

A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer”, já dizia
Arnaldo Antunes ao cantar, em 2009, a música Envelhecer. Mais atual
impossível, a canção fala com leveza, ironia e bom humor sobre a chegada
da velhice – realidade cada vez mais comum no mundo e, principalmente,
nos países em desenvolvimento, como no caso do Brasil. É o que revelam
os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em
2060, uma grande parcela da população brasileira será de idosos com mais
de 60 anos. Hoje, são 20,6 milhões de idosos, o que representa 10,8% da
população. Em 2060, esse número representará 26,7% do total.
“O meu problema são as dores que sinto nas juntas. Por isso, que eu
costumo dizer que é pra juntar tudo e jogar fora”, brinca a aposentada
Anastácia Carvalho Silva, de 63 anos. Moradora de Planaltina,
cidade-satélite a aproximadamente 50km de Brasília, a aposentada retrata
com bom humor realidade que atinge também grande parte dessa parcela da
população que sofre com problemas decorrentes do avanço da idade.
Para amenizar a dores do tempo, dona Anastácia, como gosta de ser
chamada, participa de um grupo gratuito de automassagem. “Já melhorei
bastante. Antes eu não conseguia levantar o braço e agora eu já consigo e
posso fazer outras coisas. As dores que eu sentia nos ombros, braços e
pernas já melhoraram muito. Isso aqui alegra a vida da gente e nos dá
mais vontade de lutar, porque se a gente ficar só em casa, não dá”,
comemora a aposentada.
Totalmente gratuita, a atividade faz parte do Programa de Assistência
Integral à Saúde do Idoso da Regional de Planaltina, uma iniciativa da
Secretaria de Saúde do Distrito Federal junto ao Ministério da Saúde,
com o objetivo de integrar os idosos em atividades de lazer, saúde e
educação, além de socializa-los, dando a eles mais cidadania e
facilitando o acesso aos serviços de saúde.
Iniciativas como essa espalham-se pelo país afora e, assim como o que
acontece em Planaltina, já existem pelo Brasil inúmeros programas que
visam dar melhor qualidade de vida às pessoas que já chegaram à terceira
idade. Essas iniciativas demonstram a preocupação das autoridades com o
envelhecimento da população.
Desafios
Diante dessa realidade, é importante entender o que isso representa
do ponto de vista das políticas públicas e que tipos de desafios o
Brasil terá de enfrentar. Estamos preparados? Como estamos nos
organizando para cuidar de nossos idosos? Será esse o maior desafio do
século XXI?
Para responder a essas perguntas, ouvimos especialistas e autoridades que há algum tempo trabalham com essa temática.
Como no caso das coordenadoras geral e adjunta da Saúde da Pessoa
Idosa (Cosapi) – área do Ministério da Saúde vinculada ao Departamento
de Atenção Especializada e Temática (DAET) da Secretaria de Atenção à
Saúde (SAS) –, Maria Cristina Hoffmann e Maria Cristina Lobo,
respectivamente. Para elas, um dos maiores desafios para o país é a
inclusão da pauta do envelhecimento e seus impactos na agenda
prioritária das políticas públicas com ofertas concretas de
intervenções.
Hoffmann cita também outros desafios, como o fortalecimento da
articulação intersetorial com vistas a responder às demandas da pessoa
idosa na sua integralidade, com ampliação de oferta de arranjos
institucionais para dar conta da complexidade do cuidado à população que
envelhece, envolvendo família e sociedade, oferta de cuidadores e apoio
às famílias cuidadoras, atenção domiciliar e cuidados prolongados.
Questionada sobre como o Ministério da Saúde tem se preparado para o
enfrentamento desses desafios, ela explica algumas diretrizes que
compõem a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI –
Portaria n. 2.528/2006).
“A Política possui diretrizes que norteiam as ações nas três esferas
do Sistema Único de Saúde (SUS), com foco na promoção do envelhecimento
ativo e saudável, na oferta de atenção integral à saúde da pessoa idosa e
na realização de ações intersetoriais, visando à integralidade da
atenção. A PNSPI também destaca a importância de investimentos em
educação permanente dos profissionais da saúde da pessoa idosa”, diz.
Em contrapartida, a técnica de Planejamento e Pesquisa do Instituto
de Pesquisa Aplicada (Ipea) Ana Amélia Camarano cita outros desafios.
Segundo ela, é preciso aumentar o número de crianças no país – hoje a
taxa de fecundidade que nos últimos 50 anos era de 6,2 filhos, passou
para 1,77 em 2013. “Na verdade, a população brasileira está caminhando
para uma diminuição e quem trabalha e paga imposto daqui a alguns anos
não vai mais contribuir. A pergunta é: quem vai fazer esse papel?”,
questiona.
