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domingo, 22 de dezembro de 2019

Madame Satã. Total respeito a História que não se apaga...

"Eparey Togun...".

Madame Satã.
Total respeito  a História que não se apaga...

Resiliência de quem morreu pobre, Negro, gay, Religioso de Matriz Matriz Africana, Ousou a ser simplesmente ele. Mandame Satã,  João Francisco dos Santos,
  filho de Oya e Ogun...
*
“Eis a noite encantada, amiga do bandido;
Ela vem como cúmplice, a passo escondido;
Lento se fecha o céu como uma grande alcova,
E o homem impaciente em fera se renova.” Baudelaire...

Trocado quando criança por uma égua, para que a mãe pudesse sustentar os dezessete irmãos que permaneceriam, Madame Satã tornou-se uma figura emblemática e contraditória na luta contra os preconceitos arraigados na formação nacional. Negro, pobre e homossexual distinguiu-se de seus pares, sobretudo, pela coragem e inconformidade. Não foram poucas as vezes que frequentou e passou longos períodos encarcerado, cujos motivos que se repetiam tinham a ver com desacato, quando não atingia a prática da violência física que resultou, inclusive, no assassinato de um policial em 1928. Neste famoso caso teria sido insultado reiteradamente por suas condições, inclusive porque Madame Satã não escondia de ninguém qual a sua preferência sexual.
“Desordeiro. Pederasta passivo. Usa suas sobrancelhas raspadas e adota atitudes femininas, alterando até a prória voz. Não tem religião alguma. Fuma, joga e é dado ao vício da embriaguez. Exprime-se com dificuldade e intercala, em sua conversa, palavras da gíria de seu ambiente. É de pouca inteligência. Não gosta do convívio da sociedade por ver que esta o repele, dados seus vícios. É visto sempre entre pederastas, prostitutas, proxenetas e outras pessoas do mais baixo nível social. Inteiramente nocivo à sociedade.”

É essa a descrição de Madame Satã que consta em registro de 1932, encontrado em um dos 26 processos respondidos por ele durante sua vida.

Aos 7 anos, o menino João Francisco dos Santos, filho dos descendentes de escravos, Dona Firmina dos Santos e Seu Manoel Francisco dos Santos, foi trocado por uma égua, para que a mãe, recém-viúva, tivesse como alimentar seus outros 17 irmãos. Naquele tempo, quase duas décadas após a Lei da Abolição, a promessa de estudo que seu comprador fez à sua família não vingou e, então, o menino João foi feito de escravo na fazenda de seu “dono”.

Fugiu para o Rio de Janeiro com uma senhora que também lhe prometera vida mais mansa e digna de uma criança, mas chegando na então capital do Brasil, viu-se novamente escravizado, obrigado a trabalhar como faxineiro, cozinheiro, carregador e tudo o mais que Dona Felicidade lhe ordenasse.

Fugiu de novo. Aos 13 anos, João aprendeu a conquistar sua liberdade na marra. Criou-se na Lapa, quando o bairro vivia seus tempos áureos de boemia e Copacabana era apenas um sonho distante de uma tímida elite que começava a construir casas naquelas orla. Tentou ser vendedor ambulante, garçom, dormiu em caixas de feira e sonhou em ser artista. Eventualmete, caiu na malandragem, treinado por um dos maiores nomes daquela época, Sete-Coroas.

Destacava-se também por outras práticas. Valente, feroz e temido na Lapa, onde passou a residir ainda jovem levando seguramente, para os parâmetros da época, uma vida de malandro, entre michês, bandidos, sambistas e prostitutas, ficou conhecido como dos mais habilidosos capoeiristas de todos os tempos, jogo que utilizava para se proteger e erguer assim sua fama. O que salta aos olhos na trajetória de Madame Satã, porém, cujo nome de batismo, João Francisco dos Santos, foi apagado diante da imagem impressionante de sua personagem, é a desconstrução de paradigmas e a união de paradoxos. Apresentando-se em cabarés decadentes, contra tudo e contra todos, teve, no peito e na raça, o mérito de se exibir travestido com roupas femininas e entoando canções lânguidas e românticas, isto num universo predominantemente machista que se fazia obedecer pela lógica da violência.

Preto e pobre, aos 23 anos João era conhecido como “Caranguejo” por seu infalível soco de esquerda e por frequentar a Praia das Virtudes, onde ia nadar e conseguir o condicionamento físico que lhe permitia fugir da perseguição incansável da polícia.

João habitou o Rio numa época pré-Stonewall, pré-HIV, antes de o Brasil desenvolver seu movimento gay e, posteriormente, LGBT. Foi chamado de “boneca”, “bicha” e  “travesti”, muitas das alcunhas que usam para nos ofender até hoje e que, lá atrás, na década de 1920, Satã já havia criado a coragem para se apropriar dos termos e impo-los com orgulho, defendendo tanto a si mesmo quanto a quem quer que precisasse.

Como narra Rogério Durst na biografia “Madame Satã: Com o diabo no corpo” ( Editora Brasiliense, 1985): “[João] cuidava para que as putas, as bichas e os moleques da Lapa não sofressem perseguição. Pouca coisa acontecia na região sem seu conhecimento ou sua permissão”.

Foi no carnaval carioca de 1942, após mais uma saída da cadeia, que Madame Satã desfilou a fantasia com a qual ficaria nacionalmente e para a posteridade reconhecido. A partir daí, passou a vencer concursos que privilegiavam a temática homossexual frequentemente. Dentre os episódios mais controversos de sua existência consta a lendária briga que resultou na morte do compositor Geraldo Pereira, após este receber um soco desferido por Madame na barriga e tombar no chão, indo de encontro ao asfalto. Em 1971 concedeu uma polêmica entrevista para o semanário “O Pasquim”, em período de chumbo da ditadura militar, e ali começou a se cristalizar o mito em torno de Madame Satã, entre a arte e o submundo, dançarino e marginal. Definia-se, ele mesmo, como “Filho de Iansã e Ogum, e devoto de Josephine Baker”. Faleceu aos 76 anos.

