Em Outubro de 1991, no Estado do Rio
de Janeiro, por ocasião do I Encontro Nacional de Entidades Negras, religiosos
de matriz africana de todos os Estados da Federação reúnem e cria o CENARAB –
Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira, entidade sem
fins lucrativos, que tem como objetivo congregar e organizar religiosos de
matriz africana, organizando as nossas casas para o embate à intolerância
religiosa.
A
história do CENARAB se confunde com a história da militância negra brasileira,
na busca de um país livre de toda e qualquer forma de racismo, o CENARAB vem ao
longo destes anos se pautando em uma agenda comprometida com a liberdade, com a
ética e a participação organizada dos setores que representa, apresentando
propostas políticas públicas, organizativas e inclusivas deste setor
historicamente excluído da agenda política do país. A história do Brasil é
marcada pelo racismo, a discriminação racial e o CENARAB é reconhecidamente uma
entidade aguerrida na construção de um país democrático, que respeite sua
pluralidade de formação.
A
intolerância religiosa é uma das formas mais cruéis para a expressão do
racismo, pois lida diretamente com a expropriação dos direitos inalienáveis do
cidadão, busca retirar deste sua humanidade e projetar em sua realidade
confissões e dogmas religiosos que não pertencem às tradições de matriz
africana.
O
CENARAB tem como papel organizar os/as sacerdotes, sacerdotisas de matriz
africana investindo em sua formação, preparando-os para lidar com a realidade
de uma sociedade que não os reconhece em sua plenitude. Organizar o CENARAB é
assegurar aos milhares de religiosos e simpatizantes das religiões de matriz
africana, uma representatividade expressiva na luta contra a intolerância
religiosa.
Nos
15 anos que nos separam da data de criação do CENARAB, uma história muito
bonita foi construída, uma história que mistura emoção, gratidão e desejo de
ver nossas casas/templos reconhecidas por sua importância e papel social. Hoje,
nos encontramos com problemas concretos no que diz respeito a nossa legalidade,
mas não tem sido este fato impedimento para que continuemos a propor ações
concretas que de fato visem colocar nossos templos no seu devido lugar junto à
sociedade.
Somos
milhares de sacerdotes e sacerdotisas de matriz africana espalhados por este
país continente, cujos direitos constitucionais não são considerados, nossos
templos são de propriedade privada para uso coletivo e ainda assim sofremos
toda sorte de discriminação e intolerância religiosa. A nossa história é a
história da resistência, é a história de uma gente que busca a cidadania plena
independente de seu credo e de sua fé. E o CENARAB tem um papel histórico nesta
política de afirmação e de auto estima.
As
diversidades e a realidade brasileira em muito contribuiu para o
desmantelamento da direção nacional do CENARAB, visto ser esta diversificada e
representada por militantes nas diversas regiões brasileiras. As últimas
tentativas de reunir a direção nas
esferas
e propiciar um momento para a troca de experiências assegurando a organização e
fortalecimento do CENARAB, significa assegurar a continuidade de nossa atuação
independente do cenário político que se desenhará a partir das eleições de
outubro.
Hoje
somos reconhecidos pelo Estado brasileiro enquanto espaços públicos para a
implementação de políticas públicas, o que significa um avanço. Somos milhares
de templos espalhados pelo país, cuja existência depende exclusivamente da
vontade individual, onde estes são de propriedade privada para uso coletivo,
contrastando com uma realidade totalmente diferente dos templos das demais
religiões que se estruturaram em nosso país. Aliás, é sabido por todos que o
Estado brasileiro em vários momentos de sua história se confundiu com
religiões, tendo assimilado dogmas e paradigmas das religiões cristãs, tendo
inclusive patrocinado o tráfico transatlântico e a escravidão de milhões de
negros brasileiros, sob a bandeira desta fé.
Os
negros são mais de 50% da população.
Assim
estaremos preparando os sacerdotes de matriz africana dos diversos Estados
brasileiros para o embate diário, aprofundando o debate sobre as diversas
formas como a intolerância religiosa no país vem afetando nossa prática
religiosa.
Discutir
sobre o papel do Estado e a necessidade de implementação de políticas públicas
que nos assegure os direitos constitucionais é uma necessidade emergencial,
pois, o Estado brasileiro sempre nos negou a importância de nossa contribuição
e participação na construção da sociedade brasileira. A partir deste debate
estaremos estabelecendo um cronograma de atuação das lideranças religiosas na
luta contra a intolerância religiosa.
Garantir
a reunião destas lideranças, buscando organizar esta entidade que
historicamente tem se destacado na organização dos religiosos de matriz
africana, é fundamental para a existência de um Estado e um país mais justo e
democrático. Estas lideranças têm muito a contribuir para a formatação de uma
sociedade que respeite a pluralidade e diversidade de sua formação.
Natal - Rio Grande do Norte , Julho de 2006
Makota Célia Gonçalves Souza
Coordenação Nacional do CENARAB
Omo Orixa Fernandes Jose Olufon
Coordenação Colegiada do CENERAB RN
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