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domingo, 3 de junho de 2012

Baal-Habab


Baal-Habab





Algumas representações de Baal-Habab

Vamos conhecer agora a história de "Baal", o deus cananeu tantas vezes citado no Antigo Testamento da Bíblia; um mito importantíssimo por muito tempo na terra de Canaã e em regiões vizinhas.

Desde a década de quarenta, a arqueologia tem possibilitado conhecer cada vez mais sobre os povos antigos do oriente, principalmente o povo cananeu e sua religião. Descobertas arqueológicas no local da antiga cidade de "Ugarit" mostraram centenas de placas de barro pertencentes à biblioteca do templo de "Ras Sharma". Esses textos religiosos provam que a oposição contra a qual a tradição de Moisés teve que lutar não era uma simples aglomeração de pequenos cultos de fertilidade presididos por insignificantes deuses e deusas, mas, pelo contrário, um dos mais elaborados sistemas religiosos do mundo antigo. A religião dos cananeus já era bem difundida e já estava estabelecida na Palestina antes da conquista israelita. Era uma religião com ritos bem elaborados e se identificava com os interesses de uma população agrícola. A religião dos cananeus era identificada com a natureza e tinha por objetivo ensinar os homens a cooperarem e a controlarem o ciclo das estações.

A história de Baal começa com a batalha entre Baal e “Yam-Nahar”, o deus dos mares e rios. Ela está contada em pequenas tábuas que datam do século XIV aC. Baal e Yam viviam ambos com “El”, o Sumo Deus cananeu. No conselho de El, Yam exige que Baal lhe seja entregue. Mas, durante a batalha, usando duas armas mágicas, Baal derrota Yam e está para matá-lo quando “Asherah” (esposa de El e mãe dos deuses) diz que é desonroso matar um prisioneiro. Baal envergonha-se e poupa Yam. Nesta batalha, Yam-Nahar representa o aspecto hostil dos mares e rios que ameaçam constantemente inundar a terra, enquanto Baal, o deus da tempestade, torna a terra fértil.

Em outra versão, Baal mata o dragão de sete cabeças “Lotan”, chamado em hebraico de “Leviatã”. Em quase todas as culturas, o dragão simboliza o latente, o oculto e o informe diferenciado; portanto, com um ato verdadeiramente primitivo, Baal interrompeu o retorno à informidade primal. Por essa razão, é recompensado com um belo palácio, construído pelos deuses em sua honra. No início da própria história da religião, portanto, a criatividade é vista como divina. E na verdade nós ainda usamos essa linguagem religiosa para falar da “inspiração criadora", que refaz a realidade e traz novo sentido ao mundo. Assim acontece nas artes plásticas, na música, na literatura, no trabalho, nas relações humanas...

Mas Baal sofre uma inversão: morre e tem que descer ao mundo de “Mot”, o deus da morte e da esterilidade. Quando sabe do destino de seu filho, o Sumo Deus El desce de seu trono, veste uma tanga e retalha as faces, mas não pode redimir o filho. É “Anat”, irmã e amante de Baal, que deixa o reino divino e vai em busca dele, na verdade sua alma gêmea, desejando-o, segundo o texto das tábuas, “como uma vaca deseja o seu bezerro e uma ovelha o seu cordeiro”. Encontra o seu corpo, e então prepara e oferece aos deuses e homens um banquete fúnebre em sua honra: pega Mot, abre-o com sua espada, divide-o, queima-o e tritura-lhe “como milho”, antes de semeá-lo ao chão. É assim que Baal se torna o deus do vento e do clima. De acordo com o baalismo, era ele quem enviava orvalho, chuva e neve e, conseqüentemente, quem dava fertilidade para a terra. Os cananeus acreditavam que era por causa de Baal que, ano após ano, a vegetação retornava após a estiagem, as fêmeas dos animais tinham inúmeras crias e as mulheres davam filhos e filhas para seus maridos.

Histórias semelhantes são contadas sobre as outras grandes deusas – Inana, Ishtar e Ísis – que buscam um deus morto e dão vida nova ao solo. Os cananeus estabelecem, entretanto, que a vitória de Anat deve ser perpetuada, ano após ano, em comemoração ritual. Mais tarde – não podemos saber ao certo como, pois as fontes são incompletas – Baal é trazido de volta à vida e devolvido a Anat. É uma apoteose de realização, inteireza e harmonia, simbolizada pela união dos sexos. E era celebrada numa grande festa, na antiga Canaã, com rituais bacanálicos, envolvendo sexo ritual, incesto e serpentes... não admira que, no texto bíblico do Antigo Testamento, o povo de Israel seja admoestado a manter distância das práticas do povo de Canaã...

Assim, ao imitarem os seus deuses, aqueles homens e mulheres acreditavam partilhar a luta deles contra a esterilidade e asseguravam a criatividade e a fertilidade do mundo. Mas a morte de um deus, a sua busca pela deusa e o posterior retorno triunfante à esfera divina eram temas religiosos presentes em muitas culturas antigas. Daí a completa originalidade da muito diferente religião do Deus Único adorado pelos hebreus. Uma novidade radical e inteiramente estranha, que exigia ascetismo, trazia regras de conduta moral e, mais do que isso, solicitava uma entrega amorosa. Uma proposta para um novo modo de vida, enfim; surgida num ambiente completamente hostil e que não conseguia compreendê-la. E que mesmo contra o tempo e todas as probabilidades naturais, superou tudo e todos e subsiste até os nossos dias.



Bibliografia:

ARMSTRONG, Karen. Uma História de Deus - quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo, São Paulo: Companhia das Letras, 1999;
MENDENHALL, George E. The Biblical Archeologist, Londres: London Publishing, 1962.





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