Dois anos antes de sua morte, no entanto, serviu ainda como referência para o filme “Rainha Diaba”, dirigido por Antônio Carlos Fontoura, com argumento de Plínio Marcos, Milton Gonçalves no papel principal, e a presença marcante de Odete Lara. Interpretado no teatro, título de casa noturna em São Paulo, cantado em música por seu contemporâneo Noel Rosa, Madame Satã foi emblema de muitas faces. Já em 2015, recebeu homenagem da Portela, em enredo que versava sobre os 450 anos da cidade que o abrigou durante a maior parte de sua icônica trajetória. Quando em 2002 virou nome de filme protagonizado por Lázaro Ramos pôde-se constatar como a força de sua luta permanece chocante, irreversível, plástica e assustadora. Como um golpe de capoeira ou uma quebrada dos quadris na dança, em que não se distingue onde começa ou termina o bem do mal, a mulher do homem...

Biografia de Madame Satã escrita por Rogério Durst, com base em artigos de jornal, entrevistas do próprio, de amigos e de conhecidos (Foto: Reprodução)
Esse seu lado protetor o acompanhou até o fim. Ao longo da vida, entre uma prisão e outra – foram 26 processos que resultaram em um total de quase 28 anos encarcerado -, João adotou cinco filhos “de criação”. Em uma das tentativas de levar uma vida fora da malandragem, abriu na Lapa uma pensão para sua amigas prostitutas dormirem, no sentido puro da palavra, afinal, elas também mereciam um descanso.

Apesar da boa intenção, a empreitada acabou lhe rendendo mais uma prisão, já que, na cabeça do delegado, “uma casa com tantas prostitutas tem de ter prostituição”. Satã, que foi convocado à delegacia para testemunhar, apanhou de um dos policiais e acabou revidando. Foi inocentado pelo crime que motivou sua convocação, mas pegou um ano e meio pela agressão.
MULATA DO BALACOCHÊ
Além de malandro, pai, lutador e exímio cozinheiro, Madame Satã foi também a primeira travesti artista do Brasil. Apesar de ter reservado os momentos de feminilidade para o palco, rejeitando fora dele qualquer rótulo que atestasse contra sua fama de “macho”, se apresentava rebolando com uma saia vermelha em teatros da Praça Tiradentes , interpretando um número que ficou clássico em seu repertório com a música “Mulher de Besteira”. Seu sonho era viver uma versão brasileira de sua diva Josephine Baker e, para isso, assumia a alcunha de Mulata do Balacochê.

O primeiro lugar que Madame Satã viveu no Rio, ainda João e antes da fama de malandro, foi a Rua Joaquim e Silva, na região central entre os bairros da Lapa e da Glória, conhecida até hoje entre seus frequentadores como “Beco do Rato”. Foi ali que ele conheceu e ficou amigo da jovem Maria do Carmo Miranda da Cunha, a quem chamava de Bituca e que, anos depois, se tornaria o fenômeno Carmen Miranda, uma de suas principais inspirações para performances.

Cabe aqui um rápido paralelo histórico. No início do século XX, a Joaquim e Silva, como conta uma das atuais moradoras da rua, já era chamada de Beco do Rato por ser o ponto escolhido pelos malandros – também chamados de “ratos”, na época – para repartirem os frutos do dia “de trabalho”.

Com sua inseparável saia vermelha, Madame Satã assumia a alcunha de Mulata do Balacochê para se apresentar pelos teatros da Praça Tiradentes (Foto: Reprodução)
Hoje, mais de 100 anos depois, o beco segue resistindo como ponto da boemia noturna carioca, principalmente durante o Carnaval (como contamos aqui), onde fica apinhado de foliões cheios de glitter, suór e desbunde (a maioria LGBTs, diga-se de passagem).

Também resiste no que diz respeito à população trans: é ali, naquela região, que fica a Casa Nem, o principal reduto de acolhimento para travestis e transexuais no Rio de Janeiro, que hoje sofre com a iminência de um despejo a qualquer momento.

No nº 15, a rua também guarda um dos poucos sobreviventes da época que tiveram contato direto com Madame Satã: Seu Francesco, o sapateiro responsável por calçar João com seus sapatos brancos e amigo pessoal do malandro. Há mais de 50 anos no mesmo ponto, o imigrante italiano lembra com carinho e admiração do amigo: “Ele sentava aqui e ficava horas batendo papo comigo. Entrava e saía a hora que quisesse da prisão de Ilha Grande, ele mesmo falava”, comenta, com o sotaque inconfundível ainda preservado.

Seu Francesco guarda em suas gavetas um recorte de jornal, presente do próprio Madame Satã, que apesar de se declarar antissocial, não negava a fama. “Ele vinha e falava das entrevistas, que saiu no jornal e que até livro tinha lançado. Era um sujeito muito tranquilo, gente boa, todo mundo na rua gostava dele”, recorda.
Madame Satã fotografado com seu chapéu panamá durante um passeio pela Lapa (Foto: Reprodução)
As histórias que Seu Francesco tem para contar de Madame Satã, além do orgulho que o malandro sentia ao falar de seus filhos, são as mesmas que ele repetia para jornalistas e que, inclusive, é recontada pelos clientes da sapataria que ouvem a nossa conversa: ele vivia muito bem arrumado, sempre elegante; fazia questão de ter o sapato brilhando e não saía sem o chapéu panamá; mas também era bom de briga, conseguia derrubar uns 20 só com uma navalha na mão…

Eventualmente, Satã acabou por se isolar na Ilha Grande e não voltou mais para visitar a Lapa ou os amigos da Rua Joaquim e Silva. Na parede, a poucos metros da Casa Nem, uma pintura dele com o inseparável chapéu branco continua ali, observando seu canto, ao lado de pichações como “Meu cu é laico” e “Corpos visíveis travesty”.

Penso no que ele acharia dos novos rumos da região, que voltou a ser tão importante para a cena noturna quanto em seus dias de glória. Como se sentiria ao ver a rua apinhada de pessoas sambando durante o carnaval? Que formas encotraria para proteger a Casa Nem e as meninas que vivem por lá?

E como o seu lado artista reagiria a essa tsunami de talentos como Linn da Quebrada, Liniker, As Bahias e a Cozinha Mineira e tantos outros que, hoje, décadas depois de sua morte, estão conseguindo criar espaço para a arte de pessoas trans no cenário cultural brasileiro?

Até a história de como nasceu a alcunha Madame Satã, um ponto de sua trajetória que também está inevitavelmente ligado à liberdade, passa pelo tino artístico de João. Em 1838, ele foi convencido por amigos a participar do concurso de fantasias do bloco Caçadores de Veados, no Teatro República.

Com capa, máscara e lantejoulas, criou uma roupa inspirada nos morcegos de sua terra e levou o 1º lugar na disputa, faturando um rádio e um enfeite de parede.