O outro desafio, segundo Camarano, diz respeito não ao fato de haver
muitos ou poucos idosos, mas sim à garantia das condições de saúde e
autonomia dessas pessoas. A pesquisadora afirma que é preciso repensar o
conceito de idoso. “Essa definição de que idoso é uma pessoa com 60
anos ou mais é ultrapassada. É preciso avaliar melhor essa
classificação, porque não importa se a pessoa tem 60 anos ou mais, mas
sim se ela está em condições de trabalhar, de produzir, de não estar
dependendo da previdência ou de cuidados especiais. Acho que são dois
desafios que me parecem assim de imediato”, ressalta.
Já para o presidente do Centro Internacional de Longevidade do Brasil
(ILC), o geriatra Alexandre Kalache, o aumento da expectativa de vida
da população e, consequentemente, o aumento da população idosa trazem
desafios importantes para o país. “A expectativa de vida não aumenta só
ao nascer. As pessoas que chegam aos 60 anos também continuam vivendo
cada vez mais e isso exige políticas públicas mais adequadas”. A
afirmação foi feita durante a sua participação no
Fórum Saúde Brasil, promovido pelo jornal Folha de S. Paulo no último dia 27 de março.
E assim como a pesquisadora do Ipea, o geriatra também alertou para a
diminuição da população, tendo em vista que há pelo menos seis anos a
taxa de fecundidade no Brasil está abaixo do nível de reposição. Segundo
ele, é importante que se invista na educação pública se quisermos ser
bem cuidados e termos jovens produtivos no futuro, uma vez que hoje as
mulheres com baixa renda e com tempo de educação menor que 8 anos têm o
dobro da taxa de fecundidade daquelas mulheres de classe média/alta.
“São essas crianças de hoje, que não estão sendo bem educadas, que vão
cuidar de nós e nos sustentar à medida que envelhecemos. Se elas não
tiverem o mínimo de educação básica, não serão boas cuidadoras. Então
até em causa própria é necessário pensarmos muito nesse desafio do
abismo hoje que há em termos de taxa de fecundidade”.
Para ele, outro aspecto importante a ser considerado diz respeito à
transição demográfica e epidemiológica. Segundo ele, cada vez mais as
mortes de pessoas com mais de 60 anos são decorrentes de doenças
crônicas. No entanto, o envelhecimento não deve ser considerado culpado,
pois não podemos desconsiderar que a população está envelhecendo com
bolsões de extrema pobreza. “Não vamos culpar o envelhecimento por essas
doenças crônicas. Nós temos de ter muita atenção antes de
responsabilizar o indivíduo, pois não podemos culpá-lo por ter sido
pobre, excluído e negligenciado. Temos de ter a solidariedade de tratar
essa pessoa que nunca foi cuidada, com respeito e dignidade”.
Kalache também chama a atenção para a importância do cuidado, pois à
medida que uma população envelhece, o cuidado é a dimensão principal na
área da saúde. “É importante proporcionar o autocuidado, dar sustento e
suporte para que o idoso possa se cuidar, afinal ninguém deve estar tão
interessado em se cuidar que ele próprio”.
Impactos na Saúde e Políticas Públicas: como trabalhar essa questão?
O acelerado processo de envelhecimento populacional no Brasil impacta
e traz mudanças no perfil epidemiológico dos brasileiros,
principalmente porque é caracterizado por importante heterogeneidade e
grandes desigualdades sociais.
“Essa peculiaridade exige das políticas sociais uma articulação
intersetorial entre elas, como a assistência social e a previdência para
responder às demandas crescentes de cuidado”, afirma a coordenadora
adjunta da Saúde da Pessoa Idosa, Maria Cristina Lobo.
Para ela, fica claro que os impactos dessas mudanças na área da saúde
acontecem pelo aumento da demanda por serviços de saúde, tanto
públicos quanto privados, na necessidade de se investir em ações de
promoção e prevenção, na atenção ambulatorial e hospitalar especializada
e na atenção domiciliar para o cuidado com a pessoa idosa.
Lobo cita dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de
2008 que indicam que 73% da população idosa são usuários do SUS, 51% têm
domicílio cadastrado nas Equipes de Saúde da Família (ESF) e 53%
utilizam posto ou centro de saúde como primeiro local de atendimento.
“Isso reforça a necessidade de priorizar investimentos nas ações de
promoção, prevenção e preservação das condições de saúde, considerando
suas especificidades e ampliando o acesso qualificado à pessoa idosa,
preferencialmente nos territórios”, diz.
