A Ir. Elizabeth Johnson, CSJ é uma ilustre professora de Teologia da universidade jesuíta Fordham, de Nova York. Ela também é autora de um livro que a Comissão de Doutrina dos bispos norte-americanos denunciou, na última semana, por conter "imprecisões, ambiguidades e erros". Quest for the Living God foi publicado em 2007. Agora, sua editora, Continuum, estão vendo um ressurgimento do interesse – e das vendas – do livro.
A popular visão deísta de Deus
Há um território assentado a partir do qual a busca do Deus vivo se estabelece em nossos dias. Herdada dos séculos recentes, essa visão prevê Deus a partir do modelo de um monarca, no pico da pirâmide do ser. Sem consideração a Cristo ou ao Espírito, ela enfoca o que a teologia trinitária chama de "primeira pessoa", um único indivíduo poderoso que habita no alto, governando o cosmos e julgando a conduta humana.
Mesmo quando esse Ser Supremo é retratado com uma atitude benevolente, o que o melhor da teologia faz, "Ele" – pois é sempre o homem dominante que defende essa ideia – está essencialmente remoto.
Às vezes, ele intervém para afetar as leis da natureza e opera milagres, às vezes não. Embora ele ame o mundo, ele permanece incontaminado pela sua desorganização. E esse distante legislador senhorial sempre se encontra no cume do poder hierárquico, reforçando estruturas de autoridade na sociedade, na Igreja e na família.
Sem estereótipos indevidos, é justo dizer que essa é a imagem que prevalece no discurso público comum e na mídia da cultura ocidental. Ela oferece o realce para o ateísmo moderno, que nega que tal Ser Supremo exista (p. 14).
A Trindade e a Igreja
No trabalho pioneiro God for us [Deus para nós], Catherine LaCugna (...) desenha uma parábola que começa no topo da página com o Deus oculto no céu, que desce a página ao longo do tempo e faz algumas voltas para voltar até o topo da página novamente, atraindo todas as coisas de volta para a comunhão divina.
Isso delineia um verdadeiro diagrama da Trindade, pois a revelação de "Deus para nós" nos dá fundamentos para pensar que não há um Deus simplesmente existente que não seja ao mesmo tempo relacional. Porque o fato de Deus "existir" significa "estar em relação".
Consequentemente, uma análise mais aprofundada da vida íntima da Trindade à parte da preocupação salvífica pelo mundo é uma distração. Afirmações metafísicas sobre a vida íntima de Deus, se forem necessárias, devem funcionar diretamente com relação à obra redentora de Deus. Senão, a feliz verdade trazida pelo monoteísmo trinitário é traída. (p. 215)
Atitudes e práticas profundamente prejudiciais têm surgido na Igreja e na sociedade porque um grupo se imagina superior a outro. A estratificação resultante do poder, com alguns dominante e alguns subordinados, molda as instituições do racismo, do sexismo, do clericalismo eclesiástico e da destruição da terra, entre outros pecados perniciosos.
As ideias revitalizadas da Trindade esclarecem que, longe de existir como um monarca que governa em um esplendor isolado e que domina sobre os outros, o Deus vivo é uma comunhão transbordante de amor que se entrega. A importância prática dessa proposta reside na forma como ela expõe a perversão do patriarcado, do racismo e de outros padrões pecaminosos.
Como essas rupturas na comunidade opõem-se totalmente à própria forma de Deus se relacionar, as pessoas de fé têm razões de sobra para se comportar de outra forma.
A identidade da Igreja e da missão centram-se nesse ponto. Chamada a ser sacramento da salvação do mundo, a Igreja deve ser um símbolo vivo da comunhão divina, que se volta para o mundo por meio de um amor inclusivo e compassivo. Apenas uma comunidade de pessoas iguais relacionadas em profunda mutualidade, derramando louvores a Deus e cuidados ao mundo em necessidade, apenas tal Igreja corresponde ao Deus trino que ela se propõe a servir (p. 223).
Salvação e outras religiões
De uma forma problemática, a teologia frequentemente subordinou a missão do Espírito a Cristo, ligando muito estritamente, assim, a salvação à Igreja, que leva adiante a missão de Cristo no mundo. Na verdade, a Palavra de Deus crucificada e ressuscitada e a Igreja que proclama a misericórdia de Deus nEle são normativas e constitutivas para a salvação de todos.
Em Jesus Cristo, a atividade salvífica de Deus alcança a sua maior intensidade na história concretamente. Mas a manifestação da presença e da atividade de Deus nas religiões não pode ser limitada ao que foi revelado em Jesus Cristo e proclamado pela Igreja. Embora tal manifestação nunca seria contraditória com a revelação cristã – Deus é fiel e não tem duas caras –, ela pode ser diferente.
Michael Amaladoss, da Índia, coloca desta forma: "O Espírito é o Espírito de Jesus. Mas ele não repete simplesmente o que Jesus fez na comunidade cristã. Caso contrário, as outras religiões não seriam diferentes...".
Por muitos séculos, a teologia rejeitou outras religiões como invenções pagãs ou se dignou, no máximo, a considerá-las como formas deficientes que as pessoas tinham para cambalear rumo ao divino. O encontro dialógico atual com as outras religiões leva a uma visão diferente. Assumindo que a presença real da graça e da verdade só pode ter uma origem divina, o religioso pode ser visto como obra de Deus.
Nelas, vemos um primeiro vislumbre da generosidade transbordante do Deus vivo, que foi derramada sobre as pessoas abandonadas, mas que concedeu o amor divino a todas as culturas.
Essa é a graça do nosso tempo: encontrar múltiplas tradições religiosas amplia o horizonte em que entrevemos a plenitude amorosa de Deus. Assim, somos capacitados a nos aproximar do mistério cada vez mais profundamente. Nas palavras de Jacques Dupuis, "pode-se encontrar muito mais verdade e graça divinas em toda a história das relações de Deus com a humanidade do que simplesmente na tradição cristã" (p. 162-163).
Há um território assentado a partir do qual a busca do Deus vivo se estabelece em nossos dias. Herdada dos séculos recentes, essa visão prevê Deus a partir do modelo de um monarca, no pico da pirâmide do ser. Sem consideração a Cristo ou ao Espírito, ela enfoca o que a teologia trinitária chama de "primeira pessoa", um único indivíduo poderoso que habita no alto, governando o cosmos e julgando a conduta humana.
Mesmo quando esse Ser Supremo é retratado com uma atitude benevolente, o que o melhor da teologia faz, "Ele" – pois é sempre o homem dominante que defende essa ideia – está essencialmente remoto.
Às vezes, ele intervém para afetar as leis da natureza e opera milagres, às vezes não. Embora ele ame o mundo, ele permanece incontaminado pela sua desorganização. E esse distante legislador senhorial sempre se encontra no cume do poder hierárquico, reforçando estruturas de autoridade na sociedade, na Igreja e na família.
Sem estereótipos indevidos, é justo dizer que essa é a imagem que prevalece no discurso público comum e na mídia da cultura ocidental. Ela oferece o realce para o ateísmo moderno, que nega que tal Ser Supremo exista (p. 14).
A Trindade e a Igreja
No trabalho pioneiro God for us [Deus para nós], Catherine LaCugna (...) desenha uma parábola que começa no topo da página com o Deus oculto no céu, que desce a página ao longo do tempo e faz algumas voltas para voltar até o topo da página novamente, atraindo todas as coisas de volta para a comunhão divina.
Isso delineia um verdadeiro diagrama da Trindade, pois a revelação de "Deus para nós" nos dá fundamentos para pensar que não há um Deus simplesmente existente que não seja ao mesmo tempo relacional. Porque o fato de Deus "existir" significa "estar em relação".
Consequentemente, uma análise mais aprofundada da vida íntima da Trindade à parte da preocupação salvífica pelo mundo é uma distração. Afirmações metafísicas sobre a vida íntima de Deus, se forem necessárias, devem funcionar diretamente com relação à obra redentora de Deus. Senão, a feliz verdade trazida pelo monoteísmo trinitário é traída. (p. 215)
Atitudes e práticas profundamente prejudiciais têm surgido na Igreja e na sociedade porque um grupo se imagina superior a outro. A estratificação resultante do poder, com alguns dominante e alguns subordinados, molda as instituições do racismo, do sexismo, do clericalismo eclesiástico e da destruição da terra, entre outros pecados perniciosos.
As ideias revitalizadas da Trindade esclarecem que, longe de existir como um monarca que governa em um esplendor isolado e que domina sobre os outros, o Deus vivo é uma comunhão transbordante de amor que se entrega. A importância prática dessa proposta reside na forma como ela expõe a perversão do patriarcado, do racismo e de outros padrões pecaminosos.
Como essas rupturas na comunidade opõem-se totalmente à própria forma de Deus se relacionar, as pessoas de fé têm razões de sobra para se comportar de outra forma.
A identidade da Igreja e da missão centram-se nesse ponto. Chamada a ser sacramento da salvação do mundo, a Igreja deve ser um símbolo vivo da comunhão divina, que se volta para o mundo por meio de um amor inclusivo e compassivo. Apenas uma comunidade de pessoas iguais relacionadas em profunda mutualidade, derramando louvores a Deus e cuidados ao mundo em necessidade, apenas tal Igreja corresponde ao Deus trino que ela se propõe a servir (p. 223).
Salvação e outras religiões
De uma forma problemática, a teologia frequentemente subordinou a missão do Espírito a Cristo, ligando muito estritamente, assim, a salvação à Igreja, que leva adiante a missão de Cristo no mundo. Na verdade, a Palavra de Deus crucificada e ressuscitada e a Igreja que proclama a misericórdia de Deus nEle são normativas e constitutivas para a salvação de todos.
Em Jesus Cristo, a atividade salvífica de Deus alcança a sua maior intensidade na história concretamente. Mas a manifestação da presença e da atividade de Deus nas religiões não pode ser limitada ao que foi revelado em Jesus Cristo e proclamado pela Igreja. Embora tal manifestação nunca seria contraditória com a revelação cristã – Deus é fiel e não tem duas caras –, ela pode ser diferente.
Michael Amaladoss, da Índia, coloca desta forma: "O Espírito é o Espírito de Jesus. Mas ele não repete simplesmente o que Jesus fez na comunidade cristã. Caso contrário, as outras religiões não seriam diferentes...".
Por muitos séculos, a teologia rejeitou outras religiões como invenções pagãs ou se dignou, no máximo, a considerá-las como formas deficientes que as pessoas tinham para cambalear rumo ao divino. O encontro dialógico atual com as outras religiões leva a uma visão diferente. Assumindo que a presença real da graça e da verdade só pode ter uma origem divina, o religioso pode ser visto como obra de Deus.
Nelas, vemos um primeiro vislumbre da generosidade transbordante do Deus vivo, que foi derramada sobre as pessoas abandonadas, mas que concedeu o amor divino a todas as culturas.
Essa é a graça do nosso tempo: encontrar múltiplas tradições religiosas amplia o horizonte em que entrevemos a plenitude amorosa de Deus. Assim, somos capacitados a nos aproximar do mistério cada vez mais profundamente. Nas palavras de Jacques Dupuis, "pode-se encontrar muito mais verdade e graça divinas em toda a história das relações de Deus com a humanidade do que simplesmente na tradição cristã" (p. 162-163).
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