Passaram-se os dias e, numa noite em que estava conversando com suas amigas travestis no Passeio, próximo à Cinelândia, o grupo foi todo levado à delegacia de polícia por “vadiagem”.

Chegando lá, o delegado pediu o nome das travestis e, ao ver que João recusava-se a dar qualquer tipo de identificação, o cara o reconheceu como o vencedor do “concurso das bichas”. Associou a fantasia ao filme “Madame Satã” (“Madam Satan”, de Cecil B. DeMille), que acabara de estrear no Brasil, e assim batizou João com o nome que, mesmo a seu contragosto inicial, o acompanharia até o túmulo.Para quem já estudou a história de Madame Satã, houve um ponto crucial para que o mito se mantivesse vivo: sua entrevista para O Pasquim, uma das mais famosas já publicadas pelo jornal, em 1971, seis anos após sua última prisão em Ilha Grande.

Em conversa com Sérgio Cabral, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Chico Júnior, Paulo Garcez, Jaguar e Fortuna, Satã falou abertamente sobre seus casos de polícia, as amizades com gente como Noel Rosa e Chico Alves, os anos encarcerado e alguns dos causos que o imortalizaram no imaginário popular. Até receita de peixada ele passou! Dali, foram extraídas falas que se tornaram quase que bordões do entrevistado, como: “Enquanto eu viver, a Lapa viverá”.

– Você tem consciência de que você é uma figura mitológica no Rio de Janeiro?

– É o que diz a sociedade, não é? Só que tem que eu sou anti-social.

O historiador James N. Green, uma das principais vozes nos estudos do movimento LGBT+ no Brasil, atesta em um artigo sobre a importância da entrevista: “O diálogo entre os intelectuais boêmios dos anos 1960 e a auto-identidade ambígua e fluída de Madame Satã revela uma intrigante remodelação dialética de seu modo de vida”.

Há também o trecho em que o próprio Satã narra um dos principais motivos de seus constantes embates com a polícia:

“Essa mania da polícia chegar, bater e começar a fazer covardia, eu levantava e pedia a eles pra não fazer isso. Afinal de contas, se o sujeito estiver errado, eles que prendam, botem na cadeia, processem, tá certo. Agora, bater no meio da rua fica ridículo. Afinal, nós somos seres humanos”Um dos principais embates entre Madame Satã e a polícia carioca do século XX era sua recusa em aceitar o abuso de poder por parte dos oficias, fosse contra ele ou contra qualquer outro habitante da Lapa (Foto: Reprodução)
Nas palavras de Rogério Durst, a diferença entre João e outros malandros da época foi a que “ele viveu para contar a história; e sabia como conta-la”. O burburinho que seguiu a entrevista d’O Pasquim em torno da figura de Satã elevou o seu status de lenda carioca a personalidade e estrela da época, um sobrevivente dos tempos áureos da Lapa. João começou a receber convites para entrevistas, apareceu no SBT ao lado de Elke Maravilha (com quem se deu super bem, diga-se de passagem) e assinou uma autobiografia que passou a carregar consigo de bar em bar, na tentativa de ganhar um trocado extra.

– Mas você é homossexual?

– Sempre fui, sou e serei.

Mas, como é de se esperar, o tal trocado nunca veio. Madame Satã faleceu em decorrência de um câncer pulmonar, em 1976. Pouco antes de sua morte, foi encontrado por Jaguar e outros amigos, internado como indigente no hospital de Ilha Grande. Nessa época, já tentava levar a vida como cozinheiro, fazendo pratos para festas e casamentos. Em seu enterro, o último desejo cumprido: o de ir embora com seu chapéu panamá e duas rosas vermelhas sobre seu caixão.

Ainda assim, o reconhecimento tardio serviu para lhe proporcionar um último prazer, o sonho de ser um artista reconhecido. Em 1974, dois anos antes de sua morte, ele estrelou a peça “Lampião do Inferno”, vivendo, vejam só a ironia, Satã (ou Satanás, como vocês preferirem). Ao lado de duas atrizes iniciantes, “umas tais de” Elba Ramalho e Tânia Alves, teve seu nome como destaque dos pôsteres que ciruclavam anunciando a montagem e tornou-se a atração principal do espetáculo.

No aniversário de 10 anos da sua morte, O Pasquim publicou uma matéria de capa (acima) sobre Madame Satã, com fotos de sua apresentação em "Lampião do Inferno" e uma entrevista excluiva (Foto: Reprodução)
No aniversário de 10 anos da sua morte, O Pasquim publicou uma matéria de capa (acima) sobre Madame Satã, com fotos de sua apresentação em "Lampião do Inferno" e uma entrevista excluiva (Foto: Reprodução)
Não existe sequer um único registro sobre Satã que não atente para a ambiguidade entre os fatos de ele ser um malandro temido e, ao mesmo tempo, um homossexual assumido. Ele mesmo faz questão de frisar esses dois traços de sua personalidade, sempre que questionado sobre o assunto: “Sempre fui, sou e serei homossexual”, disse a O Pasquim, no mesmo fôlego em que pregava moralismos como “não precisa andar de namorado” e coisas do gênero.

Não existe texto, reportagem, filme, livro, música ou peça de teatro que consiga contar a história inteira e verídica de Madame Satã. Nem ele mesmo, em sua autobiografia narrada a Sylvan Paezzo, em 1972, conseguiu o feito: suas datas não batem com os poucos registros oficiais, suas histórias mudam de versão com outras narrada por ele mesmo. Sua memória, a essa altura, já se mistura entre a lenda criada em volta do mito e os poucos traços que permanecem no conto passado boca-a-boca pela Lapa.

Fato é que a história de Madame Satã se confunde com a do Brasil e a dxs brasileirxs. Sabe-se lá até que ponto o convívio com o jovem João não influenciou a pequena Bituca a se transformar em Carmen Miranda. Ou Elba Ramalho, que era carregada por ele após suas apresentações para cantar nos cabarés e bares da Lapa? E o que ele não conversou com Luiz Carlos Prestes quando ambos estavam simultaneamente encarcerados em Ilha Grande, durante a Ditadura Militar?

Satã esteve sempre ali na história, fosse brindando na Lapa madrugada afora com Chico Anysio e Noel Rosa, fosse espreitando dos cabarés e dos becos do bairro. Suspeito (com quase certeza), que se não fosse preto, pobre e travesti, a história teria lhe tratado com mais respeito, talvez ao ponto de que ele conseguisse mudar a sua própria.

Último registro fotográfico de Madame Satã com vida, feito durante sua estadia no hospital de Ilha Grande, pouco antes de sua morte (Foto: Reprodução)
Último registro fotográfico de Madame Satã com vida, feito durante sua estadia no hospital de Ilha Grande, pouco antes de sua morte (Foto: Reprodução)
Após seu falecimento, ele já foi transformado em peça de teatro pela companhia mineira Grupo dos Dez, que usou sua história em musical para debater a homoafetividade da população negra. Invadiu o audiovisual com a cinebiografia dirigida por Karim Aïnouz e que ajudou a revelar o talento ainda iniciante de um jovem Lázaro Ramos. Virou cifra pelas mãos de artistas como Noel Rosa e até Nação Zumbi, na música “Caranguejo da Praia das Virtudes”. Ironicamente, seu nome rendeu também um inferninho underground em São Paulo, que era a cena do rock paulista na década de 1980.

Hoje, 110 anos após a chegada de Madame Satã ao Rio de Janeiro, e 130 após o suposto fim da escravidão, o Brasil é o lugar que mais mata transexuais no mundo, enquanto a população negra é simultaneamente a que mais morre no país. Enquanto tentamos discutir nesta edição da Híbrida o conceito tantas vezes fajuto de liberdade, fica impossível não lembrar dessa figura que a exerceu em tempos e circunstâncias tão ou mais difíceis do que as encaradas em 2018. Mais do que nunca, é preciso lembrar nossa história para mudar nosso futuro.

Madame Satã, presente

domingo, 1 de dezembro de 2019

DIA INTERNACIONAL DESAFIOS HIV/AIDS NO RN E NO MUNDO...SUB NOTIFICAÇÃO E SUCATEAMENTO DE AÇÕES E Políticas públicas...








taxa de detecção de casos de aids em Natal saltou de 13,2 para cada grupo de 100 mil habitantes, em 2006; para 31,9, no ano de 2017. Ou seja, o aumento foi de 141%.

Os números informados pelo Ministério da Saúde foram revelados, nesta terça-feira (26), pelo jornalista Dinarte Assunção. Nacionalmente, houve leve queda no número de casos. A taxa do Brasil era de 19,9% em 2006 e de 18,3% em 2017.

No Nordeste, Natal teve o maior crescimento entre 2006 e 2017 em um comparativo com todas as capitais da região.



Confira:

Natal de 13,2 para 31,9, aumento de 141%

Aracaju de 16 para 27,4, aumento de 71%

Maceió, de 18,8 para 31,3, aumento de 66%

São Luís de 29,6 para 47,6, aumento de 60%

João Pessoa de 17,4 para 25,8, aumento de 48%

Teresina de 19 para 27,7, aumento de 45%

Fortaleza de 20,5 para 27,1, aumento de 32%

Salvador, de 23,1 para 24,9, aumento de 7%

Recife, de 35,7 para 36,9, aumento de 3%.

Dados do relatório do Programa das Nações Unidas para o HIV/Aids revelam que o contágio do vírus na América Latina cresceu 7% entre 2010 e 2018. A nível global o relatório aponta a diminuição de casos. O Brasil conta com um aumento de 21% do índice. De acordo com o relatório, para diminuir o índice é necessário focar as políticas de prevenção para os homens homossexuais e as mulheres transsexuais, estas últimas com um aumento de 4% na América Latina.

Em 2019 Bolsonaro excluiu o termo “AIDS” do departamento nacional que trata sobre DST’s. Embora o governo tenha garantido que as estratégias de combate e prevenção do HIV vão continuar sendo aplicadas, a retirada do termo do nome oficial do departamento revela a conotação de invisibilidade e falta de compromisso com a vida das pessoas da comunidade LGBTI+. Soma-se a isso o sucateamento do SUS e a redução orçamentária das ações de combate ao vírus que leva a crises de abastecimento de remédio em diversos estados do Brasil. A nociva estratégia de Bolsonaro é matar e deixar morrer as populações negra, pobre e LGBTI+, usando da política da morte para o controle da população e da ideologia para a falsificação da realidade.

*Clarissa Nunes é advogada criminalista e membra da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

Edição: Monyse Ravenna

Dia Mundial de Combate à Aids é celebrado neste domingo (1), e o Brasil, que já foi considerado uma referência internacional pelo programa de tratamento e prevenção da doença, apresenta, atualmente, dados preocupantes e cortes em políticas públicas. Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos, houve um aumento de 21% nos casos de pessoas com HIV/Aids no país.

As políticas públicas do governo atual de Jair Bolsonaro demonstram pouca preocupação com ações de prevenção. Houve precarização no Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), suspensão de kits de prevenção e cortes de canais de comunicação dedicados à divulgação do tema.

Para Mario Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP) que acompanha as políticas de combate à epidemia no país há mais de 30 anos, a resposta brasileira à aids sempre dependeu, principalmente, de quatro pilares: a distribuição gratuita de medicamentos, bons serviços públicos e uma política baseada em evidências científicas e direitos humanos. Além desses, o pesquisador cita o trabalho das organizações não governamentais (ONGs) e a inclusão das populações mais vulneráveis na discussão e elaboração dessas políticas.

Scheffer acredita que, no momento atual do país, esses pilares estão sendo ameaçados. “O programa de combate à aids foi concebido dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). No momento em que ele corre riscos – e aí estou me referindo, por exemplo, ao acirramento do subfinanciamento público, o teto de gastos federais que irá incidir nos serviços públicos, inclusive nos serviços nos serviços que atendem HIV e aids –, isso pode piorar ainda mais [os equipamentos] que já estão sucateados, lotados e com falta de médicos”, alerta.

A Emenda Constitucional Nº 95, conhecida como Emenda do Teto dos Gastos Públicos, à qual Scheffer se refere, determinou o congelamento de investimentos públicos do governo brasileiro com saúde e outras áreas sociais por 20 anos. A medida foi aprovada em 2016, durante o governo de Michel Temer.

Combate e prevenção
HIV é a sigla em inglês para vírus da imunodeficiência humana, o causador da aids. Ter o vírus não significa desenvolver a doença, e muitas pessoas soropositivas podem ficar anos sem apresentar sintomas. Mesmo assim, elas podem transmitir o HIV ao ter relações sexuais sem proteção, compartilhar seringas contaminadas, por meio de transfusão com sangue contaminado e, no caso de gestantes e lactantes, da mãe para o filho caso não se tomem medidas preventivas.

Para Maria Clara Gianna, coordenadora do Centro de Referência e Treinamento DST/AIDS-SP do Estado de São Paulo, as estratégias de combate à epidemia no país já obtiveram resultados extremamente positivos ao longo das últimas décadas e devem ser protegidas e valorizadas.

Como destaque, ela cita a redução de 16% de mortes decorrentes da aids nos últimos dez anos e a extinção da transmissão do HIV de mãe para filho, alcançada no estado de São Paulo recentemente. A médica afirma que o programa de combate e prevenção da transmissão do vírus é histórico e deve ser tratado independentemente de mudanças de políticas de governo específicos.

“Essa organização [de políticas públicas de combate à aids] ao longo do tempo foi uma organização de sucesso. Isso não pode se perder. É uma política de Estado, construída ao longo de três décadas, e que precisa se manter ao longo do tempo”, defende.

Populações mais vulneráveis

Apesar de ter conquistado grandes êxitos historicamente, a política de combate à aids tem também fragilidades. Entre os destaques é a atenção específica às populações mais vulneráveis à infecção. Durante o governo Bolsonaro, as campanhas dirigidas a públicos específicos foram desconsideradas e canais de comunicação nas redes sociais que tratavam especificamente do tema foram extintos.

Para Gianna, entretanto, um dos principais aspectos do sucesso de políticas públicas de prevenção e tratamento está justamente em um promover uma comunicação que consiga chegar nas pessoas.

“Nunca podemos deixar de valorizar o trabalho com as populações mais vulneráveis: entre as trabalhadoras do sexo, travestis, mulheres trans, homens trans, homens que fazem sexo com homens. Porque eles são os maiores alvos. E [fazer isso] nas linguagens dessas populações. Chegando perto dessas pessoas”, afirma.

Esses são os grupos que apresentam uma prevalência maior da doença, mas não são os únicos grupos de risco. A aids pode afetar todas as pessoas, de todas as idades, raças, orientações sexuais e identidades de gênero.

Informação

Um exemplo de iniciativa que tem respondido a lacunas deixadas pela ausência de campanhas do governo para informar a população sobre HIV/aids são canais criados nas redes por pessoas soropositivas, que compartilham informações e contam sobre o dia a dia de conviver com o vírus hoje no Brasil, com a proposta de desconstruir mitos e preconceitos.

O ator Drew Persí descobriu que era soropositivo em 2013. Depois de passar seis anos sem falar publicamente sobre o assunto, decidiu criar conteúdo específico sobre o tema em seu canal no YouTube.

“Eu comecei a sentir, a perceber que a falta de informação estava matando as pessoas. Que as pessoas precisavam de mais informação. Eu ouvia coisas e queria dizer ‘não é bem assim, as pessoas não são assim como você pensa’, mas eu não podia dizer, porque ainda não era público [que eu era soropositivo]. Foi então que decidi comprar essa briga. Se a gente quer derrubar esse estigma e quebrar esses tabus, a gente precisa de histórias reais, contando histórias reais”, afirma Persí.

A falta de informação dirigida e a necessidade de acolhimento adequado são motivos que atraem seguidores para o canal do ator. “[Na rede pública] estão distribuindo diagnóstico e mandando essas pessoas para casa, sem dizer que existe acompanhamento psicológico e esquecendo de dizer que vai ficar tudo bem”, critica.

Para ele, o diálogo precisa ser diferente, e as campanhas não podem se limitar ao mês de dezembro e ao carnaval, e serem esquecidas durante o resto do ano. “As campanhas que a gente vê são sempre pautadas com a mensagem ‘use camisinha’. Só. Hoje há tantas formas de prevenção que precisam ser discutidas”, destaca.

Mario Scheffer faz uma defesa no mesmo sentido. Para ele, é necessário, hoje, proporcionar uma nova mobilização da sociedade, com criatividade e novos formatos de comunicação, que desconstruam a ideia de que a epidemia está paralisada no país.

“O momento seria de tentar convencer parte da sociedade de que a aids continua sendo um seríssimo problema de saúde pública. O Brasil tem algumas ferramentas importantes, mas o que percebemos, até pela lentidão de respostas dos indicadores de controle da aids, é que o país poderia reduzir muito mais o número de mortes”, afirma o professor.


terça-feira, 12 de novembro de 2019

"Perguntaram na Filha do Panafricanista Simão Bengui Eduardo, que estuda na Escola 385 do Panguila (Bengo-Angola) da 9 Classe, sala 6.






"Perguntaram na Filha do Panafricanista Simão Bengui Eduardo, que estuda na Escola 385 do Panguila (Bengo-Angola)  da 9 Classe, sala 6.

1. Professora: Como te Chamas?

R/: Yemanja Nguima

2. Professora: Yemanja? Quem é?

R/: Deusa divindade africana, Orixa do Rio que posteriormente passou para a Deusa  do Mar, é venerada na espiritualidade Yoruba Africana (Nigeria, Benin) e no Brasil;

3. Professora: porque deste nome?

R/: Sou Africana é  claro que o meu nome deve partir das nossas crenças, nossa ancestralidade e nossos heróis;

4. Professora: és Cristã?

R/: Não, sou uma simples Africana....

5. Professora; os teus pais não rezam? Não vão a Igreja?

R/: Não, os meus pais não são religiosos, não frequentamos Igrejas, e não rezamos, apenas agradecemos a existência, aos ancestrais pela vida;

6. Professora: Então vocês não acreditam em Deus, Jesus?

R/:Não, acreditamos na Natureza, na vida e nos ancestrais, acreditamos no Molimo (energia).

7. Professora: Então quem é vosso Deus?

R/: Ngana Nzambe, Nzambi a Mpungu, mas não é pessoa é energia (molimo) que sentimos, vivenciamos em tudo que existe...

8. Professora: Então você não sabe o que é salvação. Assim quem é o teu salvador?

R/: Os meus ancestrais, os que morreram para eu ser uma Menina livre do sistema colonial religioso e capitalista..

9. Professora: Hahaha você é engraçada menina, és estranha, tens cá umas ideias...você não é normal, qual é a sua Etnia, a sua origem?

 R/: Sou Mukongo, pertenço ao povo Bakongo aqueles que construíram o Império Kongo;

10. Professora: viste, eu sabia, os Bakongo são assim, ensinam estas coisas estranhas das tradições nas crianças. Assim qual é a sua Língua?

R/:A nossa Língua é  Kikongo, mas eu nasci cá em Luanda falo o Português a Língua do colonizador Português fazer o que ne?

Mas estou aprender o Lingala que o pai nos ensina por ser uma língua Africana facil de falar e ouço também nas músicas do JB. Mpiana, Ferre Gola, Werrason, Watanabe..

11. Professora: Qual é o teu sonho Menina?

R/: Ser Cientista, gosto de pesquisar...

12. Professora:Ok, mas você é estranha..

R/: Os meus pais já me disseram assim que eu me identificar vão me chamar de estranha e não sei porque...

13. Professora: Esquece isso...

R/: Não tem como estou ligada a isso...

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Foto: Ilustrativo

Simão Bengui Eduardo II

Radini Sevla

Encontro Estadual do fórum dos direitos da criança e adolescentes do RN...

II SIEQUIDADE: INTERSETORIALIDADE E FATORES MULTICULTURAIS NA PROMOÇÃO À SAÚDE.









A Subcoordenadoria de Informação, Educação e Comunicação – SIEC promoverá nos dias 2 e 3 de dezembro de 2019, o fórum:II SIEQUIDADE: INTERSETORIALIDADE E FATORES MULTICULTURAIS NA PROMOÇÃO À SAÚDE.Este fórum tratará das demandas em saúde dos segmentos sociais que vivem em situação de maior vulnerabilidade social e nosso objetivo é promover o debate nas questões pertinentes a saúde destas populações que compõem os comitês técnicos de promoção à saúde, ou seja:o comitê de equidaderepresentado pela Populaçãoem situação de rua, Ciganos, Campos, florestas e águas, Povos de religiões de matrizes africanas, População indígena e LGBTQI+ e ocomitê da População Negra e Quilombola.
Contamos com sua presença!










segunda-feira, 11 de novembro de 2019

VALORES CIVILIZATÓRIOS AFRICANIDADES...




CIRCULARIDADE
Todos nós conhecemos o prazer que advém do ato de sentar em roda com amigos para contar histórias, fazer música, brincar com jogos ou manifestar a religiosidade. Os próprios valores civilizatórios são bons exemplo de circularidade. A vida é cíclica. Podemos estar muito bem agora e numa posição ruim depois até que voltemos a um estado satisfatório. A humanidade inteira permanece unida por este sentimento circular.

“O terreiro tem o papel importantíssimo de resgatar a Mãe África, mesmo que através de uma nostalgia, de um lamento. E é esse território representado pelo círculo que vai reaparecer em várias atividades, de cunho religioso e também no espaço lúdico. Essa mesma roda está presente na capoeira, no jongo, no tambor de crioula, na gira da umbanda e no samba”.
RELIGIOSIDADE
Para a nação afro-descendente, religiosidade é mais do que religião: é um exercício permanente de respeito à vida e doação ao próximo. A propósito, em tempos de tanta violência gratuita, vale pontuar que a vida é um dom divino, de caráter transcendental, e deve ser usada para cuidar de si e do outro.

“A cada dia acontece uma lição de vida. Aprende-se de tudo, a comunicação com os mais velhos, com os mais novos, o trabalho em grupo fazendo-se o que gosta ou que não gosta; e, sobretudo, aprende-se o gosto pela vida, numa estreita relação com o Orixá” (Mãe Stella)
CORPOREIDADE
Este conceito nos ensina a respeitar cada milímetro do corpo humano, que deve estar presente em cada ação e em diálogo com outros corpos. As demandas corporais devem ser consideradas. Afinal, o corpo atua, registra nele próprio a memória de várias maneiras, seja através da dança, da brincadeira, do desenho, da escrita, da fala. Das músicas às danças, com tudo o que elas anunciam e denunciam. Os corpos dançantes revelam memórias coletivas.

“Aprendemos que as danças circulam e que o corpo informa sobre a vida de cada dançarino” (Antonio Nóbrega)
MUSICALIDADE
Famosa no mundo inteiro pela sua qualidade inconteste, a música brasileira tem os dois pés bem fincados no Continente Negro. Quem resiste aos encantos de uma batucada? A musicalidade, a dimensão do corpo que dança e vibra em resposta aos sons só reafirma a consciência de que o corpo humano também é melódico e potencializa a musicalidade como um valor.

“O som é o ponto de partida dos primeiros habitantes do globo terrestre rumo à formação dos primeiros agrupamentos humanos que, no curso da evolução, irão constituir a nossa civilização. A importância da música, da qual o som é a matéria-prima, é superior à descoberta do fogo, ou à invenção da roda ou da imprensa” (Charles Murray)
MEMÓRIA
Para despertar o sentimento de afro-brasilidade e, sobretudo, de orgulho ao exibi-la, é necessário mexer no eixo do racismo e da memória: o racismo como algo a ser enfrentado e a memória para que a presença africana que habita em nós possa emergir livremente.
ANCESTRALIDADE
Quando se pensa em ancestralidade, faz-se uma imediata ponte com a história e a memória. Convém não esquecer o passado. Não há fórmulas complexas para vivenciar o que é, de fato, a ancestralidade. Quer provar? Então saia em busca do relato dos mais velhos, que trazem o rico imaginário afro-brasileiro.

“A memória compõe nossa identidade. É por intermédio da memória que construímos nossa história. Ao construir a memória, construímos lembrança, que para existir precisa do outro e necessita ser compartilhada. Assim também é a obra de arte” (Franklin Esparth Pedroso)
COOPERATIVISMO
Falar sobre cultura negra requer usar a palavra ‘coletivo’. Pensar em africanidades é pensar em comunidade, em diversidade, em grupo. Imaginem o que teria acontecido com a população negra num sistema escravocrata se houvessem desprezado o princípio da parceria, do diálogo, da cooperação? E ainda nos dias que corre, nesta sociedade racista excludente?

“Durante séculos os povos da África Central tinham lidado com a diversidade étnica, desenvolvido tradições religiosas comuns e compartilhado formas culturais. Essas habilidades eles as transmitiram para o Brasil, onde utilizaram indiscutivelmente técnicas similares para lidar com a diversidade cultural” (Karasch)
ORALIDADE
Herança direta da cultura africana, a expressão oral é uma força comunicativa a ser potencializada. Jamais como negação da escrita, mas como afirmação de independência. A oralidade está associada ao corpo porque é através da voz, da memória e da música, por exemplo, que nos comunicamos e nos identificamos com o próximo.

“Griots são contadores de histórias fundamentais para a permanência da humanidade: são como um acervo vivo de um povo. Carregam nos seus corpos lendas, feitos, canções e lições de vida de uma população, envoltos numa magia própria, específica dos que encantam com o corpo e com sua oralidade” (Gregório Filho)
ENERGIA VITAL
O princípio do axé é a vontade de viver e aprender com vigor, alegria e brilho no olho, acreditando na força do presente. Em nada se assemelha a normas, burocracias, métodos rígidos e imutáveis. Pelo contrário. Tudo é uma possibilidade para quem é guiado pelo axé.

“Perdi os dedos, mas não a força e a vontade de esculpir. Aprendi a usar os joelhos como quem usa os pés. Amarrei os instrumentos às mãos para continuar a trabalhar. Afinal, a criação nasce na cabeça, não na ponta dos dedos” (Heróis de Todo Mundo, programa sobre Aleijadinho)
LUDICIDADE
Entre suas variadas utilidades, os jogos sempre viabilizaram o aprendizado. Também serviram para transmitir as conquistas da sociedade em diversos campos do conhecimento. Quando os membros mais velhos de um grupo revelam aos jovens como funciona um determinado jogo de tabuleiro, por exemplo, eles transmitem uma série de conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural daquele grupo.

“Antigamente, o jogo era associado a ritos mágicos e sagrados. Dependendo do lugar, era reservado apenas para os homens, ou para os homens mais velhos, ou, ainda, era exclusivo dos sacerdotes” (Os Melhores Jogos do Mundo)

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Extrema pobreza no RN e no BRASIL...



38% da população do RN vive com menos de R$ 420 por mês, diz IBGE

06/11/2019
Por: Redação PN
 Foto: EBC
Um estudo divulgado nesta quarta-feira (6) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, em 2018, 38% da população potiguar estava abaixo da linha da pobreza. Isso significa que cerca de 1,3 milhão de pessoas viveram com menos R$ 420 por mês ao longo do ano no estado.
 
Segundo o Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE, este valor mensal equivale a US$ 5,50 por dia, valor estabelecido pelo Banco Mundial para marcar a linha da pobreza em países com rendimento médio-alto. O número corresponde a menos da metade do salário mínimo vigente na época, que era de R$ 954.
 
Ainda de acordo com as estatísticas, de 2012 a 2016 houve uma diminuição do número de pessoas abaixo da linha da pobreza de 40,3% para 36,5% no Rio Grande do Norte. Mas em 2017, este índice voltou a crescer e chegou a 38,2%; mantendo uma baixa variação no ano seguinte.
 
Extrema pobreza
 
Em 2018, os números do SIS apontam que 10,3% da população do Rio Grande do Norte -- cerca de 350 mil norte riograndenses -- está em situação de extrema pobreza. O número é próximo ao da população da cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, que é estimada em 362 mil pessoas e supera a população de Palmas, no Tocantins, estimada em 299 mil habitantes.
 
O estudo aponta uma leve queda em relação à 2017, que foi de 10,5%. Nas duas situações o RN superou a média nacional, que foi de 6,5% em 2018 e 6,4% em 2017. O Banco Mundial estipula que está nesta situação quem ganha US$ 1,90 por dia, o equivalente a R$ 145 por mês.

EAJ UFRN desenvolve trabalho com comunidades quilombolas e indígenas




6 de novembro de 2019
Por Fernanda Macedo - Com supervisão da Comunicação EAJ de Ascom EAJ
O projeto de extensão Aquicultura Inclusiva: unidades modelo de produção está envolvendo atividades no campo de Jundiaí, com o objetivo de inserir unidades produtivas de aquicultura, seja para consumo próprio ou comercialização. A importância das relações entre a comunidade científica e a comunidade local é resultado da troca de saberes e a aplicação dos conhecimentos adquiridos em laboratório. Como consequência, surge a construção de uma nova realidade social.
Com a necessidade de inserir atividades produtivas em comunidades tradicionais, indígenas ou quilombolas, o projeto fornece para esse público técnicas de manejo adequado para produzir sustentavelmente. Desse modo, a comunidade poderá ter alimento saudável e de qualidade, além de poder comercializar excedentes, movimentando a economia dessas populações.
A professora e coordenadora do projeto, Karina Ribeiro comenta que atualmente o grupo atua na comunidade quilombola de Capoeiras, em Macaíba, e no assentamento Recanto Feliz, em Lagoa de Pedras. “Usamos o diálogo com a comunidade, oficinas e minicursos envolvendo as dificuldades locais de produção e oficinas de implantação de unidades produtivas aquícolas. Sou coordenadora do projeto e é sempre uma alegria poder estar trocando saberes com a comunidade e com os alunos envolvidos”, conclui Ribeiro.

Por meio da Escola Agrícola de Jundiaí, a ação reforça o papel da UFRN e como agente de mudanças sociais. Assim, expandindo o conhecimento fora dos muros dos campi, agregando conhecimento para a comunidade acadêmica ao trabalhar com os povos originários, que ainda hoje resistem em meio às desigualdades sociais e representativas.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

JOÃO PESSOAAssembleia Legislativa da Paraíba barra projeto de Estela Bezerra e ataca diversidade religiosaAS MUITAS FACES DA INTOLERÂNCIA




30/10/2019 08h38Atualizado há 2 horas

A COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO, Justiça e Redação da Assembleia Legislativa da Paraíba rejeitou, nesta terça-feira (29), por unanimidade, projeto de resolução da deputada Estela Bezerra (PSB) que pretendia democratizar o discurso religioso nas sessões da Casa. O projeto de resolução 102/2019 determinava que, “após aberta a sessão, será lido por um deputado, dentre os presentes, algum texto da religião professada ou escolhida por qualquer membro desta casa, bem como prece ou oração das religiões não codificadas”.
Deputada Estela Bezerra: “O que nós pretendemos é garantir o respeito e a diversidade de todas as religiões, partindo do princípio de que o Estado é laico e garante a liberdade de credo aos seus cidadãos.”
Os membros da Comissão de Constituição, Justiça e Redação entenderam que o projeto era inconstitucional, demonstrando, na verdade, completa ignorância em relação ao que significa a liberdade de crença e de culto protegida pela Constituição de 1988. Segundo o ministro Alexandre de Moraes, a liberdade religiosa é ampla e abarca todas as religiões.
Alexandre de Moraes: “(...) a liberdade de convicção religiosa abrange inclusive o direito de não acreditar ou não professar nenhuma fé, devendo o Estado respeito ao ateísmo.”
A decisão da Comissão de Constituição, Justiça e Redação dá um péssimo exemplo ao país e transmite a mensagem de que a diversidade religiosa não tem lugar na Casa de Epitácio Pessoa. Nestes tempos sombrios de bolsonarismo, intolerância e repulsa ao conhecimento, a Paraíba seguramente ganharia se os deputados da comissão dedicassem algum tempo à leitura e à compreensão da Constituição de 1988.
Foto: Site de Estela Bezerr
a
JOÃO PESSOA

Assembleia Legislativa da Paraíba barra projeto de Estela Bezerra e ataca diversidade religiosa

AS MUITAS FACES DA INTOLERÂNCIA





sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Distrito Federal pioneiro em programa para promover a liberdade religiosa no Brasil...







O Distrito Federal se tornou, nesta quinta-feira (10/10), pioneiro na elaboração de um programa para promover o direito à liberdade religiosa, com a publicação do Decreto nº40.167, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). O texto autorizou um programa trienal de atividades, que estabelece, entre outras coisas, o aperfeiçoamento de instrumentos pedagógicos relativos à oferta do ensino religioso nas escolas públicas, a promoção de ações de combate à intolerância religiosa e o fomento de políticas públicas.

Parcerias, termos ou pactos pela liberdade religiosa, combate à intolerância religiosa e defesa da laicidade deverão ser firmados entre a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus/DF) e outros órgãos do Distrito Federal com a participação da sociedade civil organizada. Campanhas de divulgação sobre a liberdade religiosa também estão incluídas na ação.

Ao falar sobre o programa, o Secretário da Sejus, Gustavo Rocha, lembrou o art. 5º, VI da Constituição Federal de 1988 que dispõe sobre a liberdade de consciência e de crença. “O brasileiro tem assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção dos locais de culto e suas liturgias”, ressaltou.

A ação realizada pela Sejus no sentido de garantir esses direitos tem merecido reconhecimento internacional. Por duas vezes, representantes da Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial da Sejus compareceram a eventos internacionais sobre o assunto.

“O decreto publicado hoje é mais um importante mecanismo que vem contribuir para nosso trabalho em garantir a liberdade religiosa no DF”, comemorou o subsecretário de Direitos Humanos e Igualdade Racial, Juvenal Araújo.


'Me chamar de viado não é ofensa. Tomar 4 tiros, sim', diz vítima de homofobia na Bahia...


'Me chamar de viado não é ofensa. Tomar 4 tiros, sim', diz vítima de homofobia na Bahia

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Marcelo Macedo levou quatro tiros após ser visto beijando um homem na Bahia Foto: Instagram / Reprodução
O homem que levou quatro tiros após beijar um rapaz dentro de um bar em Camaçari, sua cidade natal, na região metropolitana de Salvador, no último domingo, publicou um emocionante relato sobre o ataque em seu perfil do Instagram nesta sexta-feira. Marcelo Macedo, de 33 anos, agradeceu o apoio que vem recebendo dos amigos nos últimos dias, ressaltando que o carinho recebido é o que o motivou a se manifestar após ter vivido "um verdadeiro filme de terror".
"Mas o que me encoraja também é o medo", disse ele. "Nem no meu pior pesadelo eu imaginei que um dia pudesse ser tão violentado. Ver a morte de perto é assustador. Nos paralisa".
A Polícia Civil da Bahia investiga o caso, buscando imagens de câmeras de segurança e ouvindo testemunhas que ajudem a esclarecer o ocorrido.

"É difícil acreditar que as pessoas são agredidas tão cruelmente e de maneira tão covarde pelo simples fato de demonstrar afeto. É triste. Dói. Estou despedaçado", afirmou Marcelo. "Sou jovem, tenho uma família, uma vida inteira pela frente e por um milagre de Deus hoje estou vivo, mas quase tive meus sonhos interrompidos de maneira tão vil".
Atingido em um dos braços e no abdômen, Marcelo foi socorrido ao Hospital Geral de Camaçari (HGC), onde ele relatou que "só sabia chorar", achando que estivesse morto.
"Não lembrava de muita coisa. Ao abrir os olhos e me dar conta do que estava acontecendo, entrei em estado de choque, mas por incrível que pareça, o hospital é o meu lar agora, é o lugar onde me sinto seguro, protegido, em paz. Não sei como será quando sair daqui. Temo pelos meus familiares. Estamos assustados em saber que quem atentou contra a minha vida está solto por aí, sua cara não está estampada em todos os jornais estando tão vulnerável como eu me encontro agora, botando a cabeça no travesseiro deitado na cama da sua casa e dormindo todos os dias tranquilamente", disse.
"Me chamar de 'viado' não é ofensa. Tomar 4 tiros, sim. Uma dor irreparável, além de física, emocional e psicológica. Não sei como será de agora em diante, não sei se serei mais o mesmo. Esse medo que estou sentindo, irei carregar até o fim dos meus dias. Só peço proteção para mim e toda a minha família. Orem por mim!", completou.

completou.



sábado, 19 de outubro de 2019

A SIEC/SESAP realizará o Fórum PICS e Saúde do Homem - PRÉ-SIEQUIDADE




A SIEC/SESAP, realizará  o Fórum PICS e Saúde do Homem - PRÉ-SIEQUIDADE que acontecerá no dia 23 de Outubro, na UNIRN, a partir das 8 horas da manhã, e tem como objetivo refletir sobre os diferentes aspectos da saúde do homem e as possibilidades de acolhimento e cuidado no SUS, destacando as práticas integrativas como modalidades importantes nesse processo.
Serão abordadas os temas: "Masculinidades: enxergando alem"; "Masculinidade na perspectiva da equidade" e "utilização das PICS no atendimento em saúde do homem"

Confira a programação completa no site https://doity.com.br/forumpics2019 e já faça sua inscrição!
Contamos com você para enriquecer ainda mais esse debate, e fazer desse fórum um sucesso!

Dia D de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita-terceiro sábado do mês de outubro



Previsto na Lei 13.430/2017, o Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita tem por objetivo enfatizar a importância do diagnóstico e do tratamento adequado da sífilis como infecção sexualmente transmissível e especialmente na gestante durante o pré-natal.




Durante a próxima semana procure a Unidade Básica de Saúde mais próxima e faça o teste rápido da sífilis!

Aproveite e solicite os insumos de prevenção (camisinhas e gel lubrificante).

#TesteTrateCure

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