstétrica ofertam, juntas, aproximadamente 170 leitos, incluídos os de pré-parto. O Santa Catarina e Maternidade Escola Januário Cicco são referência em gestão de médio e alto risco. As maternidades municipais Leide Morais e Quintas, de baixo risco.
“O problema é que deveríamos receber apenas partos de médio de alto risco, mas está chegando. Há 20 anos, isso vive lotado e fica cada dia pior”, afirmou Kátia Mulatinho. O mesmo problema tira a tranquilidade de pacientes e profissionais na Maternidade Divino Amor, em Parnamirim. No sábado, 09, a superlotação virou caso de polícia e está em discussão na promotoria de Justiça de Parnamirim.
Classificada como porta aberta, a unidade realizou no primeiro trimestre deste ano, 1.145 partos, dos quais 579 de Parnamirim e 566 de outros municípios. Dos 45 municípios pactuados, 21 já extrapolaram o teto das AIHs. O excedente desses municípios já chega, segundo o diretor do hospital a 323 AIHs. “É uma situação insustentável, que precisa urgente de uma regulação para que o serviço não entre de vez em colapso”, afirmou a chefe da Obstetrícia, Ana Tereza Silveira.
Na próxima terça-feira, 19, o Ministério Público reúne na Associação Médica do RN, além de entidades representativas da classe médica, os secretários estadual de saúde e os secretários de saúde de Natal e Parnamirim, além de todos os diretores de maternidades da região na tentativa de regularizar a situação. Os profissionais que trabalham em sistema de plantão extra ameaçam sair da unidade.
“Segundo João Brito, alguns municípios que possuem pactuação de 30 partos e em três meses já mandou 36. O hospital mantém36 leitos de obstetrícia e 06 leitos pré-parto. Na sexta-feira, as duas salas de pré-parto estavam com gestantes em trabalho de parto e mães que tiveram filho na madrugada e aguardavam vaga na enfermaria da Obstetrícia, completamente lotada.
Hospital funciona com material doado
Situado na região agreste do estado, o município de Canguaretama deveria atender a demanda da região, mas por desabastecimento e déficit de pessoal não consegue cumprir esse papel. A demanda tem sido direcionada, em maior parte, para Parnamirim e Natal. Cassiana Maria da Cruz, 19 anos, foi atendida no hospital regional Prof. Dr. Getúlio de Oliveira Sales, mas não ficou.
Ela apresentou quadro de pressão alta. Sozinho no plantão, o obstetra não se responsabilizou pelo parto natural por não ter retaguarda cirúrgica. A unidade tem apenas seis obstetras, número insuficiente, segundo a diretora da unidade, Cláudia Augusta Moreira de Brito, para completar a escala. “Temos um obstetra no plantão de 24h. Fica impossível cobrir tudo, dar assistência aos partos normais e realizar cesáreas”, diz ela. Até meados de março o centro cirúrgico estava interditado, por problemas estruturais. Os reparos foram feitos, mas a sala cirúrgica ainda não funciona plenamente. E não apenas por falta de profissionais.
Quando é possível fazer cirurgia, falta material. Até semana passada, os cirurgiões traziam fios cirúrgicos ‘doados’ por unidades onde trabalham, na Paraíba. Já os ultrassonografistas utilizam seus próprios equipamentos portáteis de ultrasson para realizar os exames. No primeiro trimestre, a unidade realizou 45 partos. Mas, nos dois primeiros meses do ano, encaminhou para a Maternidade Divino Amor, 32 pacientes.
Nísia Floresta não tem maternidade
Na estrada, aos nove meses de gravidez, sob sol forte, Maria da Conceição Silva, 32 anos, aguardava um carro da Prefeitura de Nísia Floresta que pudesse levá-la até a cidade mais próxima para fazer uma ultrassonografia. O exame é o último que fará antes de dar a luz ao seu sexto filho. Ela relata as dificuldades e diz não ter nem ideia de onde terá seu filho.
“Só peço a Deus não ficar indo de uma maternidade a outra”, disse. Na quarta gravidez, não deu tempo. O filho nasceu em casa, com ajuda de uma vizinha. “Chamei ambulância, mas demorou muito. A criança nasceu, peguei um taxi e fui pra Apami (maternidade de São José de Mipibu). Lá eles me receberam e fizeram a limpeza, cortaram o cordão umbilical”. As dificuldades não são menores para conseguir exames. Há 15 dias, ela desembolsou R$ 140,96 em gastos com exames numa clínica particular. “O município tem cota pequena, então demora muito. Quem está no último mês de gravidez não pode esperar”, disse ela.
Nísia Floresta não tem hospital. Existe, segundo a secretária municipal de Saúde, Ângela Cristina Nascimento Brás, um projeto para construção de um pronto-atendimento, com assistência obstétrica. O município tem pactuação com Natal, Parnamirim e São José de Mipibu, para onde encaminha as gestantes. O teto para 2011 é de de 465 partos entre naturais e cesarianas.
“Temos investido na oferta de uma boa rede de atenção básica, que é fundamental para um bom parto”, completou a coordenadora da área, Nathalye Philips. Atualmente, 98 gestantes estão em acompanhamento pré-natal. O município garante o acompanhamento pré-natal, os exames (três ultrassonografias); sorologia, hemograma e as vacinas. São 12 equipes do PSF e 21 unidades de saúde.
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