Com 50 anos de sacerdócio, pai Balbino ganha biografia...

Conhecido como justiceiro, Aganju, incorporado
por Balbino, exibe suas ferramentas
Foto: Divulgação/ Haroldo Abrantes

Balbino saúda Egum Babá Okin. Sua família foi
pioneira no culto de Babá, na Ilha de Itaparica
Foto: Divulgação/ Dadá Jaques

Balbino exibe escultura que representa seu orixá, trazida por Pierre Verger da África. No quadro, Xangô Aganju pintado por Carybé
Foto: Divulgação / Pierre Verger

Vaidoso e meticuloso na sua função, Balbino
Daniel de Paula, foi autodidata no candomblé
Foto: Divulgação/ Dadá Jaques
Livro da jornalista baiana Agnes Mariano, 'Obaràyí'...
No primeiro encontro, sete anos atrás, um sinal inconsciente. Levada à presença de Balbino Daniel de Paula, 69, babalorixá do terreiro Ilê Axé Opô Aganju, em Lauro de Freitas, a jornalista baiana Agnes Mariano, 37, lhe estendeu a mão esquerda. Ele soltou uma gargalhada: “Você é feiticeira?”, questionou, curioso.
Conhecido como justiceiro, Aganju, incorporado
por Balbino, exibe suas ferramentas
Foto: Divulgação/ Haroldo Abrantes
O amigo Pierre Verger acompanhou o início de Balbino na religião
Foto: Divulgação/ Dadá Jaques
Um dia, enquanto Balbino recebia os preparativos para fazer o santo no Afonjá, Georgete, uma de suas irmãs do terreiro, sonhou que era chegada a hora de Obaràyí retornar. Revelou o acontecido a apenas uma irmã e calou-se, esperando a confirmação da premonição, que se fez verdadeira à vista de todos.
'Acho que talvez por isso ele seja tão importante. Balbino é lúdico e ao mesmo tempo majestoso. Ele vive o candomblé com a força e a beleza de um rei”, avalia a autora, que contou com o apoio da também jornalista Aline Queiroz, autora dos textos que apresentam as festas do calendário religioso dos terreiros.
Balbino saúda Egum Babá Okin. Sua família foi
pioneira no culto de Babá, na Ilha de Itaparica
Foto: Divulgação/ Dadá Jaques
Farta em material iconográfico, a obra é publicada com tiragem inicial de 3,3 mil cópias, algumas das quais serão distribuídas gratuitamente em bibliotecas e escolas da rede pública.
Xangô quis assim
Tudo começou cerca de uma década atrás por iniciativa do designer Dadá Jaques, 40, integrante da equipe do CORREIO, que hoje é um dos mobás de Xangô no Aganju. “Eu não era do candomblé, só queria autorização para usar a foto da Oxum de uma das filhas dele. Fui lá e me encantei com aquela história”, explica.
Tanto que, depois, conversando com Balbino, revelou ter vontade de publicar sua trajetória. “Ele me disse que várias pessoas já tinham pedido, mas que Xangô nunca havia permitido. Um dia, me disse que ‘Xangô quis assim’. Foi aí que começamos a trabalhar”, completa Jaques.
Balbino exibe escultura que representa seu orixá, trazida por Pierre Verger da África. No quadro, Xangô Aganju pintado por Carybé
Foto: Divulgação / Pierre Verger
Na edição bilíngue (português e inglês), o leitor acompanha a trajetória de Balbino desde os dias de Ponta de Areia,onde sua família iniciou o ancestral culto ao Babá Egum, sua vinda para Salvador, a rebeldia inicial contra as obrigações do candomblé, a relação com Pierre Verger, que o levou até a África, e, sobretudo, o testemunho de fé. Tudo numa linguagem acessível, pensada pra andar longe do olhar antropológico.
Regência com mão de ferro
O cotidiano no Aganju é puxado. Balbino Daniel de Paula acorda cedo, mesmo depois das festas, lê os jornais do dia e, só após da leitura que o mantém conectado com o mundo (em especial as dos segmentos de política e economia), é que sai da varanda para cuidar dos afazeres da casa.
Vaidoso e meticuloso na sua função, Balbino
Daniel de Paula, foi autodidata no candomblé
Foto: Divulgação/ Dadá Jaques
Tarefa que faz com a corda curta: fala grosso, xinga, não aceita nada mal feito de ninguém. Tudo tem que ser por inteiro, nada pela metade. “Eu não sou enjoado, eu sou rígido. Essa religião tem que ser respeitada e adorada e, enquanto vida eu tiver, tem que ser assim”, diz ele, que mantém esse rigor no próprio visual, nunca sendo visto descuidado, sem as joias ou com uma roupa mal-amanhada.
Jogo preciso
Depois de distribuir as tarefas, chega a vez de atender ao público em consultas que acontecem de segunda a quinta-feira, sempre pela manhã, na casa de Xangô, com horário marcado. Concorridas, sim, porque a fama divinatória de Balbino corre longe. Às vezes, é tanta gente que ele não consegue dar conta das miudezas do dia, como catar o feijão do almoço.
Quem dá a explicação é a produtora Flora Gil, que pediu seus conselhos diversas ocasiões. “O jogo dele é preciso, é matemático, você escreve e acontece”, opina a esposa de Gilberto Gil.
Depoimentos
'Homem bonito, vida bonita, obra bonita. Jamais o conheci, mas sua vida sempre correu paralela ou transversal à minha. A ponto de quando o projeto desse maravilhoso livro me foi apresentado, eu caí em mim que havia uma foto de Obaràyí na parede do meu escritório. Não há como fugir deste projeto. Não é um pedido, é um conselho. É mais que isso, é uma ordem de Xangô'.
Gilberto Gil, cantor e compositor
Gilberto Gil, cantor e compositor
'Quando o conheci, ele era um pequeno vendedor de quiabo no mercado, nem sabia ler, mas um sujeito que, como hoje, era perfeitamente contente de si. Ele mesmo não se sentia humilhado com ninguém e falava de igual para igual com qualquer pessoa, porque é filho de Xangô. O que é uma coisa grande. Não é um sujeito obsequioso que queria ser protegido pela gente, pelo contrário, ele se sentia capaz de proteger os outros, ele que não tinha um centavo no bolso. Era filho de Xangô'.
Pierre Verger, etnólogo
FICHA
LIVRO Obaràyí - Babalorixá Balbino Daniel de Paula
TEXTO Agnes Mariano e Aline Queiroz
FOTOS Dadá Jaques, Haroldo Abrantes, Pierre Verger, Mauro Rossi, Marisa Vianna, Lázaro Roberto, Chrissie Wirths, Anísio Carvalho, Arlete Soares, Gerhald Haupt, Pat Binder e Marcel Gautherot
LIVRO Obaràyí - Babalorixá Balbino Daniel de Paula
TEXTO Agnes Mariano e Aline Queiroz
FOTOS Dadá Jaques, Haroldo Abrantes, Pierre Verger, Mauro Rossi, Marisa Vianna, Lázaro Roberto, Chrissie Wirths, Anísio Carvalho, Arlete Soares, Gerhald Haupt, Pat Binder e Marcel Gautherot
EDITORA Barabô Design Gráfico e Editora
Bahia Afro Film Festival será em Cachoeira
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http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/com-50-anos-de-sacerdocio-pai-balbino-ganha-biografia/
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