Salas de aula são palco para a homofobia todos os dias Todo ano, o MEC registra, em média, 6 mil casos de homofobia na rede pública do país
Paula Filizola - Correio Braziliense
Publicação: 28/05/2012 08:11Atualização:
Brasília – Ele gostava de passar o recreio conversando com as meninas e detestava jogar futebol. Os costumes e escolhas raramente associados ao sexo masculino logo renderam apelidos maldosos na escola. O principal deles, Ranibicha, era uma mistura do nome Ranielle, dado pela mãe, e do jeito considerado afeminado pelos colegas. "Eu apanhava muito. Muito mesmo", relata o menino sobre a época em que cursava o ensino fundamental na Escola Classe 36, em Ceilândia. A história de Ronie não é um caso isolado. Dados de 2011 da Unesco revelam que 40% dos homens gays sofreram bullying quando eram estudantes. Uma realidade que pode mudar caso prospere no Congresso a proposta aprovada na sexta-feira pela Comissão de Juristas que prepara o anteprojeto de reforma do Código Penal: a homofobia ser considerada crime.
Todo ano, o Ministério da Educação (MEC) registra, em média, 6 mil casos de homofobia na rede pública do país. Aos 10 anos, Ronnie Araújo — Ranielle mudou o nome na Justiça mais tarde — foi vítima pela primeira vez de bullying homofóbico. Quando tinha 12, levou uma revista com fotos sensuais de homens para a escola e, ao ser descoberto pela diretora, ela exigiu sua transferência. "Se fosse uma revista com mulheres, nada disso aconteceria", disse a diretora.
A oficial da Unesco para programas de educação e saúde, Rebeca Ontero, alerta para as consequências do bullying homofóbico. Segundo a especialista, é necessário reconhecer o problema e incentivar que os alunos informem ocorrências à diretoria da instituição. "As vítimas ficam mais vulneráveis e isso pode levar ao uso de drogas, prática de sexo inseguro, automutilação e até suicídio. A opção sexual dos alunos acaba levando à expulsão e ao aumento da evasão escolar", argumenta.
Apesar dos riscos, as ações contra o preconceito no Brasil ainda são tímidas e, muitas vezes, esbarram no conservadorismo de políticos, professores, diretores, colegas de turma e familiares, bem como em questões religiosas. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC mantém um programa de educação inclusiva e direito à diversidade com o objetivo de apoiar a formação de gestores e educadores. Em maio de 2011, o MEC chegou a criar um kit com material didático, do programa Escola sem Homofobia, para ser distribuído para professores de 6 mil escolas públicas, mas que foi vetado pela presidente Dilma Rousseff.
A abordagem do assunto em sala às vezes depende de experiências de vida dos professores. Hoje com 22 anos, Ronie cursa geografia e trabalha em uma livraria. Depois de assumir sua homossexualidade – aos 14 anos –, saiu de casa e, desde então, trabalha e estuda. Para ele, a infância marcada pelo preconceito serviu como lição. Quer ser professor e levar o tema da diversidade sexual e direitos humanos para seus alunos. "Vou ensinar cidadania. Uma das formas de quebrar essa corrente de preconceito é nas escolas", defende.
Rebeca concorda que o trabalho pontual é um dos caminhos alternativos. Apesar de ressaltar a importância de uma política nacional, sugere o combate de forma individual pelas escolas. "O MEC precisa desenvolver diretrizes nacionais inclusivas para capacitar professores e funcionários. Contudo, vale ressaltar que as secretarias estaduais e municipais também têm autonomia. O currículo brasileiro tem flexibilidade", avalia.
Memória
"Kit gay"
Por pressão das bancadas evangélica e católica do Congresso Nacional, a presidente Dilma vetou a circulação do "kit gay". A crítica era de que a ação estimularia a homossexualidade entre crianças e adolescentes. Na ocasião, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, afirmou que a presidente não tinha gostado dos vídeos e havia achado o material inadequado. Os kits custaram R$ 1,8 milhão aos cofres públicos.
Todo ano, o Ministério da Educação (MEC) registra, em média, 6 mil casos de homofobia na rede pública do país. Aos 10 anos, Ronnie Araújo — Ranielle mudou o nome na Justiça mais tarde — foi vítima pela primeira vez de bullying homofóbico. Quando tinha 12, levou uma revista com fotos sensuais de homens para a escola e, ao ser descoberto pela diretora, ela exigiu sua transferência. "Se fosse uma revista com mulheres, nada disso aconteceria", disse a diretora.
A oficial da Unesco para programas de educação e saúde, Rebeca Ontero, alerta para as consequências do bullying homofóbico. Segundo a especialista, é necessário reconhecer o problema e incentivar que os alunos informem ocorrências à diretoria da instituição. "As vítimas ficam mais vulneráveis e isso pode levar ao uso de drogas, prática de sexo inseguro, automutilação e até suicídio. A opção sexual dos alunos acaba levando à expulsão e ao aumento da evasão escolar", argumenta.
Apesar dos riscos, as ações contra o preconceito no Brasil ainda são tímidas e, muitas vezes, esbarram no conservadorismo de políticos, professores, diretores, colegas de turma e familiares, bem como em questões religiosas. A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC mantém um programa de educação inclusiva e direito à diversidade com o objetivo de apoiar a formação de gestores e educadores. Em maio de 2011, o MEC chegou a criar um kit com material didático, do programa Escola sem Homofobia, para ser distribuído para professores de 6 mil escolas públicas, mas que foi vetado pela presidente Dilma Rousseff.
A abordagem do assunto em sala às vezes depende de experiências de vida dos professores. Hoje com 22 anos, Ronie cursa geografia e trabalha em uma livraria. Depois de assumir sua homossexualidade – aos 14 anos –, saiu de casa e, desde então, trabalha e estuda. Para ele, a infância marcada pelo preconceito serviu como lição. Quer ser professor e levar o tema da diversidade sexual e direitos humanos para seus alunos. "Vou ensinar cidadania. Uma das formas de quebrar essa corrente de preconceito é nas escolas", defende.
Rebeca concorda que o trabalho pontual é um dos caminhos alternativos. Apesar de ressaltar a importância de uma política nacional, sugere o combate de forma individual pelas escolas. "O MEC precisa desenvolver diretrizes nacionais inclusivas para capacitar professores e funcionários. Contudo, vale ressaltar que as secretarias estaduais e municipais também têm autonomia. O currículo brasileiro tem flexibilidade", avalia.
Memória
"Kit gay"
Por pressão das bancadas evangélica e católica do Congresso Nacional, a presidente Dilma vetou a circulação do "kit gay". A crítica era de que a ação estimularia a homossexualidade entre crianças e adolescentes. Na ocasião, o secretário-geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, afirmou que a presidente não tinha gostado dos vídeos e havia achado o material inadequado. Os kits custaram R$ 1,8 milhão aos cofres públicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário