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Mais um terreiro de umbanda é condenado à destruição em São Gonçalo - RJ
Pai Cristiano de Oxalá em frente ao centro, em São Gonçalo Foto: Thiago Lontra / Extra
Clarissa Monteagudo e Hieros Vasconcelos
Era o dia da liberdade, da abolição da escravatura e, na tradição da
umbanda, da festa dos pretos velhos, entidades que simbolizam os povos
do cativeiro. Mas, para Cristiano Ramos Batista, de 37 anos, herdeiro de
uma das mais tradicionais famílias umbandistas de São Gonçalo, 13 de
maio — e, especificamente, o de 2010 — tornou-se marco da luta contra a
destruição de seu patrimônio religioso.
Nessa data, a prefeita
Aparecida Panisset, evangélica, assinou um decreto desapropriando o
terreno onde está, há 40 anos, o Centro Espírita Umbandista Caboclo Pena
de Ouro, comandado por Cristiano. No dia seguinte, a decisão foi
publicada no Diário Oficial do município.
Esta semana, outro marco
da religião começou a ser posto abaixo na cidade: a casa no bairro de
Neves onde, há 103 anos, foi fundada a umbanda. A demolição poderia ter
sido evitada com um decreto da prefeita. Nesta quarta-feira, durante o
abraço simbólico ao berço da umbanda, integrantes de religiões de matriz
africana denunciaram que sofrem perseguição em São Gonçalo.
—
Vivemos numa cidade na qual, há oito anos, não há um governante que
respeite a diversidade religiosa do povo que o elegeu — afirma a
ialorixá Mãe Márcia de Oxum.
O imóvel do Centro Caboclo Pena de
Ouro será demolido para a construção de uma vila olímpica. Cristiano
entrou na Justiça contra a obra:
— Queremos o direito de dar continuidade ao nosso trabalho espiritual.
O
terreno do Centro Espírita Umbandista Caboclo Pena de Ouro tem 23 mil
metros quadrados. Cerca de 60% da propriedade são de mata atlântica, com
espécies nativas preservadas. O pai de santo, batizado na religião como
Cristiano de Oxalá, conta que, no último ano, funcionários da
prefeitura entraram na propriedade e começaram as obras. O religioso
reclama que nunca houve diálogo apesar das várias tentativas.
—
Tentamos negociar para que deixem pelo menos o espaço onde são
realizados os trabalhos espirituais. Estamos lutando há um ano. Já
fecharam a entrada da propriedade com tapumes, invadiram o terreno para
passar manilhas. Agora, as obras estão paradas porque a verba para a
vila olímpica foi bloqueada pelo Ministério dos Esportes — diz o pai de
santo.
O templo nasceu há 40 anos no bairro de Sacramento. Antes,
estava instalado em Niterói. A história de pai Cristiano de Oxalá tem
raízes no terreiro destruído anteontem no bairro de Neves.
— Meu
pai foi iniciado por Mãe Vitória, que frequentava o terreiro de Zélio de
Moraes — relata, referindo-se ao fundador da religião.
Além da
atuação religiosa, o Centro Espírita Caboclo Pena de Ouro distribui
cestas básicas nos fins de ano e cede espaço do seu terreno para
professores treinarem, gratuitamente, crianças no futebol:
— Somos
aceitos por toda a comunidade. Temos apoio de todos os comerciantes
locais, como de outros bairros que sempre nos prestigiaram na nossa
cidade.
Umbanda é o retrato do Brasil, diz pastor
Casa onde nasceu a umbanda em foto tirada em 2008: patrimônio histórico e cultural destruído Foto: Arquivo
Clarissa Monteagudo
A umbanda é um retrato da alma brasileira, e seu patrimônio deve ser
muito bem cuidado porque é parte da riqueza cultural do Brasil. Essa é a
opinião do teólogo e pastor presbiteriano da Igreja Reformada
Ecumênica, Alexandre Marques:
— A umbanda é uma religião de
profunda tolerância por ser, sobretudo, ecumênica. Em seus templos, há
imagens de Jesus, respeito à Bíblia, às tradições do Nordeste. É uma
religião que consegue congregar elementos diversos, justamente porque
representa um retrato da alma brasileira. Nosso povo é profundamente
mestiço e congregador.
Lição de democracia
Para o pastor, o
respeito às tradições e a capacidade de diálogo e tolerância com as
religiões são atos que preservam o espírito democrático do país inteiro:
—
Todo o patrimônio religioso deve ser respeitado como monumento. Cada
templo é uma referência porque mostra raízes distintas, mas que
enriquecem o povo inteiro. Seja um centro espírita, uma catedral
católica, uma igreja evangélica, um terreiro de candomblé.
Prefeitura de São Gonçalo poderá tombar terreno onde nasceu a umbanda
Pai Cristiano de Oxalá luta na Justiça para que seu centro não seja desapropriado pela prefeitura de São Gonçalo Foto: Clarissa Monteagudo
Clarissa Monteagudo
A luta da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa pela
preservação da história da umbanda em São Gonçalo, município onde nasceu
a religião, deu um passo decisivo ontem. Após quatro dias de
tentativas, as portas da prefeitura da cidade se abriram para os
religiosos.
No encontro com o chefe de gabinete da prefeita
Aparecida Panisset, Eugênio Abreu, foi protocolado um documento pedindo
tombamento do solo onde ficava a casa considerada berço da umbanda,
vendida e demolida para a construção de uma loja. No local, foi
realizada a sessão que fundou a religião, liderada pelo médium Zélio de
Moraes, em 1908. Hoje, só há escombros do pequeno imóvel localizado na
rua Floriano Peixoto, em Neves.
— Se você derruba o imóvel, ele
pode ser reconstruído. A secretaria da Presidência da República se
comprometeu, caso a prefeita ceda, articular a formação do Museu da
Umbanda junto ao Ministério da Cultura — disse o babalaô Ivanir dos
Santos.
Terreiro preservado
O pai de santo Cristiano de
Oxalá também contou o drama que viveu após ver o Centro Espírita
Umbandista Caboclo Pena de Ouro, fundado por seu pai, em Sacramento, ser
desapropriado pela prefeitura em 2010. No terreno, seria construída uma
vila olímpíca. Abreu explicou que o projeto mudou e o templo religioso
será preservado.
— Eu nasci nessa casa, aqui moram minha mulher e
minhas filhas. Pedi demissão de meu emprego, em São Paulo, para vir
defender minha família e meu solo sagrado. Quero ver esse novo projeto.
Essa propriedade é patrimônio da minha família. Não quero que um oficial
de justiça apareça um dia me mandando sair daqui — reclamou Cristiano.