A coordenadora da Cosapi indica ainda outro impacto significativo que
são as demandas de cuidado, seja para apoiar as famílias cuidadoras ou
suprir ausência de vínculos sociais. Ela explica que é necessário um
esforço conjunto com envolvimento principalmente da Saúde e da
Assistência Social para ampliar, criar novos dispositivos de cuidados a
partir de experiências já realizadas, como, por exemplo, as experiências
de cuidado que envolvem a figura do cuidador, seja no âmbito familiar
ou institucional, a oferta de serviços dia e atenção domiciliares, além
de reordenar as instituições de longa permanência de forma que estas se
constituam em opção humanizada de moradia para idosos, principalmente
para aqueles em situação de vulnerabilidade social e sem vínculo
familiares.
Para amenizar os impactos que essas transições acarretam ao SUS, o
Ministério da Saúde tem trabalhado com diversas linhas de atuação
(confira todas as ações do MS na entrevista completa no site). Uma das
mais importantes é a implementação do Modelo de Atenção Integral à Saúde
da Pessoa Idosa. “Como é do conhecimento, o SUS adotou como orientação
para organizar a atenção, a constituição e atuação em Redes de Atenção à
Saúde (RAS). A necessidade de propor um modelo de atenção específico
surgiu como resposta para organizar a atenção à população idosa no SUS.
Esse modelo tem como foco potencializar e articular ações existentes nas
RAS, incluindo as especificidades desse grupo”, explica Maria Cristina
Hoffmann.
Entre os objetivos específicos propostos no modelo, estão a busca por
melhores resultados sanitários nas condições crônicas, a diminuição das
referências para especialistas e hospitais, o aumento da eficiência dos
sistemas de saúde, a produção de serviços mais custo-efetivos e
melhorias na satisfação dos usuários em relação aos serviços de saúde e a
ampliação e qualificação do acesso da pessoa idosa ao SUS, a partir das
suas especificidades.
Vale ressaltar que o modelo foi elaborado e validado no VIII
Colegiado de Gestores de Saúde da Pessoa Idosa, realizado em novembro de
2013 e será lançado no XXX Congresso Nacional do Conselho Nacional de
Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), em junho deste ano.
O Ministério da Saúde participa da Comissão Interministerial instituída pelo
Decreto Presidencial n. 8.114/2013,
que estabelece o Compromisso Nacional para o Envelhecimento Ativo e tem
o objetivo de articular esforços da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios em colaboração com a Sociedade Civil, para
valorização e defesa dos direitos da pessoa idosa. A Comissão é
coordenada pela Secretaria dos Direitos Humanos e é composta por 17
ministérios.
“Nós também estamos envolvidos diretamente no fortalecimento do
Colegiado Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, que é um fórum composto por
gestores dos estados e do Distrito Federal, dos municípios capitais e
acima de 500 mil habitantes com reuniões presenciais semestrais e agenda
permanente de trabalho”, complementa Hoffmann.
Para conhecer a implementação da Política Nacional de Saúde da Pessoa
Idosa e o esforço de gestão de estados e municípios, a Cosapi conduziu
um projeto de mapeamento das experiências exitosas de gestão, seguindo
critérios como o alinhamento com princípios e diretrizes do SUS, com a
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e com as diretrizes para
organização da Rede de Atenção à Saúde com a população idosa. O projeto
considerou o caráter inovador, a relevância dos resultados e o potencial
para ser replicado em outras realidades.
A pesquisadora do Ipea Ana Maria Camarano lembra que a sociedade
conseguiu grande avanço ao emplacar a Política Nacional do Idoso, mas
faz uma ressalva: “Nós não conseguimos implementá-la, tanto que nove
anos depois foi criado o
Estatuto do Idoso por causa do fracasso da política”. E vai além.
“Nós temos condições de desenvolver políticas públicas e sociais
eficazes para enfrentar essa nova realidade, mas para isso é preciso que
os governantes tratem esse problema como prioridade. Condições há,
basta querer. O que preocupa é que o Brasil ainda não conseguiu resolver
a saúde para a população. Ainda há uma dificuldade de atendimento, de
acesso da população como um todo e consequentemente isso afeta também a
população idosa”.
Camarano também acredita na importância das ações intersetoriais.
“Essa questão do envelhecimento tem de ser trabalhada
intersetorialmente. Por exemplo: acabar com o preconceito que existe em
relação aos idosos é uma questão de educação que começa desde o ensino
básico, ensinando os jovens a valorizar o papel do idoso e seu papel
social. São necessárias políticas de cuidado e de acessibilidade para
essas pessoas, ou seja, é preciso trabalho conjunto dos ministérios da
Cidade, da Educação, da Saúde etc.”
Além disso, explica, “é muito importante a inserção dos idosos na
construção dessas políticas, pois muitas vezes elas são elaboradas sem
ouvir os principais interessados e acabam não sendo tão eficientes
quanto deveriam”.
Revolução da Longevidade
Durante o
Fórum Saúde Brasil,
Alexandre Kalache falou sobre a Revolução da Longevidade. “Revolução é
aquilo que acontece de súbito e que tem impacto em toda a sociedade. É
exatamente isso que está acontecendo hoje no Brasil e também no mundo.
Estamos diante de uma revolução da longevidade”, afirmou.
Por isso, é importante, segundo o geriatra, traçar uma perspectiva do
curso de vida, pois os idosos querem envelhecer mantendo a
independência e a qualidade de vida. “Se nós chegarmos bem aos 80 anos,
continuaremos a ser um recurso para a sociedade, se ela se preparar para
tal. O problema está naquele idoso que entra em declínio. Aí sim o
envelhecer é um fardo”.
O médico alertou para a transição do curso de vida. “Antes a
aposentadoria durava apenas dois, três anos e com um salário baixo. Hoje
nós vamos nos aposentar e viver mais uns 30 anos com muita experiência
para continuar contribuindo para a sociedade. Mas será que ela está
preparada? Uma sociedade que pensa no idoso vai nos beneficiar a todos.
Quem for amigo do idoso será amigo de todos”, refletiu.
O presidente do ILC concluiu sua apresentação afirmando que é preciso
promover o envelhecimento ativo, dando oportunidades de saúde, de
educação continuada e de participação na vida social. “Essa revolução
veio para ficar e todos nós devemos abraçá-la independentemente da nossa
área de atuação”.
Preconceito: é possível acabar?
Exclusão, maus-tratos, negação. Negar a velhice e cultuar a
juventude. Negar o passado, negar a história, cultuar o hoje e o
efêmero. Como envelhecer diante de uma sociedade mergulhada na
valorização daquilo que é novo? Como lidar com a contradição de uma
sociedade que, ao mesmo tempo em que busca alternativas que prolonguem a
expectativa de vida das pessoas, renega o tão natural ato de envelhecer
e exclui os seus idosos, abandonando-os, muitas vezes à própria sorte?
“É importante investir em campanhas publicitárias com foco na mudança
de paradigma sobre o envelhecimento em uma sociedade que valoriza
exageradamente a juventude e não valoriza a sua história”, observa
Cristina Hoffmann.
Segundo ela, o conhecimento acumulado pelos anos vividos pode ser
aproveitado e investido em políticas de reinserção no mercado de
trabalho e de possibilidades de participação social, protagonismo e
contribuição para sociedade.
Hoffmann destaca um ponto importante. “Na saúde, temos de trabalhar o
conceito do envelhecimento ativo, desvincular envelhecimento de doenças
crônicas, reconhecer que o envelhecimento traz perdas, mas que é
possível viver esta fase com qualidade de vida”.
E finaliza citando trecho adaptado do Fundo de População das Nações
Unidas (UNFPA), 2012, que se refere ao processo de envelhecimento como
celebração e desafios: “O envelhecimento é um triunfo do
desenvolvimento. O aumento da longevidade é uma das maiores conquistas
da humanidade. As pessoas vivem mais em razão de melhorias na nutrição,
nas condições sanitárias, nos avanços da medicina, nos cuidados com a
saúde, no ensino e no bem-estar econômico. Mas a população em
envelhecimento também apresenta desafios sociais, econômicos e culturais
para indivíduos, famílias, sociedades e para a comunidade global. E
isto pode e deve ser planejado para transformar os desafios em
oportunidades”.
O que outros países estão fazendo?
O Brasil vem implantando, desde 2012, o projeto-piloto dos Cuidados
Continuados Integrados (CCI), fruto da parceria e intercâmbio com a
Catalunha, na Espanha, onde o modelo funciona desde a década de 1980, e
com Portugal, que há cerca de sete anos vem adotando o CCI.
O modelo, que começa com a abordagem do paciente no hospital pela
Equipe de Gestão de Alta (EGA), tem como objetivo orientar a
continuidade da atenção dada não apenas aos idosos, mas aos cidadãos em
geral com necessidade de acompanhamento, seja em questões agudas ou
crônicas.
Uma das principais características do CCI é a articulação entre as
equipes multidisciplinares, integrando o atendimento pós-alta com as
equipes das atenções básica e domiciliar e com os centros de referência
em reabilitação física, efetivando a integralidade da assistência e o
prosseguimento do cuidado a pacientes em situação clínica estável que
careçam de reabilitação ou adaptação decorrentes de processo clínico,
cirúrgico ou traumatológico.
“A prisão assistencial que alguns hospitais de média e alta
complexidade estavam percebendo, devido ao incremento de patologias
crônicas e degenerativas e de pacientes que precisavam de cuidados
variados, foi um dos principais motivadores para o início desse
projeto”, relata a dra. Montserrat Dolz, diretora da Gesaworld S.A. e
consultora do projeto no Brasil.
Ela conta que não havia oferta de serviços além da atenção básica e
da atenção hospitalar clássica, causando diariamente grande volume de
cuidados, o que também aconteceu no Canadá e nos Estados Unidos da
América, conforme relata Dolz.
