Assim
que surgiu o noticiário sobre a demolição da casa onde Zélio de Moraes
nasceu a Umbanda, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, conversei
com o Secretário de Obras daquela Prefeitura, Valmir Barros.
Aquele
imóvel, onde nasceu a Umbanda, hoje é de propriedade de Verônica Matta
da Silva Costa, tendo dado entrada do pedido de licença em 13 de abril
deste ano.
A
licença para demolição foi concedida pela prefeita Aparecida Panisset
e a construção de um galpão, no lugar do berço da Umbanda, teve início
no último dia 6 de julho.
Esse episódio encerra várias lições para todos nós, umbandistas.
Existem
dezenas de terreiros de Umbanda e Candomblé que têm história. E que
devem ser preservados, não pelo simples fato de serem terreiros, mas
sobretudo, pelo seu significado cultural.
O
maior exemplo de preservação de templos históricos vem da Igreja
Católica, que – com a ajuda governamental – mantém intactas igrejas
centenárias, algumas tombadas e reconhecidas como patrimônio mundial
pela Unesco.
Em
todo o Brasil, temos terreiros que são conhecidos por denominações
diversas: Umbanda, Candomblé, Catimbó, Xangô, Batuque, Jurema etc,
conforme o Estado de origem.
Alguns têm
quase 100 anos. E devem ser preservados através de um movimento que
parta de nossos irmãos em cada estado brasileiro. Como foi a Casa de
Menininha do Gantois, na Bahia.
De
quem é a responsabilidade nesse episódio de São Gonçalo, em que o
centro onde Zélio de Moraes anunciou a criação da Umbanda, foi demolido
em abril deste ano?
Vamos aos fatos. E fatos não são opiniões. Fatos são fatos. São inquestionáveis. Aconteceram.
É óbvio que a prefeita evangélica de São Gonçalo, Aparecida Panisset, (que
está no segundo mandato), SABIA SIM, que ali era um casarão, onde
nasceu a Umbanda, em 1908. Afinal, ela é professora de História.
Ou alguém acha que o prefeito de uma cidade não sabe onde se encontram os mais importantes templos religiosos de seu município?
É
zero a possibilidade da prefeita evangélica Aparecida Panisset ignorar
que ali era o berço da Umbanda. É CLARO QUE ELA SABIA que ali existia um
patrimônio cultural-religioso a ser preservado.
Se
tivesse agido como prefeita, como administradora, E NÃO COMO EVANGÉLICA
RADICAL, teria decretado o tombamento da casa onde Zélio anunciou a
Umbanda.
Dá para imaginar que o prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, desconheça a importância da Igreja da Candelária?
Ou
que o prefeito de Salvador ignore a importância da casa de Mãe Meninha
do Gantois (que aliás, foi tombada pelo Ministério da Cultura e pelo
Iphan)?
Dá para imaginar que o prefeito de São Paulo, ignore a importância da Catedral da Sé?
É
óbvio que a prefeita Aparecida Panisset, conhecida pela sua posição
religiosa radical, com origem na Igreja Nova Vida (neopentecostal) dificilmente moveria uma palha para desapropriar aquele imóvel, salvando-o da demolição.
A
mídia daquela cidade tem denunciado os benefícios governamentais da
Panisset destinados aos neopentecostais gonçalenses: igrejas,
funcionários, carros e contratação de religiosos.
No
seu primeiro ano de governo, segundo a imprensa, Aparecida Panisset
ameaçou proibir a tradicional procissão e o tapete de sal de Corpus
Christi, tradições católicas.
Numa
longa entrevista ao jornal Extra (RJ), Aparecida Panisset se apresenta
quase como uma personagem bíblica quando fala de si por meio de
parábolas (ver trecho da matéria abaixo)
A prefeita de São Gonçalo, contudo, não é mais importante do que a Umbanda.
Não
será pela omissão criminosa da prefeita Aparecida Panisset, que poderia
ter impedido a demolição do primeiro imóvel da Umbanda através de um
simples decreto de tombamento, que nossa religião deixará de avançar.
Pelo contrário, esse ato covarde só nos anima a avançar mais ainda.
Nenhuma outra religião no Brasil foi mais perseguida, humilhada, vilipendiada e agredida do que a Umbanda. Nenhuma!
Primeiro, foram os colonizadores que impingiram o sincretismo religioso aos escravos.
Depois,
vieram as proibições aos cultos, que partiam de ordens das autoridades,
chegando ao cúmulo das invasões pela policia dos terreiros, com médiuns
presos, atabaques e símbolos religiosos destruídos.
Depois,
na década de 80, grupos de ditos neopentecostais, na verdade, membros
de seitas eletrônicas, fizeram de tudo para destruir a Umbanda,
notadamente no Rio de Janeiro. A certeza de que seriam vitoriosos era
tão grande, que partiram para cima da Igreja Católica, chegando a exibir
na TV imagens de "bispos" chutando a imagem de Nossa Senhora da
Aparecida.
Não conseguiram nos destruir. Não fecharam os terreiros. Não calaram nossos atabaques.
A
Umbanda continua. Sem dízimo. Sem recursos. Sem emissoras de Rádio e
TV. Sem ajuda do governo. Nada. Continua graças à fé nos espíritos de
luz.
Por
isso, a demolição da casa onde Zélio de Moraes anunciou a Umbanda, é
apenas mais um episódio – doloroso, é verdade – na caminhada da nossa
religião.
Daqui
a um ano, a hoje prefeita Aparecida Panisset deixará a prefeitura de
São Gonçalo. Pode até conquistar um ou outro cargo político. Mas, seu destino final está traçado: o ostracismo, o mais absoluto esquecimento.
Daqui
a mais alguns anos, ninguém se lembrará de quem foi Aparecida Panisset.
Em São Gonçalo, um ou outro se lembrará da ex-prefeita. Não deixará
boas lembranças. Nenhum legado administrativo. Ou grande obra. Nada.
Ninguém
no Estado Rio de Janeiro, e muito menos do Brasil, se lembrará de uma
prefeita, que num dos municípios com maior desigualdade social do Estado
do Rio de Janeiro, foi denunciada por proibir a procissão de Corpus
Christi e demolir a primeira casa de Umbanda.
Aparecida Panisset desaparecerá no resíduo da História.
A Procissão de Corpus Christi e a Umbanda continuarão vivas. Vivas na memória e nos corações dos brasileiros.
UMBANDA UNIDA, UMBANDA FORTE!
Átila Nunes e Átila Nunes Neto
Átila Nunes Neto e Átila Nunes Filho
A Tenda N S Piedade demolida, dando lugar a um galpão
A Casa de Meninha do Gantois preservada pelo governo baiano e pelo Iphan
ENTREVISTA AO JORNAL EXTRA
“Um
dia” é o advérbio que ela usa a cada começo de versículo sobre uma
passagem de sua vida. “Um dia — narra a prefeita de São Gonçalo — eu
estava em campanha para a prefeitura, em 2004, não tínhamos dinheiro
sequer para alugar outdoor; eu me perguntava como é que iria fazer, e,
aí, Deus falou assim para mim: Neemias 2,17”.
—
Desse trecho bíblico, que fala da reconstrução de Jerusalém, criei o
slogan “Reconstruindo São Gonçalo”(...). Eu não tinha nada. Eu era uma
gota no oceano — diz Panisset, pintando com nuances de martírio aquela
campanha em que participava de “modestas” caminhadas com seus
correligionários alimentados “a banana e água”.
Naquelas
eleições, a evangélica Aparecida — mesmo nome da santa católica Nossa
Senhora de Aparecida — fez uma revelação ao povo gonçalense. Ao
derrotar, numa virada de última hora, a candidata Graça Matos, mostrou
que seria uma das grandes forças políticas do município. Seus
adversários a acusaram de ter espalhado jornais pela cidade com
fotomontagens em que Graça, na época com forte adesão do eleitorado
evangélico, aparecia vestida de “macumbeira”. A autoria nunca foi
provada.
Para
Panisset, “um dia” equivale à expressão “era uma vez” dos contos de
fadas. Deslumbrada com a própria história de ascensão política, usando
um inseparável anel talhado com a inscrição em hebraico “eu sou do meu
amado, meu amado é meu”, ela diz que se casou com a prefeitura. Subiu ao
altar — por assim dizer — no dia em que tomou posse no Executivo. Na
ocasião, vestia uma roupa cujo tecido fora comprado numa liquidação a R$
8,90, o metro.
À
frente do município desde 2005, ela não se mostrou tão econômica assim
com as finanças da nova família. Comprou desde merenda escolar a cimento
sem licitação ou com valores acima dos praticados no mercado. No
Tribunal de Contas do Estado (TCE), acumula, só em relação a condenações
entre 2010 e fevereiro de 2011, R$ 1,2 milhão em multas e débitos. Fora
o patrimônio declarado de R$ 144 mil, se depender do salário integral
como prefeita, levará nove anos para pagar a conta.
— Aparecida é uma das campeãs de irregularidades no estado — diz o conselheiro do TCE José Graciosa.
Aparecida
responde a onze ações civis públicas propostas pelo Ministério Público.
Uma delas chama a atenção por mostrar como o clã Panisset trata os
“bens da família”. Diz respeito à área da Saúde, que teve, em sete anos,
sucessivas crises e seis secretários. O atual é o irmão da prefeita,
Márcio Panisset. Essa ação do MP conta a seguinte historinha:
Um
dia...todos os veículos do setor de remoções da Secretaria de Saúde
foram desviados para transportar pessoas, bebida e comida para uma festa
de Márcio Panisset, num sítio em Itaboraí. Enquanto isso, durante
aquele 15 de dezembro de 2009, o setor de remoções ficou fechado.
Aparecida
diz estar tranquila sobre as denúncias. Dorme sem calmantes. Sorte
dela. Se precisasse de um Diazepam, durante boa parte de agosto e
setembro, e pedisse para um funcionário buscar no posto de saúde a um
quilômetro do seu gabinete, ia ficar na mão. Estava em falta!! Precisar,
ela não precisa, mas vai que “um dia”...
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