Em busca do conceito de “Redes”
Aceita por todos como fato presente em nossas vidas, a atuação em rede é algo de que hoje muito se fala. Entretanto, pouco se compreende em termos concretos, o que isto significa. Fala-se em rede de transportes, rede de ensino público, rede de abastecimento, rede elétrica, rede de televisão, rede de lojas; sem que percebamos, utilizamos o termo redes para os mais diversos fins. E é impressionante como se observa uma consistência no emprego do termo para uma multiplicidade de aplicações (LIPNACK & STAMPS, 1992, p. 18).
Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de desempenho). Uma estrutura social com base em redes é um sistema aberto, altamente dinâmico suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio(...). Mas a morfologia da rede também é uma fonte de drástica reorganização das relações de poder (CASTELLS, 2000, p.498).
Para melhor compreensão deste conceito, é preciso visualizar e compreender algumas de suas características.
Principais Características do Trabalho em Redes
Características
|
O que significa
|
Horizontalidade
|
Premissa essencial para uma rede, todos têm a mesmo poder de decisão.
|
Multiliderança
|
Não há chefesna rede, mas sim muitos líderes.
|
Objetivos compartilhados
|
Não há redes se seus membros não compartilharem os mesmos objetivos e valores.
|
Livre intercomunicação horizontal
|
O fluxo de informações é livre entre os membros da rede. Não há censura.
|
Co-responsabilidade
|
Todos são co-responsáveis pelo funcionamento da rede, o que requer iniciativa individual.
|
Democracia
|
A participação na rede se dá de forma democrática, pautada pela transparência nas relações.
|
Solidariedade
|
As redes se contrapõem à cultura do “levar vantagem” e do “guardar pra si”.
|
Autonomia e empoderamento dos seus membros
|
Organizar-se em rede pressupõe a busca continuada pelaemancipação de seus membros, sendo portanto um operação de natureza política.
|
Livre entrada e saída
|
A rede está sempre aberta à entrada e à saída de participantes.
|
Conceitos associados ao “organizar-se em Rede”
Quando falamos em Redes, imediatamente trazemos conceitos associados, que fazem parte do repertório desse tipo de organização. Redes são usualmente definidas como um sistema de nós (ou nodos) e elos, termos utilizados para se descrever redes físicas, como a telefônica.
Enquanto fonte ou receptora de informações, uma pessoa é um nó. Enquanto portadora de informações, fazendo uma conexão entre nós, uma pessoa é um elo. A essência do trabalho em redes reside no relacionamento pessoa-pessoa (LIPNACK & STAMPS, 1992, p. 10).
Além destes dois novos conceitos apresentados (nós e elos), há pelo menos mais dois termos associados consideravelmente inerentes ao trabalho em redes: facilitação e hospedagem.
Para que a rede funcione com certo dinamismo, é necessária a figura do facilitador, ou animador. Cada rede pode ter de um a muitos facilitadores ou animadores, os quais não detêm poderes diferenciados dos demais membros da rede, mas apenas apresentam atributos específicos que os qualificam facilitadores. Eles não coordenam ou comandam a rede, apenas criam condições propícias ao fluxo de informações. Para tanto, necessitam ser reconhecidos pelos participantes da rede como tal.
Com relação ao segundo termo, hospedagem, a rede necessita de facilitadores que por sua vez precisam de alguma estrutura de “suporte” à rede. Como a rede não apresenta (nem deve apresentar) natureza jurídica, trata-se de uma forma de organização que congrega horizontalmente diversas instituições e pessoas. Assim como a rede necessita do papel de facilitadores, ela também necessita ser “hospedada” por alguma ou algumas instituições. Por exemplo, a Rede Brasileira de Educação Ambiental - REBEA - atualmente está hospedada no Instituto Ecoar para a Cidadania, uma ONG de SP. Cabe ressaltar que tanto a facilitação quanto à hospedagem de redes é um processo também dinâmico, está sempre mudando conforme as entradas e as saídas de participantes e de acordo com o próprio funcionamento da rede.
