Cultivando o perigo
Isaac RibeiroRepórter
O Brasil é o maior
consumidor de agrotóxicos do mundo, segundo o Ministério do Meio
Ambiente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostra que
o mercado brasileiro de agrotóxicos cresceu 190% nos últimos 10 anos,
mais que o dobro do mercado mundial no mesmo período, que foi de 93%.
Alguém é envenenado por um agrotóxico no Brasil a cada 90 minutos, como
afirma o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
(Sinitox). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) entre 2000 e 2012, o país dobrou o uso de
agrotóxicos.
humberto sales
Alguém
é envenenado por um agrotóxico no Brasil a cada 90 minutos, sob o risco
de desenvolver alterações genéticas e doenças sérias e degenerativas
Achou
muita notícia ruim reunida num parágrafo só? Tem mais! De acordo com a
Anvisa, 64% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos e o sistema
DataSUS, do Ministério da Cultura, registrou 34.147 notificações de
intoxicação por agrotóxico entre os anos 2000 e 2012.
Mas se
depender de empresários do setor e da indústria, essa situação só tende a
piorar. Isso porque espalhar veneno na plantação parece ser um negócio
bastante lucrativo. O faturamento da indústria do agrotóxico no Brasil
foi de 12 bilhões de dólares em 2014, de acordo com a Associação
Nacional de Defesa Vegetal (Andef). E o Sindicato Nacional das Empresas
de Aviação Agrícola (Sindag) aponta um crescimento de 288% no uso desses
produtos químicos entre 2000 e 2012.
Fiscalização É
bom lembrar que os resíduos dos agrotóxicos não estão apenas em
hortaliças e vegetais em geral, mas em vários produtos processados, como
pães, biscoitos, salgadinhos, cereais matinais, lasanhas, pizzas e
naqueles à base de trigo, milho e soja, entre outros. Sem falar em
carnes e leite de animais que por ventura se alimentarem de ração com
resíduos químicos. Mas quem fiscaliza tudo isso? O Programa de Análise
de resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), que identifica e quantifica os níveis de
resíduos de agrotóxicos nos alimentos disponíveis no mercado.
De
acordo com Maria Célia Farias, coordenadora de Amostragem Nacional do
Para, a incidência de alimentos contaminados no Rio Grande do Norte não é
alta, pois o estado não é um grande produtor de alimentos. “Quando a
gente começou era 28%. Agora os laudos deram 17%. Não podemos comparar
com o estado da Bahia, por exemplo, que produz soja, cacau, entre
outros.”
Maria Célia e sua equipe percorrem periodicamente
mercadinhos e supermercados dos quatro pontos da cidade, recolhendo
amostras para análise em laboratório. A operacionalização das
amostragens se dá em três etapas. Este ano estão agrupadas em: 1)
cebola, uva, feijão, fubá de milho; 2) farinha de mandioca, laranja,
abobrinha, tomate, banana, maçã, repolho (verde) e pepino; 3) alface,
mamão, arroz e batata inglesa.
Os laudos demoram trinta dias para
serem liberados, e são realizados em laboratórios do Rio Grande do Sul,
Paraná, Minas Gerais, Goiás e Pará. O pimentão é o campeão nacional de
contaminação. “Porque o produtor compra agrotóxico para o tomate e usa
no pimentão; compra pra mamão e põe no pimentão... Aí, no final das
contas, se um já causa um impacto, imagine dezessete, vinte e um. Aí,
potencializa. E tem agrotóxico para pimentão”, comenta Maria Célia.