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domingo, 28 de julho de 2013

UM PASSEIO AFRICANO PELA CIDADE MAIS NEGRA DO BRASIL

O oficio da baiana do acarajé é desde 26 de Outubro de 2012 património imaterial do Brasil. O acarajé é a especialidade culinária mais vendida no tabuleiro da baiana

CONTRASTE

Um passeio africano pela cidade mais negra do Brasil

Salvador da Bahia é a cidade mais negra do Brasil, país em que vive a maior comunidade de afro-descendentes do mundo fora de África. Tradições africanas são conservadas e recriadas nesta cidade do nordeste do Brasil.
Salvador é a capital do estado da Bahia no Brasil. Descoberta em 1501 a 1 de novembro, a cidade recebeu o nome de Bahia de todos os Santos, e nessa altura foi um dos portos mais movimentados do continente Americano. Em 1549, foi ali fundada a primeira capital do Brasil, na altura colónia portuguesa.
Também foram os portugueses que trouxeram a escravatura e os escravos africanos à Bahia. No nordeste do Brasil eles foram forçados a trabalhar nas plantações de açúcar. Ainda hoje, o Brasil tem a maior população negra fora de África.
Segundo indicadores do censo de 2010 do mapa da população negra e parda no Brasil, Salvador da Bahia tinha 743 mil habitantes negros. São Paulo e o Rio de Janeiro, seguiam a capital baiana como segunda e terceira cidades mais negras do país, com 736 mil e 727 mil habitantes afro-descendentes.
A cultura baiana, em Salvador, reflete estes números de tal forma que a cidade é também chamada de "Roma Negra" ou "Meca da Negritude".
Placa em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do quilombo dos Palmares, onde viviam escravos fugidos no séc. XVIIPlaca em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do quilombo dos Palmares, onde viviam escravos fugidos no séc. XVII
Herança à vista
Andando pelas ruas dos bairros históricos de Salvador da Bahia, em quase todos os cantos se sente a presença de África. Não há dia em que não se ouça o som do berimbau e do tambor na rua, a acompanhar homens e mulheres, jovens e menos jovens a jogar capoeira nas ruas.
Mas jogar capoeira não é simplesmente dançar ou praticar uma arte marcial para os turistas verem. Jogar capoeira na Bahia é, para os seus praticantes, preservar a herança dos antepassados africanos que viram nessa forma de expressão uma estratégia para comunicarem entre si e se protegerem física e espiritualmente.
Baiana do Acarajé
Outra das formas de preservar a herança africana é a gastronomia. As baianas do acarajé, com os seus trajes brancos e sorriso aberto conquistam a simpatia dos passantes que também não resistem às iguarias que elas vendem nos seus tabuleiros, como são chamadas as suas bancas. O abará e o acarajé são as principais especialidades vendidas pelas baianas. Na língua africana ioruba, falada por povos da África Ocidental, "akará", quer dizer "bola de fogo" e "jé", significa comer. "Acarajé" significa, portanto, comer uma bola de fogo.
O ofício da baiana é tão marcante na cultura da Bahia que foi declarado, em 2004, Património Histórico Nacional e desde 26 de Outubro de 2012 Património Cultural Imaterial da Bahia.
Devotos do candomblé homenageiam a deusa Iemanjá na praia da Paciência, em SalvadorDevotos do candomblé homenageiam a deusa Iemanjá na praia da Paciência, em Salvador

Candomblé - herança religiosa africana
Mas o acarajé da baiana é também considerado um alimento sagrado. É uma oferenda que se faz aos orixás, as divindades do Candomblé. O Candomblé é uma religião de raízes africanas que não se encontra em África na mesma forma que no Brasil. Os historiadores dizem que o especial do candomblé é que reúne divindades, ou orixás, de diversas regiões africanas num único culto.
Por isso, o Candomblé no Brasil tem divindades de vários cultos: principalmente dos povos da etnia ioruba, que se encontram no Benin, Togo, Camarões, e Nigéria, e dos povos da etnia bantu, da região de Angola e Congo. As diferentes regiões e os rituais das cerimónias no candomblé originaram também subdivisões dentro do Candomblé. Estas divisões se chamam "nações", como Ketu/Ioruba, Bantu/Angola e Jeje/Fon.
Candomblé e resistência cultural