Objetivos comuns do trabalho em Redes
Em geral a organização em redes pressupõe compartilhar alguns objetivos em comum: - intercâmbio de informações; - contribuir para formação de seus membros; - criar laços de solidariedade; - realizar ações em conjunto. Podemos, no entanto, estar dispostos em rede, sem operar em rede. O que faz da arquitetura de rede uma rede é seu modo de funcionamento. No caso que nos importa aqui: um modo de operar que contemple, pressuponha e atualize a autonomia dos membros da rede; que faça da horizontalidade, da descentralização, do empoderamento e da democracia uma ética de operação (MARTINHO, ?, p. 2).
Como se organizar em Rede ?
O primeiro passo para quem deseja organizar-se em rede passa pela necessidade de identificação de objetivos comuns, para que cada membro possa efetivamente sentir-se pertencente à rede. A noção de pertencimento está diretamente vinculada ao conceito de participação. Participar pressupõe sentir-se parte, perceber-se pertence ao grupo, à rede, etc.
Vencido este primeiro passo, é necessária a definição de facilitadores para a rede e onde a mesma estará hospedada. Como vimos anteriormente, a facilitação ou animação é característica básica para o “organizar-se em rede”, juntamente com a hospedagem da rede em si. Um outro conceito associado diretamente vinculado a estes dois é o de Secretaria Executiva. Comumente a instituição que hospeda a rede e que tem pessoas que a facilitam acaba se tornando a Secretaria Executiva da rede.
Algumas tipologias de redes
O trabalho de INOJOSA, 1999 nos aponta algumas tipologias de redes. É possível, segundo ela, “distinguir alguns tipos, segundo as relações entre os parceiros e segundo o foco de atuação” (p. 3)
Tipos de redes, quanto à relação entre os parceiros:
Rede Subordinada, Rede Tutelada e Rede Autônoma
- Entes são parte de uma organização
- Existe uma interdependência de objetivos
- A articulação depende da vontade dos entes
- Há apenas um lócus de controle
- Entes têm autonomia mas articulam-se sob a égide de uma organização
- Rede fica dependente da persistência de propósitos do ente mobilizador
- Ente mobilizador tende a ficar como lócus de controle
- Entes são autônomos e articulam-se voluntariamente
- Pressupõe uma idéia-força mobilizadora
- A rede é aberta e trabalha por pactuação
- As identidades dos parceiros são preservadas e é construída uma identidade da rede
- O controle é compartilhado
Fonte: INOJOSA, 1999, p. 4-5.
Tipos de redes, quanto ao foco de atuação:Redes de Mercado e Redes de Compromisso Social
- São redes articuladas em função da produção e/ou apropriação de bens e serviços
- Visam a complementaridade ou a pontencialização dos parceiros face ao mercado
- As relações são perspassadas pelos interesses do mercado, e podem oscilar entre cooperação e competição
- A relação de parceira das redes de mercado tende a ser de subordinação ou tutela
- São redes que têm como foco questões sociais
- Visam complementar a ação do Estado ou suprir a sua ausência no equacionamento de problemas sociais complexos, que põem em risco o equilíbrio social
- As relações nascem e se nutrem de uma visão comum sobre a sociedade ou sobre determinada questão social e da necessidade de uma ação solidária
- Demanda estratégias de mobilização constante das parcerias e de reedição.
Fonte: INOJOSA, 1999, p. 6.
WHITAKER (1993) também propõe uma tipologia de redes, mais simplificada. As redes podem interligar somente pessoas; somente entidades; e ambos. Também podem ser de diferentes tamanhos - de uma equipe que trabalhe em rede a uma rede de bairro ou de sala de aula, até uma rede internacional. Podem existir igualmente redes de redes. E dentro de uma rede podem se formar sub redes, com objetivos específicos” (op. cit., p. 8).
O que fortalece a Rede?
- Tratar as pessoas com respeito e integridade;
- Oferecer primeiro: alimente sua rede com informações, dicas, idéias, links, indicações, experiências, etc. Isso incentivará aos demais participantes a fazer o mesmo;
- Reconhecer e agradecer os recursos recebidos;
- Deixar tudo às claras: promover um processo de comunicação transparente é fundamental para o trabalho em redes;
- Realizar ações de cultivo: diversas ações podem ser promovidas para articular a rede. Encontros presenciais são importantes momentos de promover integração entre os membros da rede, e devem ser estimulados sempre que possível;
- Incentivos a articulações regionais: organizações e pessoas de uma mesma região tendem a ter problemas similares e pela proximidade geográfica, têm maiores possibilidades de realizarem reuniões presenciais;
- Encontros presenciais: reforçam os laços de confiança da rede e a tornam mais propícia a comunicação e trabalho conjunto. Embora nem sempre todos os integrantes de uma rede possam comparecer a reuniões presenciais, as comunicações aumentam significativamente após os encontros;
- Construção de mecanismos informativos: o objetivo é manter os participantes atentos às ações da rede. A tônica deste tipo de comunicação pode ser bastante informal e algumas notícias podem ser de caráter corriqueiro para fortalecer outros tipos de vínculos entre os participantes.
Dificuldades do trabalho em rede
Podemos identificar algumas barreiras comuns à articulação de redes organizacionais. Estas dificuldades podem ser classificadas em três tipos de limitações:
1) Barreiras Políticas: quanto mais uma rede for coesa e dotada de um propósito claro e unificador, mais preparada ela estará para lidar com problemas de relacionamento entre seus integrantes. É preciso que a rede se organize como uma equipe, o que é bem diferente de um agrupamento.
2) Barreiras Técnicas: estão relacionadas às estratégias de comunicação entre os participantes da rede. É comum as redes optarem pelo uso de sofisticadas plataformas de comunicação baseadas na informática (internet) e os participantes menos familiarizados com estas novas tecnologias acabam enfrentando algumas dificuldades ao utilizá-las.
3) Barreiras Internas: o próprio processo de organização da rede pressupõe certas dificuldades, a começar pela própria questão conceitual. Muitos participantes têm certa dificuldade em entender a dinâmica de funcionamento de uma rede, o que pode ser decorrente de uma cultura baseada em estruturas hierarquizadas e pouco flexíveis, nas quais estamos inseridos desde a infância. Além desta dificuldade, há a necessidade de clareza dos papéis de cada participante na rede bem como dos objetivos da mesma.
2) Barreiras Técnicas: estão relacionadas às estratégias de comunicação entre os participantes da rede. É comum as redes optarem pelo uso de sofisticadas plataformas de comunicação baseadas na informática (internet) e os participantes menos familiarizados com estas novas tecnologias acabam enfrentando algumas dificuldades ao utilizá-las.
3) Barreiras Internas: o próprio processo de organização da rede pressupõe certas dificuldades, a começar pela própria questão conceitual. Muitos participantes têm certa dificuldade em entender a dinâmica de funcionamento de uma rede, o que pode ser decorrente de uma cultura baseada em estruturas hierarquizadas e pouco flexíveis, nas quais estamos inseridos desde a infância. Além desta dificuldade, há a necessidade de clareza dos papéis de cada participante na rede bem como dos objetivos da mesma.
Referências:
AYRES, B. Redes organizacionais no terceiro setor - um olhar sobre suas articulações. Rio de Janeiro, 2001., 15 p.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo : Paz e Terra, 1999.
FACHINELLI, A.C. et al. A prática da gestão de redes: uma necessidade estratégica da Sociedade da Informação In: Revista Com Ciência, 2000.
INOJOSA, R.M. Redes de compromisso social In: Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro : FGV, 33 (5), set/out 1999, 115- 141 p.
LIPNACK, J. & STAMPS, J. Networks: Redes de Conexões. São Paulo : Aquariana, 1992.
MACHADO, A.L.I. et all Las redes como instrumentos de transformación social. Caracas, www.rbc.org.br, 1999.
MARTINHO, C. e desenvolvimento local. www.rbc.org.br
PRADO, J.L.A. A naturalização da rede em Castells. www.rbc.org.br
WHITAKER, F. Rede: uma estrutura alternativa de organização. CEDAC/ Ano 2/ no 3, 1993, 12 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário