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terça-feira, 19 de abril de 2011
A MAE DOS 9 ORUNS
A Mãe dos 9 Oruns
A Mãe dos 9 Oruns
A origem do culto a Oyá estaria entre os Nupe, povo que vive na atual Nigéria. Ali, o culto era um ritual de purificação e é a característica conservada de limpar e purificar, que diferencia Oyá dos demais Orixás. É nos versos de Ifá que podemos encontrar relatos sobre o surgimento deste Orixá “com um pano vermelho sobre a cabeça” e também como deu à luz o primeiro ancestral que retorna, o qual, por sua vez, se une à uma misteriosa mãe para produzir trigêmeos. As gerações subseqüentes destes trigêmeos, formando três famílias, tornaram-se os guardiões da prática do Culto Egungun. De alguma forma Oyá está ligada às vestimentas dos Egunguns que representam capas protetoras aliadas ao mistério, com significado muito semelhante ao das franjas de mariwo. Uma faixa vermelha indica sempre, a presença do poder feminino.
É Oyá que protege e defende as mulheres no mercado e seu poder permite que efetuem bons negócios e transações vantajosas. De alguma forma, este atributo está ligado ao seu poder de Ajé, sempre ocultando dos olhos invejosos, os lucros obtidos. A escritora Judith Gleason (Oyá) afirma que: “... existe uma roupa Egungun denominada ”Garanta-que-eu-viva-muito” cuja origem está ligada à lenda que se segue. “Agan, irmão mais velho de Egungun, discutiu com ele sobre essa roupa – o legado de seu pai. Tendo perdido a posse do que considerava propriedade sua por direito, Agan jurou que, se visse alguém usando a roupa, a rasgaria. Um dia veio Oyá vestida com ela. Agan a atacou, mas Oyá resistiu e venceu a luta. Aliando-se a Egungun, Oyá tornou-se líder do culto dos mascarados onde recebeu o título de “Agan-feminina-que-maneja-a-espada”. Como resultado Agan não tem roupa, sendo apenas uma voz “. Após haver oferecido uma oferenda composta de nove chicotes no lado direito, nove no lado esquerdo e nove galos capazes de cantar, Oyá deveria dirigir-se ao mercado carregando a sua oferenda e lá chegar com a cabeça inteiramente coberta com um pano vermelho.
As pessoas, que nunca haviam visto nada semelhante, ficaram admiradas e curvaram-se em sinal de reverência à estranha aparição. O tempo passou e Oyá deu à luz nove filhos que gostavam de brincar com panos sobre a cabeça, embora a mãe recomendasse que não agissem desta forma. Cobertos de panos os filhos de Oyá iam ao mercado onde divertiam-se assustando as pessoas. Como castigo por sua desobediência, as crianças foram acometidas de uma doença misteriosa e, para obter meios de curá-los, Oyá foi consultar Ifá. Um novo procedimento foi recomendado. Um galo deveria ser sacrificado sobre cada pano e a mãe deveria, a partir de então, permitir que os filhos continuassem indo ao mercado cobertos por eles. Tudo foi feito e, quando seus filhos voltaram ao mercado, Oyá recomendou que cada um deles levasse um chicote denominado “ìsán ni òpáku” – (Vareta da morte). Então Oyá disse: “O que aconteceu é longo (é gùn)”, o que significava dizer que aquilo deveria ser perpetuado. Por isto, no culto Egungun africano Oyá porta o título de “L’Aye Wu Egungun Ode Orisá Oyá”.
À medida que o conceito religioso de Oyá evoluiu, a Orixá deixou de ser uma mulher-feiticeira qualquer, adquirindo o complexo status de “Deusa da Morte”, dotada do mesmo poder vital (o poder de Ajé) comum a todas as mulheres. Oya é também a dona do mercado. As mulheres que exercem atividades comerciais adquirem importância e independência econômica, deixando de serem vistas como simples máquinas-de-fazer-filhos. É Oya quem as impele à tal atividade. Na África existe um templo de Oyá mantido por mulheres sob o comando de “Onirá” - a grã-sacerdotisa - onde uma grande máscara representando-a é guardada. Por trás dos panos coloridos que adornam a grande máscara existe a gravura de um caçador em tamanho maior que o natural. Além do mercado, Oyá manifesta-se também na floresta ou nas matas. Nestes locais assume a forma de um animal, o búfalo africano, que incorpora diversas características associadas à Oyá.
Uma belíssima história de Ifá relata as transformações do búfalo em mulher e da mulher em Orixá. A lenda conta que Oyá, na forma de búfalo, apaixona-se por Ogun e, para poder casar-se com ele, metamorfoseia-se em mulher. Embora os búfalos machos adultos sejam de cor marrom-escuro, quase negros, as fêmeas são avermelhadas. Coincidentemente, as mulheres africanas costumam pintar a pele de vermelho de forma a tornarem-se mais atraentes aos homens. Vê-se ai, mais uma vez, Oyá deusa-búfalo, interagindo com o ser humano. Na floresta, a Deusa da Morte e a Deusa da Caça fundem-se e tornam-se idênticas. Aí, sua responsabilidade é preservar a vida do caçador providenciando a morte da caça. É com aparência de caçador que Oyá, a deusa implacável, assume a iniciativa de um processo onde o caçador representa o herói que elimina a besta selvagem e perigosa. Oyá vagueia pela floresta ao lado de Oxóssi, o caçador por excelência, e ali, revela-se como morte representada pelos apetrechos de caça e expugnada pelos amuletos dos caçadores. Oyá é, no entanto, feiticeira das mais poderosas. É apaixonada pelos caçadores e respira fundo na floresta sob o cadáver do animal abatido. Os caçadores africanos possuem um amuleto chamado “dibi” que os torna invisíveis aos animais selvagens. Esse amuleto possui o “axé” originado de “Do Kainissa” – a mulher-búfalo-feiticeira.
Antes de unir-se a Xangô, Oyá foi mulher de Ogun, tendo trocado a aparência rude de seu marido ferreiro pela elegância e o garbo de Xangô. Perseguida em sua fuga com o novo amor, Oyá foi alcançada por Ogun que travou com ela um combate com varas mágicas por ele mesmo confeccionadas. Como resultado desta luta Ogun foi cortado em sete pedaços e sua mulher infiel foi seccionada em nove partes. O número nove está ligado a Oyá tendo dado origem ao seu nome Iyansan. Uma outra etimologia para o nome Iyansan, está ligada à lenda que narra de que forma, depois de seguir as orientações de Ifá para que pudesse ter filhos, deu à luz nove rebentos.
Oyá recebeu, de Olorun, a missão de transformar e renovar a natureza através do vento, que ela sabe manipular. O vento nem sempre é tão forte, mas, algumas vezes, forma-se uma tormenta, que provoca muita destruição e mudanças por onde passa, havendo uma reciclagem natural. Normalmente, Oyá sopra a brisa, que, com sua doçura, espalha a criação, fazendo voar as sementes, que irão germinar na terra e fazer brotar uma nova vida. Além disso, esse vento manso também é responsável pelo processo de evaporação de todas as águas da terra, atuando junto aos rios e mares. Esse fenômeno é vital para a renovação dos recursos naturais, que, ao provocar as chuvas, estarão fertilizando a terra. Oyá possui um grande conhecimento, adquirido através da convivência com muitos orixás, como Ogun, com quem aprendeu os caminhos; Iroko, que a ensinou a evocar o vento; Odé, com quem aprendeu a caçar; Xangô, seu eterno companheiro; Obaluaiê, com quem compartilha o reino dos Eguns; Orunmilá e Oxalá, entre outros. Vivia com eles o tempo necessário para aprender o que precisava, deixando-os em seguida, para continuar com suas andanças pelo mundo. Alguns tentaram, em vão, prendê-la, mas é impossível segurar o vento. A liberdade é muito importante para ela. Foi com Xangô, seu marido, que passou mais tempo, pois os dois se completavam. Mas, apesar disto, ergueu-se contra ele em defesa de seu povo, fazendo com que recuasse. Nem mesmo Xangô conseguiu dobrá-la.
Fonte:Fietreca
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