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domingo, 8 de setembro de 2013

Crime e preconceito: mães e filhos de santo são expulsos de favelas por traficantes evangélicos

Crime e preconceito: mães e filhos de santo são expulsos de favelas por traficantes evangélicos

A roupa branca no varal era o único indício da religião da filha de santo, que, até 2010, morava no Morro do Amor, no Complexo do Lins. Iniciada no candomblé em 2005, ela logo soube que deveria esconder sua fé: os traficantes da favela, frequentadores de igrejas evangélicas, não toleravam a “macumba”. Terreiros, roupas brancas e adereços que denunciassem a crença já haviam sido proibidos, há pelo menos cinco anos, em todo o morro. Por isso, ela saía da favela rumo a seu terreiro, na Zona Oeste, sempre com roupas comuns. O vestido branco ia na bolsa. Um dia, por descuido, deixou a “roupa de santo” no varal. Na semana seguinte, saía da favela, expulsa pelos bandidos, para não mais voltar.
— Não dava mais para suportar as ameaças. Lá, ser do candomblé é proibido. Não existem mais terreiros e quem pratica a religião, o faz de modo clandestino — conta a filha de santo, que se mudou para a Zona Oeste.
A situação da mulher não é um ponto fora da curva: já há registros na Associação de Proteção dos Amigos e Adeptos do Culto Afro Brasileiro e Espírita de pelo menos 40 pais e mães de santo expulsos de favelas da Zona Norte pelo tráfico. Em alguns locais, como no Lins e na Serrinha, em Madureira, além do fechamento dos terreiros também foi determinada a proibição do uso de colares afro e roupas brancas. De acordo com quatro pais de santo ouvidos pelo EXTRA, que passaram pela situação, o motivo das expulsões é o mesmo: a conversão dos chefes do tráfico a denominações evangélicas.
Atabaques proibidos na Pavuna
A intolerância religiosa não é exclusividade de uma facção criminosa. Distante 13km do Lins e ocupada por um grupo rival, o Parque Colúmbia, na Pavuna, convive com a mesma realidade: a expulsão dos terreiros, acompanhados de perto pelo crescimento de igrejas evangélicas. Desinformada sobre as “regras locais”, uma mãe de santo tentou fundar, ali, seu terreiro. Logo, recebeu a visita do presidente da associação de moradores que a alertou: atabaques e despachos eram proibidos ali.
—Tive que sair fugida, porque tentei permanecer, só com consultas. Eles não gostaram — afirma.
A situação já é do conhecimento de pelo menos um órgão do governo: o Conselho Estadual de Direitos do Negro (Cedine), empossado pelo próprio governador. O presidente do órgão, Roberto dos Santos, admite que já foram encaminhadas denúncias ao Cedine:
— Já temos informações desse tipo. Mas a intolerância armada só pode ser vencida com a chegada do estado a esses locais, com as UPPs.
O deputado estadual Átila Nunes (PSL) fez um pedido formal, na última sexta-feira, para que a Secretaria de Segurança investigue os casos.
— Não se trata de disputa religiosa mas, sim, econômica. Líderes evangélicos não querem perder parte de seus rebanhos para outras religiões, e fazem a cabeça dos bandidos — afirma.
Nas favelas, os ‘guerreiros de Deus’
Fernando Gomes de Freitas, o Fernandinho Guarabu, chefe do tráfico no Morro do Dendê, ostenta, no antebraço direito, a tatuagem com o nome de Jesus Cristo. Pela casa, Bíblias por todos os lados. Já em seus domínios, reina o preconceito: enquanto os muros da favela foram preenchidos por dizeres bíblicos, os dez terreiros que funcionavam no local deixaram de existir.
Guarabu passou a frequentar a Assembleia de Deus Ministério Monte Sinai em 2006 e se converteu. A partir daí, quem andasse de branco pela favela era “convidado a sair”. Os pais de santo que ainda vivem no local não praticam mais a religião.
A situação se repete na Serrinha, ocupada pela mesma facção. No último dia 22, bandidos passaram a madrugada cobrindo imagens de santos nos muros da favela. Sobre a tinta fresca, agora lê-se: “Só Jesus salva”.
O babalaô Ivanir dos Santos, representante da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), criada justamente após casos de intolerância contra religiões afro-brasileiras em 2006, afirma que os casos serão discutido pelo grupo, que vai pressionar o governo e o Ministério Público para que a segurança do locais seja garantida e os responsáveis pelo ato sejam punidos. “Essas pessoas são criminosas e devem ser punidas. Cercear a fé é crime”, diz o pai de santo.
Lei mais severa
Desde novembro de 2008, a Polícia Civil considera como crimes inafiançáveis invasões a templos e agressões a religiosos de qualquer credo a Lei Caó. A partir de então, passou a vigorar no sistema das delegacias do estado a Lei 7.716/89, que determina que crimes de intolerância religiosa passem a ser respondidos em Varas Criminais e não mais nos Juizados Especiais. Atualmente, o crime não prescreve e a pena vai de um a três anos de detenção.
Filha de santo, que foi expulsa do Lins: ‘Não suportava mais fingir ser o que não era’.
— Me iniciei no candomblé em 2005. A partir de minha iniciação, comecei a ter problemas com os traficantes do Complexo do Lins. Quando cheguei à favela de cabeça raspada, por conta da iniciação, eles viravam o rosto quando eu passava. Com o tempo, as demostrações de intolerância aumentaram. Quando saía da favela vestida de branco, para ir ao terreiro que frequento, eles reclamavam. Um dia, um deles veio até a minha casa e disse que eu estava proibida de circular pela favela com aquelas “roupas do demônio”. As ameaças chegaram ao ponto de proibirem que eu pendurasse as roupas brancas no varal. Se eu desrespeitasse, seria expulsa de lá. No fim de 2010, dei um basta nisso. Não suportava mais fingir ser o que eu não era e saí de lá.
Mãe de santo há 30 anos, expulsa da Pavuna: ‘Disseram que quem mandava ali era o ‘Exército de Jesus”.
— Comprei, em 2009, um terreno no Parque Colúmbia, na Pavuna. No local,. não havia nada. Mas eu queria fundar um terreiro ali e comecei a construir. No início, só fazia consulta, jogava búzios e recebia pessoas. Não fazia festas nem sessões. Não andava de branco pelas ruas nem tocava atabaque, para não chamar a atenção. Um dia, o presidente da associação de moradores foi até o local e disse que o tráfico havia ordenado que eu parasse com a “macumba”. Ali, quem mandava na época era a facção de Acari. Já era mais de santo há 30 anos e não acreditei naquilo. Fui até a boca de fumo tentar argumentar. Dei de cara com vários bandidos com fuzis, que disseram que ali quem mandava era o “Exército de Jesus”. Disse que tinha acabado de comprar o terreno e que não iria incomodar ninguém. Dias depois, cheguei ao terreiro e vi uma placa escrito “Vende-se” na porta — eles tomaram o terreno e o puseram a venda. Não podia fazer nada. Vendi o terreno o mais rapidamente possível por R$ 2 mil e fui arrumar outro lugar.

Fonte: O Globo

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL EM FOTOS REAIS INÉDITAS

A ESCRAVIDÃO NO BRASIL EM FOTOS REAIS INÉDITAS

“O pior é um preto racista” ...


“O pior é um preto racista” quando apontam o oprimido como seu próprio opressor

Na cidade de Charlotte, Estados Unidos, a pastora negra Makeda Pennycooke pediu para que “apenas pessoas brancas” trabalhassem na recepção de fiéis, alegando a “importância da primeira impressão” e justificando que a igreja quer “o melhor do melhor nas portas da frente”. Lamentável! Mas não vou entrar na discussão de como instituições religiosas cristãs perpetuam e reforçam o racismo, o machismo e outros ismos no mundo.
Nas últimas semanas, o que eu ouvi e li — inclusive nos comentários dessa matéria — sobre como existem “negros racistas” que reproduzem discursos e estereótipos também racistas não está nos hieróglifos egípcios (muita gente não sabe, mas o Egito fica no continente africano). Concordo que há pessoas negras que reproduzam discursos racistas. Infelizmente, é esperado que elas existam dada a configuração escravocrata e racialmente desigual na qual se construiu o Brasil.
“Peraí, mas a pastora não é brasileira”, você poderia afirmar. Correto! Ela não é, mas consigo visualizar essa cena acontecendo explicitamente aqui, em terras tropicais, num templo neopetencostal — e de modo mais mascarado em outras instituições religiosas ou não. Por mais que as relações étnico-raciais no Brasil e nos EUA tenham se configurado de forma diferente, a reprodução de discursos racistas por pessoas negras é algo que acontece nas duas nações. O que não se pode afirmar é que essas pessoas negras são racistas. Elas não são. Afinal, não há relação de ganho ou de benefícios quando um negro oprime a si mesmo ou ao seu par. Explico melhor.
Lembremos que quem criou esse cenário de opressão não foi o povo preto. Mas sim os brancos que, durante séculos, estruturaram tão bem a inferiorização do negro a ponto de ele mesmo estigmatizar seu par e seu grupo. Um exemplo declarado dessa construção é a carta-tutorial escrita em 1972 por Willy Lynch, proprietário de escravos no Caribe conhecido por manter controle absoluto sobre os corpos negros que foram colocados em suas mãos. O documento ensina como deixar os escravos submissos e dominados “Verifiquei que entre os escravos existem uma série de diferenças. Eu tiro partido destas diferenças, aumentando-as. Eu uso o medo, a desconfiança e a inveja para mantê-los debaixo do meu controle (…) Deveis usar os escravos mais velhos contra os escravos mais jovens e os mais jovens contra os mais velhos. Deveis usar os escravos mais escuros contra os mais claros e os mais claros contra os mais escuros”. Por fim, o autor completa “Se fizerdes intensamente uso delas por um ano o escravo permanecerá completamente dominado. O escravo depois de doutrinado desta maneira permanecerá nesta mentalidade passando-a de geração em geração”.
Foram (e são) séculos de doutrinação e mentalidade racistas passadas de geração em geração. No campo simbólico, os discursos e estereótipos racistas são algumas das ferramentas desse processo de dominação – ambas contribuem para delimitar e limitar o espaço do povo negro na sociedade. Elas (essas ferramentas) reduzem o indivíduo-alvo a meia dúzia de características que vão, além de estigmatizá-lo, determinar o lugar onde ele pode se construir enquanto ser social. Isto é, dizer o que o oprimido deve ou não ser, como deve ou não se portar e até onde pode chegar. No caso da pastora, pessoas negras não podem ser recepcionistas, não podem estar na fachada da igreja porque isso não é o melhor. O “melhor do melhor” é sinônimo de ser branco. No Brasil não é diferente: nas capas de revistas não há preto, nas novelas não há preto, nas dirigências de órgãos e instituições não há pretos... Também porque aqui branco é sinônimo de “melhor do melhor” e esse é quem tem que estar nos espaços de destaques, de frente e de contato com o outro, enquanto o preto fica à margem, nos bastidores.

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Imagem de pichação racista na UFBA “Negro só se for na cozinha do RU, cotas não!”

É preciso entender que o processo de dominação foi tão bem introjetado que os próprios oprimidos podem sim reproduzir e contribuir para a opressão que o dominante construiu, mas não tiram benefícios como os reais opressores. A pastora Pennycooke não é racista, tal como os negros apontados como racistas nas últimas semanas. Para os tacharem de racistas, seria preciso que houvesse um dominante que fosse beneficiado às custas do dominado, como o proveito que branco tira do negro que ele historicamente inferiorizou. No caso apresentado, Pennycooke, enquanto pessoa negra, não teve ganho para si mesma ou para o grupo étnico ao qual faz parte. Muito pelo contrário: ela prestou um desserviço, contribuiu para a legitimação de que o negro não deve ocupar certas posições e reforçou a suposta supremacia branca em relação a outras etnias que vive no imaginário da maioria da sociedade.
Isso o que Pennycoke fez e, com certeza, que outros negros fazem não deve servir de estopim para racistas legitimarem seu discurso a partir do “não estou sendo preconceituoso se o próprio negro é diz/faz isso ou aquilo”Mas deve sim ser desconstruído; entendido como um sistema que colocou suas vítimas contra elas próprias, fazendo-as comprarem os discursos do seu algoz; e ensinado o quão prejudicial é para o povo negro a reprodução de falas racistas.
E vou além: para os que só veem “negros sendo racistas”, afirmo que, nesse exclusivo apontamento do oprimido como seu próprio opressor, há mais um tentativa desesperada de se livrar da responsabilidade pelo próprio racismo e manter o status quó de opressão do que fazer um mundo menos intolerante — não cola!

Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no //medium.com/@higorfaria"
fonte portal geledes

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