Quadro de início de aula na rede pública é desanimador
Leandro Igor Vieira e
Roberto Lucena - repórteres
No
site da Secretaria de Educação de Natal, a seção que lista as mais de
150 escolas e creches de Natal é encabeçado pela seguinte declaração:
"Servir com excelência, contando com servidores competentes e
valorizados, primando todos pelo respeito ao cidadão". Não foi o que a
reportagem da TRIBUNA DO NORTE constatou na visita que fez às escolas
do Município durante o primeiro dia de aula. Das escolas e creches
visitadas, o problema se repetia: estudantes voltando para casa sem
saber quando as aulas realmente começariam.
Adriano Abreu
Escola Celestino Pimentel acolheu alunos, mas não sabe quando aulas devem começar
Na
Escola Municipal Celestino Pimentel, localizada na Cidade da Esperança,
zona oeste, era grande a expectativa dos alunos antes dos portões
abrirem. Às 7h20, quando a diretoria da escola finalmente liberou a
entrada das crianças, a notícia de que a possibilidade de greve
impediria o início das atividades esfriou o ânimo de pais e alunos. A
diretora da escola, Josyaurea Fernandes, lamentou o ocorrido, mas
explicou que, no dia seguinte, os professores compareceriam à reunião
para decidir sobre o paralisação, e que seria inviável começar as aulas
para, depois, aderir à greve. "Vamos ter apenas uma conversa inicial
para apresentar a escola. Não faz sentido começar agora, então,
infelizmente, preferimos esperar", disse.
Nevânia Gomes, mãe de
três filhos, um deles matriculado na Celestino Pimental, voltou para
casa cabisbaixa. Ela chegou do interior de Pernambuco há um mês e desde
então procura vagas no bairro onde mora, Cidade da Esperança. "Consegui
vaga para o mais velho, mas os menores, de 2 anos e 3 anos, ainda não
conseguiram se matricular nas creches mais próximas da minha casa",
conta a dona de casa. Naquela manhã Nevânia havia recebido a notícia de
que a creche Jesiel Figueiredo, no mesmo bairro, não poderia receber
seus filhos por falta de vaga.
Perto dali, na Escola Municipal
Luis Maranhão, em Cidade Nova, o problema não é a falta de vagas. Pelo
contrário, de acordo com a direção, as matriculas ainda estão abertas
para todos os turnos. O adiamento das atividades escolares, nesse caso,
se deve à falta da merenda e ao atraso do pagamento de uma parcela das
férias dos professores.
De
acordo com Edson Da Silva, diretor, a escola está sem fogão desde o
final do ano passado, o que inviabiliza a manutenção das crianças em
sala de aula. No momento em que a reportagem visitava o local,
professores se reuniam para decidir se iriam ou não aderir à greve.
"Tudo indica que sim, vamos esperar a decisão de amanhã", comentou
Edilson da Lima.
Pai de um garoto com necessidades especiais
matriculado na escola, Valdemário Félix, autônomo, desabafou: "quando
não falta merenda, falta aula ou professor". Ele e seu filho de 13 anos
também voltaram para casa mais cedo. Junto com ele, a irmã e a
sobrinha de 9 anos, que havia passado toda a noite anterior sem dormir,
de tão ansiosa para conhecer os novos colegas de sala. "A expectativa é a
mesma todo ano, mas depois desse balde de água fria fica difícil fazer
com que eles se empolguem", contou Vanusa Lima, mãe da garota.
Sindicato critica adiantamento da greveA
presidente do Sindicato dos Profissionais da Educação (SINTE), Fátima
Cardoso, se mostrou insatisfeita com a atitude dos professores que
optaram por adiantar a greve. "Já havíamos acertado na reunião da
quarta-feira que a paralisação só começará na segunda", informou. Os
professores exigem um aumento salarial de 22%. A proposta da Prefeitura,
encaminhada pelo secretário de Educação Walter Fonseca é de 10% de
reajuste, divididos em três meses (março, abril e maio). Os professores
recusaram a proposta.
CMEIsA
nossa equipe também visitou dois Centros Municipais de Educação
Infantil (CMEIs). No primeiro deles, em Pitimbu, as aulas só começarão
daqui a 15 dias. Inaugurado recentemente, o CMEI Professora Antônia
Jales ainda aguarda equipamentos e materiais para dar início às
atividades. As salas de computação ainda não receberam os
microcomputadores e ainda faltam materiais básicos, como cartolinas e
folhas de ofício.
Do outro lado da cidade, no bairro do
Planalto, o CMEI Arnaldo de Azevedo também estava de portas fechadas. A
informação repassada por vizinhos e por um funcionário do local, que não
quis se identificar, era de que o não envio da merenda havia adiado o
início das aulas para a próxima segunda. Procurados pela reportagem,
professores que se reuniam na escola não quiseram dar entrevista.
Município oferece aumento de 10%O
secretário municipal de Educação, Walter Fonseca, não chegou a um
acordo com os professores da rede pública municipal de ensino que
prometem entrar em greve a partir da próxima segunda-feira. Enquanto os
profissionais querem reajuste de 22,22%, o secretário disse ontem que a
Prefeitura não pode arcar com o pedido e fez a oferta de um aumento de
10%, dividido em três vezes, pago a partir de maio. Os professores vão
se reunir em assembleia hoje, às 8h30, para decidir se cruzam os braços.
A briga pode chegar à Justiça.
Caso os professores não acatem e
mantenham a intenção de iniciar a greve na segunda-feira, o secretário
disse que cortará a proposta dos 10%. Para Walter Fonseca, a greve tem
motivações políticas. "Nós temos mantido o diálogo com o sindicato desde
o ano passado. A conversa sempre foi fraternal, sadia. Já acumulamos um
aumento de 35,83% nos últimos três anos. Pagamos um salário superior ao
Piso Nacional. Não há o que contestar. Não posso afirmar com certeza,
mas acho que há motivações políticas nessa greve. Tanto política interna
como a sucessão municipal desse ano", disse.
A presidente do
Sindicato dos Trabalhos na Educação do Rio Grande do Norte (Sinte/RN),
Fátima Cardoso, chegou a afirmar, semana passada, que o indicativo de
greve estava praticamente suspenso. Porém, após assembleia na última
quarta-feira, o discurso mudou. "A categoria não aceitou a proposta. O
grande problema é que a administração não tem credibilidade com a
categoria. Já fizemos outros acordos que não foram cumpridos. Isso
deixou os professores desconfiados", alegou.
A proposta dos 10%
de aumento, que eleva o salário de professor com carga horária de 40
horas para R$ 2.668,60, será discutida hoje. Os professores querem
reajuste de 22,22%. Segundo Walter Fonseca, o Município não tem
condições de aceitar o pedido. "Não tem condições. Isso iria quebrar o
orçamento e estaríamos desrespeitando a Lei de Responsabilidade Fiscal. O
secretário julgou a proposta de 10% como a melhor na realidade atual.
NÚMEROSDe
acordo com o secretário, até agora, 38.777 alunos estão matriculados no
ensino fundamental (1ª a 9ª série) da rede municipal. Há ainda 1.672
vagas em aberto. O número de matriculados é menor no ensino infantil.
São 10.194 alunos inscritos e 341 vagas em aberto. Apesar disso, a SME
ainda conta com seis mil vagas no Programa Escola para Todos (PPET).
Fonseca explicou que, apesar de existiram vagas disponíveis na rede
pública, será necessário contar com os números da rede privada devido a
localização das escolas. "Há uma necessidade maior de vagas nas zonas
Norte e Oeste da cidade, por isso, mesmo com vagas nas nossas escolas,
precisamos contar com a rede privada", disse.
A Prefeitura do
Natal autorizou a contratação de seis mil vagas nas escolas privadas
para suprir o déficit na rede municipal de ensino. O número corresponde a
mais de 10% do total de vagas disponíveis nas escolas do Município e
terá o custo anual de R$ 3.600.000,00. As matrículas do Programa seguem
até o dia 15 de março.
EstadoO
primeiro dia de atividades na rede estadual de ensino trouxe problemas
diferentes. Na Escola Estadual José Fernandes Machado, em Ponta Negra,
os alunos tiveram aula em salas improvisadas. A obra que criaria novas
salas e espaços de convivência está paralisada há um ano.
A
biblioteca e a sala dos professores, lotadas de entulhos realocados
pelos trabalhadores da reforma, estão igualmente inutilizáveis. Orçada
em quase R$ 720 mil, a obra também previa a reconstrução de uma caixa
d'água, projeto que não saiu do papel. "O risco é que algum aluno
desavisado entre nesse espaço e acabe se acidentando", conta a diretora
Maria de Jesus. Na base da caixa d´'agua, um fosso com profundidade de
mais de dois metros é separado dos estudantes por um porta de madeira
improvisada.
Além da questão estrutural, faltam professores para
as disciplinas de português, matemática e química. "Os auxiliares de
limpeza contratados pela terceirizada JMT, que não recebem há dois
meses, estão em greve. Tenho vários abacaxis para descascar", conta
Maria de Jesus. Apesar das dificuldades, a diretora diz que as aulas
prosseguirão. Até o fim da quinta-feira, o Ministério da Educação (MEC)
e a Secretaria Estadual da Educação visitariam a escola para
vistoriar as instalações.
Na Escola Estadual Winston Churchil,
zona leste, a situação era um pouco melhor. Estudantes e professores
comparecerem às aulas normalmente, o que impressionou a diretora Maria
Eliane. "Nunca tive um início de aula tão promissor", contou. Segundo
ela, a reforma programada para escola deve começar dentro de quatro
meses, quando o processo licitatório que libera o início das obras for
encerrado. Nesse intervalo, as aulas serão ministradas no próprio
Winston Churchil, o que diminui o risco de evasão dos alunos. "Sei que
as salas atuais não são as melhores, mas esse é o jeito que encontramos
de manter o aluno mais perto da gente", completou.
Bate-papoBetânia Ramalho, secretária estadual de Educação
"Professores terão 22,22% de reajuste"Qual a novidade para os professores anunciada pela governadora Rosalba Ciarlini?A
governadora anunciou o cumprimento do piso nacional para os 956
professores e concedeu um reajuste de 22,22%. O anúncio é de que, a
partir de março, os professores que estão em sala de aula, profissionais
em cargos pedagógicos e professores técnicos na secretaria serão
beneficiados. Os inativos irão receber de forma escalonada. Isso ainda
será divulgado como será feito. A Lei do Piso prevê as duas categorias.
Isso representa um impacto de quanto?Consome
um pouco mais de 80% do investimento da Educação, ou seja, ficamos
limitados a parte de investimento. Precisamos correr atrás do Governo
Federal para conseguir recursos para dar conta das despesas, construção
de prédios, por exemplo. Precisamos construir cinco escolas com
urgência. Uma na zona Norte e as demais em bairros periféricos.
E a convocação dos aprovados no último concurso como está?A
convocação vai começar com a substituição dos estagiários. São
praticamente mil estagiários que darão lugar aos professores convocados.
Em seguida, vamos substituir os professores temporários nas escolas que
tiverem uma demanda maior. Isso está sendo programado. Ao todo são
2.900 professores aprovados e 600 técnicos pedagógicos que serão
chamados de acordo com o que definia o edital do concurso. Eles têm um
mês para trazer documento para o setor pessoal, passar em Junta Médica e
acredito que vamos começar a chamar nesse período.
Os professores anunciaram que vão paralisar as atividades a partir do dia 14...Nacionalmente há uma paralisação de 14 a 16 de março.
Depois do anúncio desse reajuste, houve uma conversa com o sindicato?Não houve. Eles foram pegos de surpresa.
A senhora acredita que eles vão desistir da greve?Acredito
sim. Qual seria a reivindicação? O que eles vão brigar? Vão brigar
agora pelo retroativo de janeiro? Brigar por Plano de Cargos e Salários
que foi aprovado pela gestão passada e foi empurrada para essa? A
governadora acelerou a progressão vertical. Colocamos em dia os
processos de aposentados. Estamos organizando a revisão do porte das
escolas, que é de interesse nosso também. As escolas mudaram muito. Além
disso, a governadora já solicitou a recomposição de uma comissão para
revisar a promoção horizontal. Coisa que foi barrada pelo próprio
sindicato.
O ano passado foi complicado com a paralisação dos professores...Muito
complicado. O sindicato atrapalhou muito com aquela greve. As coisas
não acontecem como o sindicato gosta. Eles tornaram a vida na secretaria
muito complicada.
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