Mãe
Valnizia faz uma homenagem a Egbomi Cutu de Ogum. Foto: Raul Spinassé / Ag. A
TARDE: 2.12. 14
Valnizia Pereira Bianch
Ialorixá do Terreiro do
Cobre
As festas de Santo
Antônio, São João e São Pedro passaram, e na vida continuo pulando fogueiras,
lembrando de histórias e vivendo tantas emoções. Uma lembrança que trago dessa
fase era o amanhecer do dia, com a fogueira já em chamas bem baixas e as pessoas
assando milho verde e chouriça enrolada em papel pardo. Quando o papel pardo
pegava fogo, a chouriça estava assada, e se fazia uma farofa com o café adoçado
que tinha que estar frio para não embolar a farinha. Quando pronta, se comia a
chouriça com essa farofa e um café quentinho.
Saímos dessas
festividades e vamos para uma data histórica, o Dois de Julho, quando
comemoramos a Independência da Bahia. Nesse dia ou em outra data deste mês,
vários terreiros de candomblé fazem homenagem para os caboclos.
A influência dos
caboclos é tão importante na religião de matriz africana que antigamente as
pessoas que não tinham terreiro de candomblé faziam reunião para cultuá-los nas
suas casas. Muitas não eram nem feitas de santo, mas trabalhavam com os
caboclos. Eles atendiam e não cobravam nada, ensinavam até remédios e ebós. Na
maioria das vezes só batiam palmas ou em tabuinhas. Hoje já não se veem mais
cultos aos caboclos como esses.
Interrompi o texto
que falava sobre essas festividades juninas e históricas quando uma importante
egbomi, tia do meu terreiro, foi convidada por Iku para ir do Aiyê para o Orum.
É difícil em tão
poucas palavras falar de alguém como minha estimada tia e Cutu, que era
uma pessoa tão alegre e partiu justamente num dia da festa de Xangô Ayrá, um
dos orixás de que ela mais gostava.
Tia Cutu foi uma
pessoa muito importante na minha vida religiosa e também na do terreiro Engenho
Velho Ilê Axé Iyá Nassô Oká Casa Branca. Ao longo de 60 anos ou mais, ela
contribuiu de forma séria e dedicada. Durante quatro décadas, tive o privilégio
de vivenciar momentos ora alegres, ora tristes, de reflexão e de aprendizagem.
Eu costumava
chamá-la de “sargento”. Era uma mulher de Ogum, um “sargento” alegre, que fará
muita falta, pela dedicação incansável e pela resistência de manter uma
hierarquia do tempo dela. Ela brigava como uma forma de zelar pelo axé. E,
assim, continuava a sobreviver diante de todas as mudanças que as gerações
trazem.
Guardo dessa mulher
guerreira, além da minha história de irmandade do Engenho Velho, a relação com
o Terreiro do Cobre. Há anos ela me contou que quando criança muitas vezes
vinha andando da Curva Grande (região onde estão localizados o Instituto Médico
Legal Nina Rodrigues e o 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, na avenida
Centenário) ao Engenho Velho da Federação, pois a avó, Hortência de Omolu, era
filha de santo de Iyá Flaviana, ialorixá do Cobre e minha bisavó.
Tínhamos muitas coisas em comum. Essa mulher guerreira, festeira e que também era a líder religiosa do terreiro que dirigia em Mussurunga deixa a lembrança de muita alegria, traduzida nos festejos juninos e históricos desta época.
Tínhamos muitas coisas em comum. Essa mulher guerreira, festeira e que também era a líder religiosa do terreiro que dirigia em Mussurunga deixa a lembrança de muita alegria, traduzida nos festejos juninos e históricos desta época.
MÃE VALNIZIA ESCREVE MENSALMENTE
EM DIA DE XANGÔ, QUARTA-FEIRA
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