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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Esse episódio encerra várias lições para todos nós, umbandistas. Existem dezenas de terreiros de Umbanda e Candomblé que têm história. E que devem ser preservados, não pelo simples fato de serem terreiros, mas sobretudo, pelo seu significado cultural.

Assim que surgiu o noticiário sobre a demolição da casa onde Zélio de Moraes nasceu a Umbanda, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, conversei com o Secretário de Obras daquela Prefeitura, Valmir Barros.
Aquele imóvel, onde nasceu a Umbanda, hoje é de propriedade de Verônica Matta da Silva Costa, tendo dado entrada do pedido de licença em 13 de abril deste ano.
A licença para demolição foi concedida pela prefeita Aparecida Panisset e a construção de um galpão, no lugar do berço da Umbanda, teve início no último dia 6 de julho.
Esse episódio encerra várias lições para todos nós, umbandistas.
Existem dezenas de terreiros de Umbanda e Candomblé que têm história. E que devem ser preservados, não pelo simples fato de serem terreiros, mas sobretudo, pelo seu significado cultural.
O maior exemplo de preservação de templos históricos vem da Igreja Católica, que – com a ajuda governamental – mantém intactas igrejas centenárias, algumas tombadas e reconhecidas como patrimônio mundial pela Unesco.
Em todo o Brasil, temos terreiros que são conhecidos por denominações diversas: Umbanda, Candomblé, Catimbó, Xangô, Batuque, Jurema etc, conforme o Estado de origem.
Alguns têm quase 100 anos. E devem ser preservados através de um movimento que parta de nossos irmãos em cada estado brasileiro. Como foi a Casa de Menininha do Gantois, na Bahia.
De quem é a responsabilidade nesse episódio de São Gonçalo, em que o centro onde Zélio de Moraes anunciou a criação da Umbanda, foi demolido em abril deste ano?
Vamos aos fatos. E fatos não são opiniões. Fatos são fatos. São inquestionáveis. Aconteceram.
É óbvio que a prefeita evangélica de São Gonçalo, Aparecida Panisset,  (que está no segundo mandato), SABIA SIM, que ali era um casarão, onde nasceu a Umbanda, em 1908. Afinal, ela é professora de História.
Ou alguém acha que o prefeito de uma cidade não sabe onde se encontram os mais importantes templos religiosos de seu município?
É zero a possibilidade da prefeita evangélica Aparecida Panisset ignorar que ali era o berço da Umbanda. É CLARO QUE ELA SABIA que ali existia um patrimônio cultural-religioso a ser preservado.
Se tivesse agido como prefeita, como administradora, E NÃO COMO EVANGÉLICA RADICAL, teria decretado o tombamento da casa onde Zélio anunciou a Umbanda.
Dá para imaginar que o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, desconheça a importância da Igreja da Candelária?
Ou que o prefeito de Salvador ignore a importância da casa de Mãe Meninha do Gantois (que aliás, foi tombada pelo Ministério da Cultura e pelo Iphan)?
Dá para imaginar que o prefeito de São Paulo, ignore a importância da Catedral da Sé?
É óbvio que a prefeita Aparecida Panisset, conhecida pela sua posição religiosa radical, com origem na Igreja Nova Vida (neopentecostal) dificilmente moveria uma palha para desapropriar aquele imóvel, salvando-o da demolição.
A mídia daquela cidade tem denunciado os benefícios governamentais da Panisset destinados aos neopentecostais gonçalenses: igrejas, funcionários, carros e  contratação de religiosos.
No seu primeiro ano de governo, segundo a imprensa, Aparecida Panisset ameaçou proibir a tradicional procissão e o tapete de sal de Corpus Christi, tradições católicas.
Numa longa entrevista ao jornal Extra (RJ), Aparecida Panisset se apresenta quase como uma personagem bíblica quando fala de si por meio de parábolas (ver trecho da matéria abaixo)
A prefeita de São Gonçalo, contudo, não é mais importante do que a Umbanda.
Não será pela omissão criminosa da prefeita Aparecida Panisset, que poderia ter impedido a demolição do primeiro imóvel da Umbanda através de um simples decreto de tombamento, que nossa religião deixará de avançar.
Pelo contrário, esse ato covarde só nos anima a avançar mais ainda.
Nenhuma outra religião no Brasil foi mais perseguida, humilhada, vilipendiada e agredida do que a Umbanda. Nenhuma!
Primeiro, foram os colonizadores que impingiram o sincretismo religioso aos escravos.
Depois, vieram as proibições aos cultos, que partiam de ordens das autoridades, chegando ao cúmulo das invasões pela policia dos terreiros, com médiuns presos, atabaques e símbolos religiosos destruídos.
Depois, na década de 80, grupos de ditos neopentecostais, na verdade, membros de seitas eletrônicas, fizeram de tudo para destruir a Umbanda, notadamente no Rio de Janeiro. A certeza de que seriam vitoriosos era tão grande, que partiram para cima da Igreja Católica, chegando a exibir na TV imagens de "bispos" chutando a imagem de Nossa Senhora da Aparecida.
Não conseguiram nos destruir. Não fecharam os terreiros. Não calaram nossos atabaques.
A Umbanda continua. Sem dízimo. Sem recursos. Sem emissoras de Rádio e TV. Sem ajuda do governo. Nada. Continua graças à fé nos espíritos de luz.
Por isso, a demolição da casa onde Zélio de Moraes anunciou a Umbanda, é apenas mais um episódio – doloroso, é verdade – na caminhada da nossa religião.
Daqui a um ano, a hoje prefeita Aparecida Panisset deixará a prefeitura de São Gonçalo. Pode até conquistar um ou outro cargo político. Mas, seu destino final está traçado: o ostracismo, o mais absoluto esquecimento.
Daqui a mais alguns anos, ninguém se lembrará de quem foi Aparecida Panisset. Em São Gonçalo, um ou outro se lembrará da ex-prefeita. Não deixará boas lembranças. Nenhum legado administrativo. Ou grande obra. Nada.
Ninguém no Estado Rio de Janeiro, e muito menos do Brasil, se lembrará de uma prefeita, que num dos municípios com maior desigualdade social do Estado do Rio de Janeiro, foi denunciada por proibir a procissão de Corpus Christi e demolir a primeira casa de Umbanda.
Aparecida Panisset desaparecerá no resíduo da História.
A Procissão de Corpus Christi e a Umbanda continuarão vivas. Vivas na memória e nos corações dos brasileiros.
UMBANDA UNIDA, UMBANDA FORTE!
Átila Nunes e Átila Nunes Neto

ÁTILA NUNES FILHO e ÁTILA NUNES NETO COM GRUPO peq.jpg
 Átila Nunes Neto e Átila Nunes Filho



Berço da Umbanda 3.jpg
 A Tenda N S Piedade demolida, dando lugar a um galpão
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A Casa de Meninha do Gantois preservada pelo governo baiano e pelo Iphan
  
ENTREVISTA AO JORNAL EXTRA
“Um dia” é o advérbio que ela usa a cada começo de versículo sobre uma passagem de sua vida. “Um dia — narra a prefeita de São Gonçalo — eu estava em campanha para a prefeitura, em 2004, não tínhamos dinheiro sequer para alugar outdoor; eu me perguntava como é que iria fazer, e, aí, Deus falou assim para mim: Neemias 2,17”.
Aparecida Panisset.jpg
— Desse trecho bíblico, que fala da reconstrução de Jerusalém, criei o slogan “Reconstruindo São Gonçalo”(...). Eu não tinha nada. Eu era uma gota no oceano — diz Panisset, pintando com nuances de martírio aquela campanha em que participava de “modestas” caminhadas com seus correligionários alimentados “a banana e água”.
Naquelas eleições, a evangélica Aparecida — mesmo nome da santa católica Nossa Senhora de Aparecida — fez uma revelação ao povo gonçalense. Ao derrotar, numa virada de última hora, a candidata Graça Matos, mostrou que seria uma das grandes forças políticas do município. Seus adversários a acusaram de ter espalhado jornais pela cidade com fotomontagens em que Graça, na época com forte adesão do eleitorado evangélico, aparecia vestida de “macumbeira”. A autoria nunca foi provada.
Para Panisset, “um dia” equivale à expressão “era uma vez” dos contos de fadas. Deslumbrada com a própria história de ascensão política, usando um inseparável anel talhado com a inscrição em hebraico “eu sou do meu amado, meu amado é meu”, ela diz que se casou com a prefeitura. Subiu ao altar — por assim dizer — no dia em que tomou posse no Executivo. Na ocasião, vestia uma roupa cujo tecido fora comprado numa liquidação a R$ 8,90, o metro.
À frente do município desde 2005, ela não se mostrou tão econômica assim com as finanças da nova família. Comprou desde merenda escolar a cimento sem licitação ou com valores acima dos praticados no mercado. No Tribunal de Contas do Estado (TCE), acumula, só em relação a condenações entre 2010 e fevereiro de 2011, R$ 1,2 milhão em multas e débitos. Fora o patrimônio declarado de R$ 144 mil, se depender do salário integral como prefeita, levará nove anos para pagar a conta.
— Aparecida é uma das campeãs de irregularidades no estado — diz o conselheiro do TCE José Graciosa.
Aparecida Panisset 2.jpg
Aparecida responde a onze ações civis públicas propostas pelo Ministério Público. Uma delas chama a atenção por mostrar como o clã Panisset trata os “bens da família”. Diz respeito à área da Saúde, que teve, em sete anos, sucessivas crises e seis secretários. O atual é o irmão da prefeita, Márcio Panisset. Essa ação do MP conta a seguinte historinha:
Um dia...todos os veículos do setor de remoções da Secretaria de Saúde foram desviados para transportar pessoas, bebida e comida para uma festa de Márcio Panisset, num sítio em Itaboraí. Enquanto isso, durante aquele 15 de dezembro de 2009, o setor de remoções ficou fechado.
Aparecida diz estar tranquila sobre as denúncias. Dorme sem calmantes. Sorte dela. Se precisasse de um Diazepam, durante boa parte de agosto e setembro, e pedisse para um funcionário buscar no posto de saúde a um quilômetro do seu gabinete, ia ficar na mão. Estava em falta!! Precisar, ela não precisa, mas vai que “um dia”...

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