“Começando a tratar pessoas com problemas de cronicidade e
dependência, viu-se que o modelo clássico de abordagem
médico-assistencial prestado nos hospitais ficava curto e incompleto
para as necessidades que os pacientes apresentavam. Porque o hospital
clássico orienta um tratamento para curar e faz uma intervenção pontual.
Então, os pacientes com patologias ou multipatologias, com condições
crônicas ou com idade avançada, tinham de ser tratados de outro jeito”,
explica.
A experiência da Catalunha e de outros países que têm serviços
públicos de saúde, como o Brasil, corrobora a necessidade de reforço da
Atenção Primária à Saúde (APS), a fim de fazer a devida abordagem de
pacientes com uma ou mais patologias, crônicas ou degenerativas, que
podem ficar em casa e se deslocar à Unidade Básica de Saúde para fazer
seus controles.
Nesse aspecto, o papel do cuidador também é fundamental. “Muitas
vezes ele é da família, portanto, parte do trabalho dessas equipes é
educar os familiares, mostrando como deve ser o acompanhamento para que
os pacientes possam receber os cuidados adequados às suas necessidades”,
explica Montserrat.
O Dr. Luiz Maria Ramos Filho, superintendente de Assistência Social
do Hospital Samaritano, executor do projeto pelo Proadi-SUS, ressalta
que o CCI depende muito da mudança da visão da equipe de atenção por ser
uma proposta multidisciplinar não centrada no cuidado médico. O projeto
está em fase de implantação em Teresina, no Piauí, em Rebouças, no
Paraná, e em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Ele explica que, embora não seja uma política específica para a
população idosa, ela é grande beneficiária do programa e que nos países
europeus, por conta da população mais envelhecida, há um cuidado
assistencial diferenciado, até mesmo com o financiamento da assistência
social. “Muitas vezes a necessidade social do paciente é muito maior que
a necessidade médica. Em algumas situações, o volume de recursos
financeiros pode, inclusive, inverter-se, sendo maior o aporte por parte
da assistência social que da saúde”.
“O principal é formar as Equipes de Gestão de Alta nos hospitais de
referência com lotação maior. Estas equipes, assim como a regulação, são
fundamentais para o direcionamento do tratamento ou para a internação
domiciliar”, ressalta Ramos Filho.
Na região de Franca, em São Paulo, foram inauguradas, em agosto de
2013, Unidades de Cuidados Continuados nas cidades de Pedregulho e Ipuã,
com apoio da Secretaria de Saúde do estado, do Centro de Estudos
Augusto Leopoldo Ayrosa Galvão (Cealag) e da Federação das Santas Casas e
Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp), custeadas pelo
Ministério da Saúde.
A Santa Casa de Franca, como hospital estratégico da região, é a que
mais encaminha pacientes para essas unidades, tendo como primeira
referência a Unidade de Pedregulho, para onde já foi transferido o maior
número de pacientes que recebem todo o cuidado de saúde e de apoio
social de forma continuada e integrada, centrada em sua recuperação
global, promovendo a sua autonomia e melhorando sua funcionalidade.
Cuidados Prolongados
Um dos desdobramento do intercâmbio internacional foi a publicação, em 2012, da
Portaria n. 2.809,
que estabelece os Cuidados Prolongados como retaguarda da rede de
atenção de urgências e com unidades inspiradas no CCI. Os Cuidados
Prolongados já estão sendo incorporados ao SUS, implantados nos
hospitais São Julião e na Santa Casa de Campo Grande, no Mato Grosso do
Sul, e na Santa Casa de Ipuã, em São Paulo.
“Esta é uma estratégia intermediária entre os cuidados hospitalares
de caráter agudo ou crônico e a atenção domiciliar destinada a usuários
estáveis que necessitem de reabilitação ou adaptação por sequelas,
problemas clínicos, cirúrgicos ou traumatológicos”, explica Ana Paula
Cavalcante, coordenadora de Atenção Hospitalar do Departamento de
Atenção Hospitalar e Urgência da Secretaria de Atenção à Saúde, do
Ministério da Saúde (SAS/MS).
Os Cuidados Prologados são uma das possibilidades que os gestores têm
para a reabilitação da pessoa com perda de autonomia potencialmente
recuperável. São unidades de 15 a 25 leitos, com equipe
multiprofissional composta por fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo,
assistente social, técnico de enfermagem, enfermeiro e médico.
Diferente do CCI, a Equipe de Gestão de Alta não está prevista nos
Cuidados Prolongados, cuja normativa sugere que a alta seja administrada
pelo Núcleo de Acesso e Qualidade, tanto para a unidade de Cuidados
Prolongados quanto para outra retaguarda clínica, principalmente nos
hospitais gerais, explica Ana Paula.
“Unidades pequenas podem ser efetivamente personalizadas. Esta é uma
oportunidade de utilizar essas unidades espalhadas em todo Brasil com
número reduzido de leitos e uma baixa complexidade na assistência”,
completa.
http://www.conass.org.br/consensus/o-tempo-nao-para-estamos-preparados-para-envelhecer/
PORTARIA Nº 2.528 DE 19 DE OUTUBRO DE 2006
Aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa.
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e
Considerando a necessidade de que o setor saúde disponha de uma política atualizada relacionada à saúde do idoso;
Considerando a conclusão do processo de revisão e atualização
do constante da Portaria n° 1.395/GM, de 10 de dezembro de 1999;
Considerando a publicação da Portaria nº 399/GM, de 22 de
fevereiro de 2006, que divulga o Pacto pela Saúde 2006 - Consolidação
do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do referido Pacto; e
Considerando a pactuação da Política na reunião da Comissão
Intergestores Tripartite do dia 5 de outubro de 2006 e a aprovação da
proposta da Política, pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio do
Memorando nº 500/SE/CNS/ 2006, resolve:
Art. 1º Aprovar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa,
cujas disposições constam do Anexo a esta Portaria e dela são parte
integrante.
Art. 2º Determinar que os órgãos e entidades do Ministério da
Saúde, cujas ações se relacionem com o tema objeto da Política ora
aprovada, promovam a elaboração ou a readequação de seus programas,
projetos e atividades em conformidade com as diretrizes e
responsabilidades nela estabelecidas.
Art.3º Fixar o prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data
de publicação desta Portaria, para que o Ministério da Saúde adote as
providências necessárias à revisão das Portarias nº 702/GM, de 12 de
abril de 2002, e n° 249/SAS/MS, de 16 de abril de 2002, que criam os
mecanismos de organização e implantação de Redes Estaduais de
Assistência à Saúde do Idoso, compatibilizando-as com as diretrizes
estabelecidas na Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa aprovada
neste ato.
Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 5º Fica revogada a Portaria nº 1.395/GM, de 10 de
dezembro de 1999, publicada no Diário Oficial da União nº 237-E, de 13
de dezembro de 1999, página 20, seção 1.
JOSÉ AGENOR ÁLVARES DA SILVA
ANEXO
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE DA PESSOA IDOSA
INTRODUÇÃO
No Brasil, o direito universal e integral à saúde foi
conquistado pela sociedade na Constituição de 1988 e reafirmado com a
criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Lei Orgânica da
Saúde nº 8.080/90. Por esse direito, entende-se o acesso universal e
equânime a serviços e ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde, garantindo a integralidade da atenção, indo ao encontro das
diferentes realidades e necessidades de saúde da população e dos
indivíduos. Esses preceitos constitucionais encontram-se reafirmados
pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispôs sobre a
participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde e sobre
as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área
de saúde e as Normas Operacionais Básicas (NOB), editadas em 1991,
1993 e 1996, que, por sua vez, regulamentam e definem estratégias e
movimentos táticos que orientam a operacionalidade do Sistema.
A regulamentação do SUS estabelece princípios e direciona a
implantação de um modelo de atenção à saúde que priorize a
descentralização, a universalidade, a integralidade da atenção, a
eqüidade e o controle social, ao mesmo tempo em que incorpora, em sua
organização, o princípio da territorialidade para facilitar o acesso
das demandas populacionais aos serviços de saúde. Com o objetivo de
reorganizar a prática assistencial é criado em 1994, pelo Ministério da
Saúde, o Programa de Saúde da Família (PSF), tornando-se a estratégia
setorial de reordenação do modelo de atenção à saúde, como eixo
estruturante para reorganização da prática assistencial, imprimindo
nova dinâmica nos serviços de saúde e estabelecendo uma relação de
vínculo com a comunidade, humanizando esta prática direcionada à
vigilância na saúde, na perspectiva da intersetorialidade (Brasil,
1994), denominando-se não mais programa e sim Estratégia Saúde da
Família (ESF).
Concomitante à regulamentação do SUS, o Brasil organiza-se
para responder às crescentes demandas de sua população que envelhece. A
Política Nacional do Idoso, promulgada em 1994 e regulamentada em
1996, assegura direitos sociais à pessoa idosa, criando condições para
promover sua autonomia, integração e participação efetiva na
sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de
atendimento do SUS (Lei nº 8.842/94 e Decreto nº 1.948/96).
Em 1999, a Portaria Ministerial nº 1.395 anuncia a Política
Nacional de Saúde do Idoso, a qual determina que os órgãos e entidades
do Ministério da Saúde relacionados ao tema promovam a elaboração ou a
readequação de planos, projetos e atividades na conformidade das
diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (Brasil, 1999). Essa
política assume que o principal problema que pode afetar o idoso é a
perda de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades
físicas e mentais necessárias para realização de atividades básicas e
instrumentais da vida diária.
Em 2002, é proposta a organização e a implantação de Redes
Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso (Portaria nº 702/SAS/MS, de
2002), tendo como base as condições de gestão e a divisão de
responsabilidades definida pela Norma Operacional de Assistência à
Saúde (NOAS). Como parte de operacionalização das redes, são criadas
as normas para cadastramento de Centros de Referência em Atenção à Saúde
do Idoso (Portaria nº 249/SAS/MS, de 2002).
Em 2003, o Congresso Nacional aprova e o Presidente da
República sanciona o Estatuto do Idoso, elaborado com intensa
participação de entidades de defesa dos interesses dos idosos. O
Estatuto do Idoso amplia a resposta do Estado e da sociedade às
necessidades da população idosa, mas não traz consigo meios para
financiar as ações propostas. O Capítulo IV do Estatuto reza
especificamente sobre o papel do SUS na garantia da atenção à saúde da
pessoa idosa de forma integral, em todos os níveis de atenção.
Assim, embora a legislação brasileira relativa aos cuidados da
população idosa seja bastante avançada, a prática ainda é
insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso e seu uso como
instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da
Estratégia Saúde da Família que revela a presença de idosos e famílias
frágeis e em situação de grande vulnerabilidade social e a inserção
ainda incipiente das Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso
tornaram imperiosa a readequação da Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa (PNSPI).
Em fevereiro de 2006, foi publicado, por meio da Portaria nº
399/GM, o documento das Diretrizes do Pacto pela Saúde que contempla o
Pacto pela Vida. Neste documento, a saúde do idoso aparece como uma
das seis prioridades pactuadas entre as três esferas de governo sendo
apresentada uma série de ações que visam, em última instância, à
implementação de algumas das diretrizes da Política Nacional de
Atenção à Saúde do Idoso.
A publicação do Pacto pela Vida, particularmente no que diz
respeito à saúde da população idosa, representa, sem sombra de dúvida,
um avanço importante. Entretanto, muito há que se fazer para que o
Sistema Único de Saúde dê respostas efetivas e eficazes às
necessidades e demandas de saúde da população idosa brasileira. Dessa
maneira, a participação da Comissão Intergestores Tripartite e do
Conselho Nacional de Saúde, no âmbito nacional, é de fundamental
importância para a discussão e formulação de estratégias de ação
capazes de dar conta da heterogeneidade da população idosa e, por
conseguinte, da diversidade de questões apresentadas.
Cabe destacar, por fim, que a organização da rede do SUS é
fundamental para que as diretrizes dessa Política sejam plenamente
alcançadas. Dessa maneira, torna-se imperiosa a revisão da Portaria nº
702/GM, de 12 de abril de 2002, que cria os mecanismos de organização
e implantação de Redes Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso e a
Portaria nº 249/SAS, de 16 de abril de 2002, com posterior pactuação
na Comissão Intergestores Tripartite.
A meta final deve ser uma atenção à saúde adequada e digna
para os idosos e idosas brasileiras, principalmente para aquela
parcela da população idosa que teve, por uma série de razões, um
processo de envelhecimento marcado por doenças e agravos que impõem
sérias limitações ao seu bem-estar.
1. Finalidade
A finalidade primordial da Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa é recuperar, manter e promover a autonomia e a
independência dos indivíduos idosos, direcionando medidas coletivas e
individuais de saúde para esse fim, em consonância com os princípios e
diretrizes do Sistema Único de Saúde. É alvo dessa política todo
cidadão e cidadã brasileiros com 60 anos ou mais de idade.
Considerando:
a) o contínuo e intenso processo de envelhecimento populacional brasileiro;
b) os inegáveis avanços políticos e técnicos no campo da gestão da saúde;
c) o conhecimento atual da Ciência;
d) o conceito de saúde para o indivíduo idoso se traduz mais
pela sua condição de autonomia e independência que pela presença ou
ausência de doença orgânica;
e) a necessidade de buscar a qualidade da atenção aos
indivíduos idosos por meio de ações fundamentadas no paradigma da
promoção da saúde;
f) o compromisso brasileiro com a Assembléia Mundial para o
Envelhecimento de 2002, cujo Plano de Madri fundamenta-se em: (a)
participação ativa dos idosos na sociedade, no desenvolvimento e na
luta contra a pobreza; (b) fomento à saúde e bem-estar na velhice:
promoção do envelhecimento saudável; e (c) criação de um entorno
propício e favorável ao envelhecimento; e
g) escassez de recursos sócio-educativos e de saúde direcionados ao atendimento ao idoso;
A necessidade de enfrentamento de desafios como:
a) a escassez de estruturas de cuidado intermediário ao idoso
no SUS, ou seja, estruturas de suporte qualificado para idosos e seus
familiares destinadas a promover intermediação segura entre a alta
hospitalar e a ida para o domicílio;
b) número insuficiente de serviços de cuidado domiciliar ao
idoso frágil previsto no Estatuto do Idoso. Sendo a família, via de
regra, a executora do cuidado ao idoso, evidencia-se a necessidade de
se estabelecer um suporte qualificado e constante aos responsáveis por
esses cuidados, tendo a atenção básica por meio da Estratégia Saúde
da Família um papel fundamental;
c) a escassez de equipes multiprofissionais e
interdisciplinares com conhecimento em envelhecimento e saúde da
pessoa idosa; e
d) a implementação insuficiente ou mesmo a falta de implementação das Redes de Assistência à Saúde do Idoso.
2. Justificativa
O Brasil envelhece de forma rápida e intensa. No Censo de
2000, contava com mais de 14,5 milhões de idosos (IBGE, 2002), em sua
maioria com baixo nível socioeconômico e educacional e com uma alta
prevalência de doenças crônicas e causadoras de limitações funcionais e
de incapacidades (Lima-Costa et al, 2003; Ramos, 2002). A cada ano,
650 mil novos idosos são incorporados à população brasileira (IBGE,
2000). Essa transição demográfica repercute na área da saúde, em relação
à necessidade de (re)organizar os modelos assistenciais (Lima-Costa
& Veras, 2003). A maior causa de mortalidade entre idosos
brasileiros é o acidente vascular cerebral (Lima-Costa et al., 2000).
Na transição epidemiológica brasileira ocorrem incapacidades
resultantes do não-controle de fatores de risco preveníveis
(Lima-Costa et al., 2003).
O sistema de saúde brasileiro tradicionalmente está organizado
para atender à saúde materno-infantil e não tem considerado o
envelhecimento como uma de suas prioridades. Uma importante
conseqüência do aumento do número de pessoas idosas em uma população é
que esses indivíduos provavelmente apresentarão um maior número de
doenças e/ou condições crônicas que requerem mais serviços sociais e
médicos e por mais tempo (Firmo et al, 2003). Isso já pode ser notado,
uma vez que a população idosa, que hoje representa cerca de 9% da
população, consome mais de 26% dos recursos de internação hospitalar
no SUS (Lima-Costa et al, 2000). Além disso, é notável a carência de
profissionais qualificados para o cuidado ao idoso, em todos os níveis
de atenção.
Outro fato importante a ser considerado é que saúde para a
população idosa não se restringe ao controle e à prevenção de agravos
de doenças crônicas não-transmissíveis. Saúde da pessoa idosa é a
interação entre a saúde física, a saúde mental, a independência
financeira, a capacidade funcional e o suporte social (Ramos, 2002).
As políticas públicas de saúde, objetivando assegurar atenção a
toda população, têm dado visibilidade a um segmento populacional até
então pouco notado pela saúde pública - os idosos e as idosas com alto
grau de dependência funcional -. É possível a criação de ambientes
físicos, sociais e atitudinais que possibilitem melhorar a saúde das
pessoas com incapacidades tendo como uma das metas ampliar a
participação social dessas pessoas na sociedade (Lollar & Crews,
2002). Por isso mesmo, é imprescindível oferecer cuidados
sistematizados e adequados a partir dos recursos físicos, financeiros e
humanos de que se dispõe hoje.
2.1. O Grande Desafio: o Envelhecimento Populacional em Condição de Desigualdade Social e de Gênero
Envelhecimento populacional é definido como a mudança na
estrutura etária da população, o que produz um aumento do peso
relativo das pessoas acima de determinada idade, considerada como
definidora do início da velhice (Carvalho & Garcia, 2003). No
Brasil, é definida como idosa a pessoa que tem 60 anos ou mais de idade
(BRASIL, 2003).
Nos últimos 60 anos, o número absoluto de pessoas com 60 anos
ou mais de idade aumentou nove vezes (Beltrão, Camarano e Kanso,
2004). Não só a população brasileira está envelhecendo, mas a
proporção da população “mais idosa”, ou seja, a de 80 anos ou mais de
idade, também está aumentando, alterando a composição etária dentro do
próprio grupo. Significa dizer que a população idosa também está
envelhecendo (Camarano et al, 1999). Em 2000, esse segmento
representou 12,6% do total da população idosa brasileira. Isso leva a
uma heterogeneidade do segmento idoso brasileiro, havendo no grupo
pessoas em pleno vigor físico e mental e outras em situações de maior
vulnerabilidade
(Camarano et al, 2004).
O envelhecimento é também uma questão de gênero. Cinqüenta e
cinco por cento da população idosa são formados por mulheres. A
proporção do contingente feminino é tanto mais expressiva quanto mais
idoso for o segmento. Essa predominância feminina se dá em zonas
urbanas. