Projeto de intervenção realizado no município de Parnamirim-RN na ESF Centro, abordando o tema"VULNERABILIDADE DAS DSTs EM MULHERES QUE COMERCIALIZAM SEXO AS MARGENS DA BR 101 NO CENTRO DO MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM. : A REALIDADE", realizado por acadêmicos do 12º período de Medicina da Universidade Potiguar, orientado por Dra. Karla Damião e Dr. Lionaldo Duarte.
INTRODUÇÃO
Doenças sexualmente transmissíveis ou Infecção sexualmente transmissível, conhecida popularmente por DST, são patologias antigamente conhecidas como doenças venéreas. São doenças infecciosas que se transmitem essencialmente (porém não de forma exclusiva) pelo contato sexual. Várias são as doenças incluídas nas DSTs, e múltiplos os micro-organismos responsáveis por essas patologias (vírus, bactéria, fungos) o que acarreta em uma gama de sinais e sintomas, como corrimento, úlceras, dispareunia, entre outros. O uso de preservativo (camisinha) tem sido considerado como a medida mais eficiente para prevenir a contaminação e impedir sua disseminação.
Estima-se que, a cada dia, um milhão de pessoas adquira Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), incluindo a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Adultos jovens e adolescentes são responsáveis por quase a metade de todos os casos novos de DSTs(1-2).
As DSTs representam importante problema de saúde pública na atualidade, sendo mais prevalentes em populações que apresentam comportamentos de risco, como usuários de drogas ilícitas, homens que fazem sexo com homens e Mulheres Profissionais do Sexo (MPS)(2-3). MPSs têm sido consideradas um grupo de risco elevado para as DSTs. Muitas usam drogas lícitas e ilícitas e praticam sexo sem preservativos. Além disso, apresentam vulnerabilidades individuais, sociais e programáticas, como baixa escolaridade, grande mobilidade geográfica, difícil acesso aos serviços de saúde e barreiras relacionadas a gênero e estigmas sociais (4-5). Estudos têm mostrado taxas elevadas de positividade para DSTs em MPSs. Em uma metanálise, realizada com 99.878 MPSs de 51 países, identificou-se prevalência para o HIV de 11,8%(6). Já em uma coorte de cinco anos, realizada com 3.086 mulheres da Indonésia, observou-se aumento da prevalência de 11,0% para 19,0% e de 1,4% para 5,1% para a gonorreia e sífilis, respectivamente (5).
No Brasil, em estudo multicêntrico com 2.523 MPSs, de nove Estados e do Distrito Federal, verificou-se prevalência de 4,9% para o HIV e de 2,5% para sífilis(7). Em São Paulo(8), foi identificada prevalência de 67,7% para o HPV, 20,5% para clamídia, 4,0% para sífilis e 3,0% para tricomoníase. A Região Centro-Oeste do Brasil possui importante papel no cenário da prostituição e rota de tráfico internacional de mulheres(9-10).
MPSs podem funcionar como verdadeiras disseminadoras de DSTs em seu ambiente laboral e social, contribuindo, assim, para a manutenção da endemicidade dessas infecções. Além disso, elas apresentam elevada vulnerabilidade para essas infecções. Considerando que, para a elaboração de estratégias de prevenção de DSTs é imperativo conhecer o perfil de vulnerabilidade do grupo-alvo, o objetivo deste estudo foi investigar o conhecimento, comportamentos de risco e sinais/sintomas de doenças sexualmente transmissíveis em mulheres profissionais do sexo.
METODOLOGIA:
Estudo realizado com 15 mulheres que exercem comercialização do sexo em bordéis localizados no centro de Parnamirim, município localizado na região metropolitana de Natal- RN.
As participantes foram escolhidas de forma aleatória conforme presença na data da aplicação dos questionários, sendo orientadas sobre o projeto, e após lerem e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foram entrevistadas, utilizando-se um roteiro estruturado de questões sobre dados sociodemográficos (idade, escolaridade, cor), conhecimento sobre sinais/ sintomas de DST, HIV/ AIDS, conforme abordagem sindrômica contida no PCAP 2008 do Ministério da Saúde (11) (corrimento, ferida/ úlcera/ verruga vaginal), questionamentos a cerca de métodos preventivos como citologia oncótica, uso de preservativos. Investigação a cerca dos hábitos de vida (tabagismo, etilismo, drogadição).
Os critérios de inclusão no estudo foram: idade acima de 18 anos, fazer sexo em troca de pagamento e prostituir-se em Parnamirim. Após aplicação dos questionários foi ministrada uma palestra pelos doutorandos de medicina da Universidade Potiguar, com ênfase na transmissão e prevenção das principais doenças sexualmente transmissíveis. Seguida de distribuição de panfletos e preservativos, fornecidos pela secretaria de saúde local.
RESULTADOS
No presente estudo, com relação às características sociodemográficas das 15 mulheres profissionais do sexo (MPS) investigadas, observou-se que a grande maioria (86,6%) tem idade menor ou igual a 30 anos, sendo apenas duas (13,4%) acima dos 30 anos. A cor autodeclarada predominantemente foi parda (46,6%), em seguida de branca (26,7%) e da negra (26,7%). Em relação a escolaridade 53,2% referiam ter ensino fundamental incompleto, 20% ter ensino fundamental completo, 13,4 % ensino médio completo e 13,4% se declarou analfabetas. Referente ao estado civil, 80% afirmam ser solteiras e 20% casadas ou em relacionamento estável. Quando questionadas sobre o uso de álcool e fumo, 100% afirmam beber e 80% afirmam fumar. Sobre o uso de drogas ilícitas, nove mulheres (60%) afirmam fazer uso.
A tabela 1 mostra sobre sinais e sintomas presentes que já ocorreram na vida sexual das MPS. Mostrando que 46,6% delas nunca apresentaram ou não sabem informar os sintomas questionados, 26,7 % relataram ter apresentado verrugas na genitália e 26,7 % corrimento. Dessas que apresentaram, 50 % procuraram tratamento e outras 50% não procuraram.
Tabela 1 – Sinais/sintomas presentes na vida sexual.
Sinais e sintomas de DST nas MPS do Centro de Parnamirim RN
|
N
|
%
|
Verrugas Genitais
|
4
|
26,7
|
Corrimento
|
4
|
26,7
|
Não sabe/Não apresentaram
|
7
|
46,6
|
Total
|
15
|
100
|
Em relação aos fatores de risco para DST e Aids (tabela 2), 53,3% afirmam ter tido a sexarca antes dos 14 anos e 46,7% depois dos 14 anos. Em relação a quantidade de parceiros, todas (100%) afimam ter tido mais de 10 parceiros em sua vida sexual. Das MPS questionadas, 53,3% afirmam já ter tido relações sexuais com pessoas do mesmo sexo e 46,7 % relatam que nunca apresentaram. A maioria delas não faz uso de camisinha em todas suas relações (60%), enquanto 40% fazem o uso regular, cinco delas (33,4%) já fizeram uso da camisinha feminina e dez (66,6%) nunca chegaram a usar esse método. Quando questionadas se o uso de álcool pode influenciar na decisão de usar caminha ou não, a grande maioria (86,6%) afirmaram que influencia e 13,4 % afirmam não saber.
Tabela 2 – Fator de Risco para DST
Fator de risco para DST
|
N
|
%
|
Sexarca
Antes dos 14 anos
Depois dos 14 anos
|
8
7
|
53,3
46,7
|
Já teve mais de 10 parceiros em toda a sua vida?
Sim
Não
|
15
0
|
100
0
|
Já teve relação sexual com pessoa do mesmo sexo que o seu alguma vez?
Sim
Não
|
8
7
|
53,3
46.7
|
Usa camisinha em todas as relações?
Sim
Não
|
6
9
|
40
60
|
Já teve relação sexual usando preservativo feminino?
Sim
Não
|
5
10
|
33,4
66,6
|
O uso de álcool e drogas pode fazer com que as pessoas
transem sem usar camisinha?
Sim
Não
Não sabe
|
13
0
2
|
86,6
0
13,4
|
Na tabela 3, podemos ver os resultados sobre o questionamento de já ter realizado e em que condições realizaram o teste para HIV. Das MPS, oito delas (53,4%) afirmam já ter realizado o teste e sete delas (46,6%) nunca realizaram. Das que realizaram, 33,4 % afirmam ter feito por algum comportamento de risco, 26,6% por curiosidade, 20% por pré-natal e 20% não sabe o motivo.
Tabela 3 – Realização do teste de HIV e motivos por qual realizaram.
Teste HIV
|
N
|
%
|
Realizou o teste?
Sim
Não
Condições que realizaram o teste?
Curiosidade
Comportamento de risco
Pre-natal
Não sabe
|
8
7
3
2
2
1
|
53,4
46,6
37,5
25
25
12,5
|
DISCUSSÃO
As populações em estudo se compõem predominantemente por mulheres solteiras e jovens. Verificou-se baixa escolaridade na população estudada. Em relação aos sinais e sintomas de DSTs, mais de 46 % afirmam não saber ou não ter apresentado nenhum dos problemas questionados, dessa forma evidencia-se a desinformação das MPS em relação às DSTs e também a necessidade premente de maiores investimentos em estratégias de educação em saúde, visando a identificação dos sinais e sintomas para o grupo estudado, contribuindo assim para o diagnóstico precoce, melhor prognóstico e interrupção da cadeia de transmissão desses patógenos.
Quanto à realização do teste de HIV, oito mulheres referiram ter realizado o teste principalmente por curiosidade em detrimento do comportamento de risco e do fator pré-natal. Os dados colhidos demonstram um número elevado (46,6%) de MPS que não realizaram o teste em nenhum momento da vida demostrando a falta de conhecimento a cerca da importância do HIV e suas complicações nesta população de risco (2,4).
Neste estudo praticamente três em cada cinco mulheres não consideram o uso de preservativo durante as relações sexuais, apesar do fácil acesso a esse método. Nosso estudo corrobora com a metanálise (6) que mostra que os achados de percepção de vulnerabilidade das MPSs em relação a DST e uso de método de barreira ainda são escassos, sugerindo assim necessidade de ampliar o acesso dos programas preventivos no município. Ainda em relação ao uso de métodos de barreira, a grande maioria desconhece o preservativo feminino.
O uso de álcool, fumo e drogas ilícitas foi bastante prevalente na população estudada, em que 100% afirmam beber e 80% afirmam fumar. Sobre o uso de drogas ilícitas, nove mulheres (60%) afirmam fazer uso. Observamos uma estreita relação desses dados com o ambiente de trabalho que as MPSs estão inseridas (casa de drinks). As MPSs entrevistadas relataram comercialização de drogas ilícitas próxima a casa de drinks, facilitando o acesso a esses tipos de substâncias.
A população estudada apresentou múltiplos fatores de risco para neoplasia de câncer uterino, entre eles sexarca precoce, mais de 10 parceiros sexuais em toda a vida, não fazer uso de preservativo, baixa escolaridade. Visto que o câncer cervical está relacionado com infecção pelo Papiloma Virus Humano (HPV), frequentemente assintomática ou pouco sintomática, é importante fortalecer o vínculo dessas profissionais com a ESF para a realização da citologia oncótica periódica. Dessa forma, diminuindo a incidência de casos diagnosticados tardiamente que irão onerar o sistema de saúde.
CONCLUSÃO
A população estudada constituiu-se de MPSs adultas jovens, com baixa escolaridade e solteiras. Ainda, tinham conhecimento insuficiente quanto às DSTs/HIV, no tocante à transmissão do HIV e sinais e sintomas das DSTs, evidenciando, assim, o elevado risco e vulnerabilidade dessa população às doenças de transmissão sexual. O resultado do inquérito realizado corrobora com outros estudos no mesmo âmbito, ratificando as mulheres profissionais do sexo como de alto risco para infecção das DSTs e como potenciais disseminadoras de infecções transmitidas pelas via sexual. Além disso, segundo dados obtidos no referente estudo, evidenciou a maior exposição dessas mulheres aos fatores de risco para neoplasia cervical.
FOTOS
REFERÊNCIAS
1. Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico Aids e DST 2011. Ano 8(1). Brasília (DF): Departamento de DST/HIV/AIDS e hepatites virais; 2011. 162 p.
2. World Health Organization, Department of Reproductive Health and Research. Global strategy for the prevention and control of sexually transmitted infections: 2006 - 2015. Breaking the chain of transmission. Washington; 2007.
3. Wang K, Yan H, Liu Y, Leng Z, Wang B, Zhao J. Increasing prevalence of HIV and syphilis but decreasing rate of self-reported unprotected anal intercourse among men who had sex with men in Harbin, China: results of five consecutive surveys from 2006 to 2010. Int J Epidemiol. 2012;41(2):423-32.
4. Ayres JRCM, Calazans GJ, Saletti HC Filho, França- Júnior I. Risco, vulnerabilidade e práticas de prevenção e promoção da saúde. In: Campos GWS, organizador. Tratado de saúde coletiva. 2ªed. São Paulo: Hucitec/Rio de Janeiro: Fiocruz; 2009. p. 375-417.
5. Nurlan SN, Davies SCSC, Kaldor JJ, Wignall SS, Okoseray MM. Prevalence over time and risk factors for sexually transmissible infections among newly-arrived female sex workers in Timika, Indonesia. Sex Health. 2011;8(1):61-4.
6. Baral S, Beyrer C, Muessig K, Poteat T, Wirtz AL, Decker MR, et al. Burden of HIV among female sexworkers in low-income and middle-income countries: a systematic review and meta-analysis. Lancet Inf Diseases. 2012;12(7):538-49.
7. Szwarcwald CL. Taxas de prevalência de HIV e sífilis e conhecimento, atitudes e práticas de risco relacionadas às infecções sexualmente transmissíveis no grupo das mulheres profissionais do sexo. Tec Report Fiocruz, Brasil, 2010. [acesso 18 junho 2012]. Disponível em: http:// sistemas.aids.gov.br/prevencao2010/sites/default/files/ page/2010/18.06.2010/MR_CeliaLandmann.pdf.
8. Baldin-Dal Pogetto MR, Silva MG, Parada CMG. Prevalence of sexually transmitted diseases in female sex workers in a city in the interior of São Paulo, Brazil. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2011;19(3):493-9.
9. Ministério Público do Estado de Goiás (BR). Prostituição é atividade de 42 milhões de mulheres. Diário da Manhã [Internet]. 2012 [acesso 5 maio 2012]. Disponível em:http://www.mp.go.gov.br/portalweb/1/noticia/ eb7d046a02f08ce3651e09b6bdfad484.html.
10. Lima A, Silva J. Dinâmicas territoriais urbanas: a articulação do turismo e as profissionais do sexo em Goiânia – Goiás – Brasil. [acesso 8 maio 2012]. Disponível em:http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Geografiasocioeconomica/Geografiaurbana/259. pdf.
11. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. PCAP: Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira, 2004. Brasília, 2006
ARTHUR PEDRO MARINHO
IDÁLIA RADACI SANTIAGO DE ARAÚJO
HUDSON PINTO FERNANDES CORIOLANO
KELVIN JÁCOME SILVESTRE
MACERLY LAYSE DE MENEZES DANTAS
IDÁLIA RADACI SANTIAGO DE ARAÚJO
HUDSON PINTO FERNANDES CORIOLANO
KELVIN JÁCOME SILVESTRE
MACERLY LAYSE DE MENEZES DANTAS
http://www.redehumanizasus.net/87378-vulnerabilidade-das-dsts-em-mulheres-que-comercializam-sexo-as-margens-da-br-101-no-centro-do-municipio-de-parnamirim
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