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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Brasil registra 1 caso de transmissão de Aids de mãe para filho por dia


Brasil registra 1 caso de transmissão de Aids de mãe para filho por dia

O Brasil registrou um caso novo por dia de transmissão de aids da mãe para o bebê em 2011. Apesar de ser possível reduzir para zero esse contágio, foram 469 confirmações em crianças de várias faixas etárias - algumas convivendo por anos com a doença, sem diagnóstico nem tratamento.


O Brasil ainda contabiliza 5,4 novas infecções entre menores de cinco anos a cada 100 mil habitantes - proporção idêntica à registrada em 2006. Os dados constam do Boletim Epidemiológico de DST-Aids, divulgado ontem.

"Essas infecções são inaceitáveis, vamos melhorar", disse o secretário de Vigilância do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. A transmissão da mãe para o bebê - chamada de vertical - pode ser evitada quando a mulher passa a usar remédios antiaids na gravidez ou, quando isso não é possível, durante o parto.

O pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Alexandre Grangeiro avalia que os altos indicadores refletem falhas graves nas estratégias de prevenção e de atendimento. "No Brasil, 90% dos partos são hospitalares, as mulheres fazem pelo menos uma consulta de pré-natal. Esse número já deveria ter sido zerado", afirma.

Barbosa disse acreditar que as taxas de infecção vertical devam cair com Rede Cegonha e com a ampliação do teste rápido para HIV. "O uso desse exame ainda é limitado, há muita resistência nas cidades, muita pressão corporativa para que mantenhamos os exames tradicionais", disse.

Falta de diagnóstico
O teste rápido também é considerado ferramenta essencial para reduzir o alto número de pessoas que desconhecem ser portadoras do vírus. Estima-se que existam no País 530 mil pessoas com HIV - 130 mil, ou o equivalente a 24%, não sabem que estão infectadas. Ontem, o Ministério da Saúde iniciou uma mobilização para testagem de HIV em todo o País.

"Por preconceito, pessoas ainda resistem em fazer o teste", disse Barbosa. Uma das ações que serão realizadas para romper essa barreira serão unidades móveis com kits de diagnóstico que devem circular em áreas frequentadas por grupos considerados mais vulneráveis: homens que fazem sexo com homens, travestis e profissionais do sexo.

Cinco unidades estão em funcionamento. A ideia é que em 2013 todas as capitais estejam com veículos nas ruas. "Pretendemos que todas as cidades-sede da Copa das Confederações disponham do serviço."

Aumento
De acordo com o boletim, 38.776 novos casos de aids no Brasil foram registrados no País em 2011. O número é ligeiramente maior do que o de 2010, quando 37.358 pessoas tiveram a infecção confirmada.

A tendência de aumento foi registrada em todas as regiões. No Nordeste, a incidência passou de 13,7 casos a cada 100 mil habitantes para 13,9 entre 2010 e 2011. No Sudeste, a taxa passou de 20,6 para 21; no Sul, de 29,1 para 30,9 e no Centro-Oeste, de 16,4 para 17,5.

Apenas o Norte apresentou variação para menos: de 20,9 para 20,8. Apesar disso, a incidência atual é três vezes maior do que a apresentada em 2000, quando 6,9 casos por 100 mil habitantes eram identificados.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse ser essencial a adoção de medidas para reduzir o avanço da doença entre jovens. "A população jovem de homens que fazem sexo com homens é responsável por mais da metade dos casos novos", disse. Ele avalia ser necessário "despertar novas atitudes" entre esses grupos.

Relatório da agência das Nações Unidas para a aids (Unaids) divulgado ontem afirma que a erradicação da aids está próxima devido ao melhor acesso a drogas para tratar e prevenir o vírus HIV. Segundo o texto, a meta de pôr fim à epidemia não é "meramente visionária", mas "totalmente viável". Até o ano passado, 34 milhões de pessoas tinham o vírus HIV no mundo. A África Subsaariana é a região mais afetada, com quase 1 em cada 20 adultos infectados. "Embora a aids seja um dos mais sérios desafios à saúde, a solidariedade mundial na última década continua a gerar ganhos extraordinários na saúde", diz o relatório.
A reportagem é de Lígia Formenti e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 21-11-2012.


As mulheres seropositivas podem transmitir o virus durante a gravidez, parto ou amamentação.  
O HIV também pode ser transmitido quando o sangue materno entra na circulação do feto, ou devido à exposiçao à mucosa e ao sangue materno durante o trabalho de parto e parto.  
O HIV pode ser igualmente transmitido por uma mãe lactante ao seu filho. Nos países em desenvimento, como Moçambique, onde tradicionalmente as mulheres amamentam até os 18 ou 24 meses, estima-se que o risco de transmissão do HIV seja de 15 por cento através da amamentação.  
Este risco pode ser reduzido a pequenas percentagens se a amamentação for feita exclusivamente quando o sistema imunológico da mãe for forte, quando ela não tem problemas da mama e quando ela amamenta apenas durante 6 meses.  
Nas sessões de aconselhamento às mães seropositivas, estas são aconselhadas a amamentar exclusivamente os filhos, ou a dar exclusivamente substitutos do leite materno, desde que o possam fazer de uma forma aceitável, viável,acessível, segura e sustentável.  
Mortes que podem ser evitadas
Quase metade das crianças que contraem o HIV das suas mães morrem antes do seu 2º aniversário. Porém, estas mortes podem ser evitadas. A profilaxia anti-retroviral administrada à mulher durante a gravidez e parto - e ao bebé imediatamente após o nascimento – provou reduzir drasticamente a probabilidade de uma mãe transmitir o HIV ao seu bebé, sendo igualmente um tratamento para a mãe.  
Em 2002, o Ministério da Saúde lançou um Programa Nacional de Prevenção da Transmissão Vertical.  
Para assegurar que o programa abranja o maior número possível de mulheres grávidas, ele foi integrado nas unidades sanitárias existentes para mulheres e crianças e ligado a outros serviços, tais como serviços de nutrição, tratamento pediátrico e controlo da malária.  
As mães e crianças de todo o país estão agora a receber um pacote holístico de cuidados de saúde cruciais, incluindo a prevenção e tratamento do HIV, e todos os serviços de PTV prestados são gratuitos.
© UNICEF Moçambique/Emidio Machiana
O que está sendo feito
O programa nacional de prevenção da transmissão vertical cresceu rapidamente desde a sua introdução. O número de centros de PTV em todo o país cresceu rapidamente para 744 e Outubro de 2009, de 500 em 2008. Em 2007 havia 386 PTVs, em 2006 cerca de 222 e apenas 8 em 2002.  
Como resultado, o número de mulheres recebendo aconselhamento e teste através dos serviços de prevenção vertical aumentou de 4.641 em 2002 para 194.117 em 2006 e 366.281 em 2007 – de um total médio de 800.000 mulheres grávidas por ano.  
Mais de 300.000 mulheres grávidas foram aconselhadas e testadas nos primeiros 8 meses  de 2008 – um aumento significativo em relação ao ano anterior.  
O Ministério da Saude pretende expandir os serviços de prevenção da transmissão vertical a todas as unidades sanitárias do país com cuidados pré-natais e maternidades. A meta é de abranger 861 unidades sanitárias – quase 90 por cento de todas as unidades sanitárias do país – até 2011.  
Passos a seguir
Entre 2010 e 2011, o UNICEF continuará dando apoio ao MISAU e outros parceiros para expandir o programa de PTV e melhorar a qualidade dos serviços prestados às mulheres grávidas.  
O Ministério da Saúde iniciou uma nova abordagem “opt out” para o teste do HIV, isto é, o teste do HIV é feito de forma rotineira à todas as mulheres grávidas, em vez da abordagem “opt in” em que as mulheres têm que dizer especificamente que querem fazer o teste do HIV. Estudos demonstraram que a abordagem ‘opt-out’ aumenta as taxas de testagem.
A mulher que participa nos programas de prevenção vertical tipicamente beneficia-se dos seguintes serviços:
  • Aconselhamento e teste do HIV. No âmbito da abordagem “opt-out,” o teste de HIV é feito de forma rotineira a todas as mulheres grávidas.
  • Referência das mulheres grávidas cujo resultado ao teste é positivo à um centro para o teste de contagem de CD4 e início da terapia antiretroviral, se ela for elegível.
  • Cuidados pré-natais e aconselhamento contínuos.
  • Distribuição de ARVs de acordo com as normas nacionais actualizadas.
  • Promoção de parto numa maternidade, para que se prestem cuidados e tratamento profiláctico óptimos às mães e aos bebés recém nascidos.
  • Aconselhamento pós-parto, incluindo o aconselhamento sobre as opções de  alimentação do bebé. As directivas recomendam que as mães HIV-positivas optem pela alimentação exclusiva com substitutos do leite materno se o puderem fazer de uma maneira aceitável, viável, sustentável e segura. Caso não satisfaçam estes critérios, recomenda-se a amamentação exclusiva até seis meses, com um desmame precoce e rápido nessa idade.
  • Referência e ligação a um Grupo de Mães Positivas, que é um grupo de apoio e partilha de informação dentro dos centros de PTV. O grupo está aberto à todas as mães grávidas e mulheres com filhos abaixo de 18 anos que vivem com HIV.
  • Referência da criança à consultas regulares de acompanhamento para crianças de alto risco. Este programa inclui serviços de saúde de rotina tais como vacinação e controlo do crescimento, bem como cuidados específicos para crianças de alto risco, incluindo a administração de clotrimaxozole tratamento de infecções oportunistas.
  • Diagnóstico Precoce da Criança, dos 4 aos 6 meses de vida, através do teste polymerase-chain-reaction (PCR) que é extremamente importante para cuidados imediatos para crianças expostas ao HIV. Actualmente, o teste PCR está apenas disponível em  pequena escala mas o  Ministério da Saúde pretende expandí-lo. Caso não seja possível fazer o teste precoce às crianças, então elas são testadas através do teste de anticorpos  aos 18 meses de idade.

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