Um passeio africano pela cidade mais negra do Brasil

Há 19 anos que o músico brasileiro Mateus Aleluia vive em Angola. Explica que para o afro-descendente no Brasil, o candomblé "é uma forma de a gente ter a África da forma como ela era há 500 anos atrás."
Mateus é um dos músicos que na década de 1970 insistiu em dar protagonismo aos ritmos africanos na sua música. O seu grupo Tincoãs ficou conhecido por isso. Mas foi em Angola nos anos 80, quando foi a Luanda para fazer alguns espetáculos que veio a conhecer uma África mais contemporânea.
E através do contacto pessoal com África, Mateus Aleluia fez uma análise mais profunda das estratégias que o africano na diáspora utiliza para se preservar culturalmente. "Para vocês que são africanos não há necessidade disso porque vocês caminharam com África. Nós fomos afastados. Se a gente caminhar, temos que caminhar com a África que os nossos antepassados deixaram porque se não nós deixamos de ser África."
Segundo o músico, o candomblé conservou no Brasil uma série de tradições africanas da culinária à língua: "Foi o candomblé que manteve toda uma linguagem misturada da África de vários pontos. Foi candomblé que manteve toda uma ervanária vinda de África. Então, mesmo o afro-descendente que do ponto ritualismo não é do candomblé, é candomblé do ponto cultural", declara o músico.
Placa da Casa da Nigéria com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (edíficio azul)Placa da Casa da Nigéria com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (edíficio azul)

Casas africanas na Bahia
Assim como existem três nações no Candomblé, a Bahia também tem três casas africanas - a Casa de Angola, a da Nigéria e a do Benin. As casas são centros culturais independentes da religião do candomblé, mas oferecem informações sobre esses países, através de exposições permanentes, bibliotecas, palestras ou visitas guiadas, que tanto enriquecem os conhecimentos dos seus praticantes como da população em geral.
Casa do Benin
A primeira casa africana, fundada no centro histórico de Salvador, o Pelourinho, foi a casa do Benin. Localizada ao lado de uma igreja azul, construída por escravos – a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, um ícone da africanidade baiana.
O projeto da Casa do Benin: foi iniciado pelo etnólogo e fotógrafo francês Pierre Verger nos anos 80. "A grande maioria dos baianos, não entende à primeira vista porque a casa do Benin. Para ser sincero, a maioria dos baianos não sabem nem o que é o Benin", conta Daniel Melo, o turismólogo que guia as visitas na Casa do Benin. "Alguns chegam aqui perguntam quem é o Benin, achando que é uma pessoa. E ai depois que eles têm contacto com a casa é que entendem a relação histórica que há entre o Benin e a cidade de Salvador."
Segundo Daniel Melo, a importância do Benin na formação da cultura de Salvador da Bahia até supera a influência de Portugal: "Seja na cor seja no vocabulário nos trejeitos, na religião ou na alimentação."
Casa de Angola
Pátio nas traseiras da Casa de AngolaPátio nas traseiras da Casa de Angola
A criação da Casa de Angola causou menos estranheza à população baiana, talvez pela língua portuguesa que Angola e o Brasil têm em comum. Mas há mais semelhanças, como lembra Camilo Afonso, o primeiro adido cultural adjunto angolano da instituição, criada em 2008: "Os instrumentos musicais, como o berimbau, e a dikanza, que é o reco-reco. Aqui a capoeira, é capoeira de Angola. Eles aqui recriaram-na mas no cancioneiro deles você encontra Angola, a palavra ginga e por aí fora."
Os pratos típicos de Salvador como a moqueca, um caldo de peixe, e o caruru, ligam os dois países pelo estomago e pela semelhança do vocabulário, diz Camilo Afonso: "Você vai encontrar aqui moqueca de peixe e caruru, que para nós lá em Angola, é calulu. Aqui é um caruru feito duma outra forma. Mas no fundo também existe em Angola ou na África Central."
Casa da Nigéria
Muajeed Oybamiji Oyewo, diretor da Casa da Nigéria, conta o que alguns visitantes procuram aprender porque se ensina ioruba na Casa da Nigéria: "A língua da liturgia do candomblé é o ioruba. Então eles estão sempre ansiosos por aprender. Sempre que se deparam com uma palavra que não entendem, eles vêm aqui para procurar o significado."
A Bahia de Todos os Santos deve as suas sonoridades, cores e sabores às culturas africanas. África chegou ao Brasil no século XVI pela escravatura, mas ficou e criou uma nova africanidade no nordeste do Brasil.
Autora: Carla Fernandes
Edição: Johannes Beck
O Farol da Barra foi o primeiro a ser construído no Brasil e é o mais antigo do continente americano datando de 1698O Farol da Barra foi o primeiro a ser construído no Brasil e é o mais antigo do continente americano datando de 1698

"Manda essa negra macumbeira sair da sala" Preconceito e intolerância religiosa em unidade hospitalar...

"Manda essa negra macumbeira sair da sala" Preconceito e intolerância religiosa em unidade hospitalar...

Ialorixa
Um acontecimento na última semana chocou a comunidade do candomblé de Salvador. A ialorixá Therezinha da Silva, 65 anos, estava no Hospital Roberto Santos, onde procurava pelo médico de prenome Raimundo, quando diz ter sido destratada pela coordenadora da emergência da unidade, chamada Carol.
“Fui totalmente maltratada por essa mulher”, contou a líder religiosa, visivelmente abalada, ao Bahia Notícias. Segundo dona Therezinha, após perguntar por Raimundo, Carol teria relatado a ausência do profissional e pedido que ela se retirasse da sala. Do lado de fora, contudo, a ialorixá ouviu a suposta frase que gerou o problema.
“Manda essa negra macumbeira sair da sala, já conheço ela aqui do hospital”, acusou.
Consternada com a situação, a idosa se dirigiu à ouvidoria da unidade e teve como resposta que “a pessoa [Carol] estava nervosa e que quando eu precisasse falar com o médico, não fosse ao hospital”.
A equipe do Roberto Santos foi procurada pela equipe do Bahia Notícias, porém não quis se pronunciar. “Publique. Depois a gente responde”, disse a assessora Bernadete Farias, aos gritos.

CARTA DE UM CAOZINHO NO CONTROLE DE ZOONOSES




CARTA DE UM CAOZINHO NO CONTROLE DE ZOONOSES

Queridos
mamãe e papai, eu morri hoje! Vocês se cansaram de mim e me levaram
para o abrigo. Eles estavam superlotados e eu não tive tanta sorte!.


Estou em um saco plástico preto em um aterro sanitário agora. Algum
outro cachorro do abrigo irá usar a minha correia mal utilizada que
você deixou. Minha coleira estava suja e pequena demais, mas uma
senhora levou-a antes de me enviarem para a Ponte do Arco-Íris.

Eu ainda estaria em casa se não tivesse mastigado seu sapato? Eu não sabia o que era, mas era de couro, e estava no chão. Eu estava apenas brincando.

Você esqueceu de me comprar brinquedos de cachorro. Eu ainda estaria em casa se tivesse sido domesticado? Esfregar meu nariz no que eu fiz
de errado, só me fez sentir vergonha de todos, mas não me fez aprender!

Existem livros e professores que ensinam a obediência, e que teriam lhes
ensinado como eu poderia aprender a ir para a porta. Eu ainda estaria
em casa se não tivesse trazido pulgas para casa? Sem usar um
anti-pulgas, eu não podia tirá-las de mim, depois que você me deixou
sózinho no galpão por alguns dias.

Eu ainda estaria em casa se não tivesse latido? Eu só estava dizendo: "Estou com medo, eu estou sozinho, estou aqui, estou aqui! Eu quero ser seu melhor amigo."

Será que eu ainda estaria em casa se tivesse feito você feliz? Bater-me não me fez aprender.

Eu ainda estaria em casa se você tivesse tido tempo para cuidar de mim, e ensinar-me boas maneiras?

Você não prestar atenção em mim após a primeira semana eu até entenderia, mas eu gastei todo o meu tempo esperando por você para me amar! Eu morri hoje!

Com amor...seu cão.

(autor desconhecido)


BRASIL Religiões africanas são principal alvo da intolerância religiosa no Brasil...

BRASIL

Religiões africanas são principal alvo da intolerância religiosa no Brasil

Preconceito contra confissões como o Candomblé e a Umbanda se manifesta em depredamentos de casas, espancamentos de pessoas e até assassinatos. Especialista vê ainda lógica de mercado na briga entre as religiões.
O número de denúncias referentes à intolerância religiosa no Brasil, feitas pelo Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, aumentou de 15 em 2011 para 109 em 2012. Os principais alvos de discriminação são as religiões de origem africana, como candomblé e umbanda.
Entre os casos está a invasão de terreiros em Olinda, em que "evangélicos com faixas e gritando palavras de ordem realizaram protesto em frente a um terreiro de religião de matriz africana e afro-brasileira", como descreve um denunciante. Outro caso foi o uso, por uma igreja, de imagens de mães-de-santo, "chamando de feitiçaria e difundindo o ódio pelas redes sociais", afirma outra pessoa.
"O Brasil tem um histórico de negação das tradições não cristãs. Essa negação não é exatamente da religião, mas do valor de todas as tradições de matriz africana. Na verdade, para nós, é racismo", afirma Silvany Euclenio, secretária de Políticas das Comunidades Tradicionais da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
Embora existam também atritos entre algumas religiões cristãs, eles acabam não sendo tão violentos porque essas religiões têm uma origem comum e compartilham os mesmos valores. No caso das religiões de matriz africana, a intolerância recebe uma outra dimensão e resulta em violência, como no depredamento de casas, espancamento de pessoas e até mesmo assassinatos. "Recebemos denúncias de norte a sul do país, e de forma crescente", diz Euclenio.
Mercado religioso
O professor de ciências da religião Frank Usarski, da PUC-SP, afirma que a tensão mais visível é entre algumas igrejas pentecostais e as religiões afrobrasileiras, apesar de existirem também atritos entre religiões que tenham a mesma raiz.
"Isso tem muito a ver com a lógica do mercado religioso. Hoje em dia não é mais uma convivência idealista, mas uma luta de segmentos, da necessidade de conquistar uma certa parcela da população. Dessa forma, o outro é estigmatizado, desvalorizado e inferiorizado", acrescenta, dizendo que a briga entre as religiões se orienta por uma lógica capitalista.
Ele cita, como exemplo, a briga entre vertentes da religião budista no Brasil, em que houve briga jurídica para impedir a entrada de líderes religiosos no país. Além disso, um grupo reivindica um templo para si e o outro não quer devolvê-lo. "Não são só brigas simbólicas, mas também jurídicas."
Em sete anos, ONG recebeu 247.554 denúncias referentes a casos de intolerância religiosa em sites e em perfis de redes sociais
Para o professor aposentado de ética e teologia Ubirajara Calmon, da Universidade de Brasília (UnB), existe intolerância religiosa no Brasil, mas nada comparável ao que acontece em outros lugares do mundo, como na Europa. "Acredito que há poucas manifestações. O Brasil nunca chegou a uma situação como, por exemplo, a luta entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte", frisa.
O governo federal lançou no final de janeiro o Comitê de Combate à Intolerância Religiosa, que terá 20 membros oriundos do governo e da sociedade civil, sendo que o edital para a escolha dos integrantes será lançado em fevereiro ou março. O comitê vai ter o objetivo de promover o direito ao livre exercício das práticas religiosas e elaborar políticas de afirmação da liberdade religiosa, do respeito à diversidade de culto e da opção de não ter religião.
Internet
O mundo virtual reflete a situação do mundo real. De 2006 a 2012, a organização não-governamental SaferNet Brasil, através da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (CNDCC), recebeu 247.554 denúncias anônimas de páginas e perfis em redes sociais que continham teor de intolerância religiosa.
Muitas vezes uma página ou perfil é denunciado dezenas, centenas ou até milhares de vezes. Dessa forma, nesse período, 15.672 páginas foram reportadas por conter teor de intolerância religiosa. A tendência é de queda: de 2.430 páginas em 2006 para 1.453 em 2012.
Essa tendência não implica que o número de casos reportados de intolerância religiosa tenha diminuído. "Uma das razões é a classificação feita pelo usuário. Mesmo páginas reportadas por possuir conteúdo antissemita ou homofóbico têm, também, conteúdo referente à intolerância religiosa", explica Thiago Tavares, coordenador da CNDCC.
O maior problema é a impunidade. "Quanto maior a dificuldade de punir esses crimes, maior é a tendência de uma parcela da comunidade de internautas de querer utilizar a rede para essa finalidade. A impunidade é o combustível da criminalidade", declarou Tavares, afirmando ainda que percebe um crescimento, desde 2010, das manifestações de intolerância e também da radicalização do discurso de ódio na internet brasileira.
Não só anônimos postam comentários que envolvem intolerância religiosa ou até mesmo o ódio em sites e perfis nas redes sociais. "Vemos casos de autoridades religiosas também. Há uma certa permissividade, uma dificuldade de monitorar e efetivamente punir", diz Euclenio, da Seppir.
Governo prioriza investigação de crimes contra o patrimônio e não contra os direitos humanos, diz Tavares, da CNDCC
Tecnologia esbarra na falta de infraestrutura
Depois que a denúncia é recebida pela CNDCC, um sistema é acionado para coletar informações disponíveis na rede, como texto, fotos e demais informações do provedor onde a página está hospedada. Essas informações são compiladas em um banco de dados ao qual apenas a Polícia Federal e o Ministério Público (MP) têm acesso.
Assim, o MP pode iniciar uma investigação para descobrir quem foi o autor do crime. O poder judiciário notifica o provedor que hospeda a página para fornecer dados e indícios que possam ajudar os investigadores a identificar o usuário. "Mas isso nem sempre é possível. Aí o caso fica impune", diz Tavares.
Ele explica que muitas pessoas usam a retórica de que os crimes da internet não são punidos por causa da falta de uma lei específica. Mas na verdade, serve para mascarar o principal problema: a falta de estrutura. "De todos os 27 estados brasileiros, há somente oito delegacias especializadas. E elas funcionam de forma precária", frisa.
A Polícia Federal tem duas divisões que cuidam de crimes cibernéticos. Uma é a contra crimes financeiros, que tem boa estrutura e é bem aparelhada, sendo responsável por mais de 1.200 prisões nos últimos oito anos. Já a divisão relacionada com os direitos humanos tem estrutura muito deficiente. "É clara a prioridade do Estado brasileiro de investigar crimes contra o patrimônio e não os relacionados aos direitos humanos", conclui Tavares.
Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Francis França

Religiões africanas à mercê da intolerância

Religiões africanas à mercê da intolerância...



Vizinhos já chamaram a polícia, reclamando do barulho nas celebrações de templo no Cachambi
Foto: Marcelo Carnaval / O Globo
Vizinhos já chamaram a polícia, reclamando do barulho nas celebrações de templo no Cachambi Marcelo Carnaval / O Globo
RIO — Para o agente de saúde Luiz Paulo, de 26 anos, havia chegado a hora de um passo importante no candomblé. Decidiu fazer o santo, rito que significa nascer para o orixá. Por três meses, tinha de vestir apenas roupas brancas e manter a cabeça coberta. Mas encontrou no trabalho, uma clínica da família do Rio, os obstáculos. Sua gerente o proibiu de cumprir seu preceito e exigia que ele usasse seu uniforme. Luiz Paulo tentou negociar: propôs que usasse um boné branco, reduzindo ao máximo seus paramentos religiosos. Vieram sucessivas recusas. Enquanto isso, a gerente, evangélica, reunia sua equipe para orações, dizendo que o clima no grupo estava “pesado”. Pouco tempo depois, Luiz Paulo foi demitido. Resultado, acredita ele, de discriminação religiosa e homofóbica, uma vez que também diz ter sofrido preconceito por ser gay.
Tratado com discriminação no trabalho
No Rio de dezenas de credos, que receberá o Papa Francisco em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude, casos como o de Luiz Paulo ainda são frequentes. E atingem sobremaneira seguidores de religiões como candomblé e umbanda, como revela o Mapeamento das Casas de Religiões de Matriz Africana do Estado do Rio, feito pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema) da PUC-Rio. Das 847 casas pesquisadas desde 2008, mais da metade (430 delas) relatou episódios de intolerância religiosa contra seus centros ou seguidores nos últimos anos (o levantamento completo será apresentado em novembro, no livro “A presença do axé”).
Realidade corroborada por um relatório do recém-criado Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir, fundado em janeiro e ligado à Superintendência estadual de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos), que chegou à conclusão de que, de janeiro a maio deste ano, foi o candomblé o segmento religioso mais vulnerável à violação de seus direitos no estado.
— Antes de ser demitido, eu era tratado com discrminação da minha equipe. Os problemas se agravaram quando decidi fazer o santo. Nem minhas guias eu podia usar aparentes. Tinha de camuflá-las. Foram meses trabalhando sob pressão e olhares tortos — afirma o agente de saúde Luiz Paulo, uma das 38 pessoas que já procuraram o Ceplir, onde 10,53% dos atendimentos foram para adeptos do candomblé que buscavam orientações sobre seus direitos ou foram vítimas de intolerância religiosa no ambiente de trabalho, familiar ou na vizinhança.
Uma das mais respeitadas e conhecidas ialorixás do candomblé no Rio, Mãe Meninazinha de Oxum conta que um grupo já tentou invadir seu terreiro, em São João de Meriti, para “tirar o demônio” dali. Relata que constantemente sua caixa de correio aparece repleta de panfletos de igrejas evangélicas. Ao andar pelas ruas com suas vestimentas tradicionais, é repetidas vezes abordada por pessoas tentando convertê-la a outras religiões.
— Como todos no candomblé e na umbanda, sofremos principalmente com agressões verbais. Mas também há relatos de agressões físicas. São filhos de santo impedidos de usar seus colares, crianças agredidas nas escolas, casas invadidas... — conta Mãe Meninazinha, que comanda o terreiro Ilê Omolu Oxum desde 1968.
Em 2009, o terreiro de umbanda Centro Espírita Vovô Cipriano de Aruanda, em Caxias, teve o altar, as paredes de quartos de santo e vários objetos religiosos quebrados com uma marreta por um homem. Um ano antes, jovens invadiram e depredaram o Centro Cruz de Oxalá, no Catete. Já no barracão do sacerdote Alexandre Nunes Feijó, no Largo do Pechincha, na Zona Oeste, ele conta que voltava do Mercadão de Madureira, quando encontrou a frente de seu terreiro cercada por um grupo de parentes de um adolescente de 14 anos que fazia sua iniciação no candomblé — quando há um período de reclusão de duas a três semanas.
— A mãe, filha de santo, tinha autorizado. Também era uma vontade do menino. Cheguei, expliquei o que estava acontecendo, mas não houve conversa. Eles me acusaram de cárcere privado e chamaram a polícia — diz Alexandre.
A polícia também já foi chamada algumas vezes por vizinhos do Templo A Caminho da Paz, conta Amélia Martins, diretora de estudos do centro, no Cachambi. Todas as vezes, foram reclamações sobre o barulho. Só um dos muitos exemplos, segundo ela, de resistência à religião, que tem suas origens no Estado do Rio e cujo primeiro templo foi a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, de 1908, em São Gonçalo.
— Existe uma guerra silenciosa contra a umbanda. Isso tem feito alguns terreiros desaparecerem — afirma Amélia, revelando outra consequência da discriminação. — Muitos de nossos médiuns, por receio, escondem a religião no trabalho, no ambiente escolar e até mesmo familiar.
Sem coragem de contar para a mãe
É o caso do jovem Rodrigo D’Oxum, de 26 anos, frequentador do Centro Espírita Cabana das Almas, em Nova Iguaçu. Aos 18 anos, ele ingressou na umbanda. Mas ainda hoje não contou à família, cuja mãe, é “católica fervorosa”.
— Quando decidi pela umbanda, ainda morava com ela. E tenho certeza de que se criaria uma situação muito chata em casa — diz Rodrigo, que conta ainda ter medo de ser agredido ao fazer trabalhos em encruzilhadas à noite.
Cerca de 80% dos ataques contra religiões de matriz africana acontecem em ruas e parques. A professora do Departamento de Ciência Social da PUC-Rio e coordenadora geral do Nirema, Sonia Giacomino, destaca que, na maior parte dos casos, os adeptos dessas religiões são os alvos. Mas há também casos de terreiros apedrejados. Mais de 80% dos agressores, ainda segundo o mapeamento, são vizinhos dos centros e grupos evangélicos. Mas Sonia alerta que não se pode generalizar, porque eles não representam o conjunto dos evangélicos.
Superintendente estadual de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos, órgão ligado à Secretaria estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Cláudio Nascimento observa ainda que a discriminação atinge outros grupos:
— Há, por exemplo, crianças muçulmanas perseguidas dentro da escola. Ou perseguição a integrantes de movimentos agnóstico e ateísta.
O Ceplir faz atendimento inicial pelo telefone 2334-9550 ou em sua sede, na Central do Brasil. Um grupo de 20 pessoas de credos diferentes trabalha agora em propostas de políticas públicas contra a intolerância religiosa. No dia 30 de maio, será apresentado à consulta pública o Plano Estadual de Enfrentamento da Intolerância Religiosa, o primeiro em âmbito estadual no país.


Mais da metade das casas de umbanda ou candomblé do estado já sofreu algum tipo de discriminação

CRÉDITOS: O GLOBO | FONTES: CEPLIR E NÚCLEO INTERDISCIPLINAR DE REFLEXÃO E MEMÓRIA AFRODESCENDENTE, DA PUC-RIO


 em http://oglobo.globo.com/rio/religioes-africanas-merce-da-intolerancia-8471972#ixzz2aLQknuCm 
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