Na década de
1980 do século passado o Brasil, a partir do Rio de Janeiro, tomou
conhecimento dorecrudescimento em potencial da intolerância religiosa
que, mediante proselitismo, beligerantemente atacava a Religião de
Matriz Africana, Afro-Umbandista e Indígena. Uma "guerra santa" em que
adeptas/os e os locais de cultos das referidas tradições religiosas eram
alvos mais contundentes de sucessivas violências em logradouros
públicos como das
invasões dos Templos Afros que prosseguem como num continuum.
Desta
feita protagonizada pelos pentecostais, e, sobretudo, neopentecostais a
sociedade passou a testemunhar o crescimento vertiginoso das novas
igrejas que incorporaram na sua teologia ingredientes religiosos que
dizem combater dando aos mesmos contornos evangélicos sob a lógica do
bem em detrimento do mal associado à prosperidade. A estratégia e o
marketing adotados como sedução e cooptação demonstram nítido
conhecimento do perfil social dos afro-religiosos.
O
Mapa da Intolerância Religiosa que temos em mãos, organizado por Marcio
Alexandre M. Gualberto que contou com a colaboração de pessoas e
variados grupos religiosos todo o
país, demonstra que há um contingente de adeptas/os mobilizados contra a
intolerância religiosa que vão do Oiapoque ao Chuí. Essa mobilização
demonstra contemporaneamente o grau de politização e de mobilização
principalmente do Povo de Santo, o contingente mais atingido pela
intolerância religiosa, como veremos ao longo deste Mapa. Este povo de
axé e de nguzo, que está indo para as ruas através das massivas
caminhadas e passeatas denunciar e alardear que não mais suportam
resilientemente as atrocidades do racismo cultural e religioso que
histórica e secularmente se abate contra uma visão de mundo inclusiva.
Mulheres
e homens de axé, crianças, jovens de terreiros e os detentores de
senioridade iniciática estão vindo a público, saindo das suas
comunidades-terreiros seja de Candomblé, de Batuque, do Xambá, do Nagô,
do Jeje/Fon, Tambor de Mina, Fanti Ashanti, da Umbanda,
da Quimbanda, da Jurema Sagrada e dos Cultos Indígenas em geral, para
atestar que, ao contrário da teologia xenófoba como pressupostos das
tradições judaicas cristãs, os determinantes teológicos e filosóficos
das culturas negras, de matriz africana e/ou afrodescendentes assentam
suas territorialidades civilizatórias materiais e simbolicamente
onde se inscrevem as Divindades em consonância com os axiomas da xenofilia em que a alteridade é incluída incondicionalmente.
onde se inscrevem as Divindades em consonância com os axiomas da xenofilia em que a alteridade é incluída incondicionalmente.
O
Mapa da Intolerância Religiosa - 2011 (MIR) que no seu bojo traz
fundamentos legais que protegem e asseguram a diversidade religiosa, a
liberdade de culto entre outros tantos direitos; a exemplo do CBO
(Código Brasileiro de Ocupação) que nomeia os ministros de culto
religioso das várias denominações e crenças do campo religioso
brasileiro, se
constitui num instrumento valiosíssimo. O MIR é um instrumento de
cidadania de vital importância para os vivenciadoras/os dos Cultos aos
Orixás, Inquices, Voduns, Ancestrais e Antepassados, bem como para os
poderes públicos, os ativistas contra a intolerância religiosa entre
outros setores da sociedade comprometidos com a democracia radical em
que o respeito seja o fundamente da convivência entre os sujeitos
sociais e religiosos e não a tolerância como querem muitos.
A
tolerância deve ser banida dos pleitos dos afro-religiosos e exigido,
sim, o respeito que deve se materializar no cotidiano das relações
mediante a compreensão política e conceitual das invariantes teológicas e
filosóficas entre as tradições religiosas da humanidade, tendo em mente
que o Sagrado é um Todo indivisível, mas que foi compartimentado
pelos grupos humanos em que o ideário da dominação funciona como
norteador desse processo em que algumas tradições religiosas se colocam
como detentoras únicas dos meios de salvação.
O
Mapa da Intolerância Religiosa deve se constituir num instrumento na
luta contra a afrotheofobia que vem sendo disseminada pelas denominações
religiosas intolerantes e que está sendo introjetada pela população e
traduzindo-se em violências das mais variadas naturezas como a
semiológica, semântica, subjetivas e materiais.
Esperamos que o Mapa da Intolerância Religiosa não pare na sua primeira edição, convertendo-se numa série, adquirindo para s
ua
continuidade com um veículo sistemático, cuja periodização
adquira sustentabilidade para prosseguir sustentando e balizando a luta
contra a intolerância religiosa até a sua total erradicação, divulgando
não só diagnósticos como prognósticos.
O
FONAPER parabeniza a iniciativa e reitera a urgência em se tratar das
questões relacionadas a diversidade cultural religiosa por parte da
sociedade e especificamente a escola, por ser um espaço de construção de
uma cultura que respeite o outro independente de sua crença religiosa
ou outra diferença. Conheça o texto anexo produzido por Marcio Alexandre
M. Gualberto.
Fonte: Secretaria dos Direitos Humanos
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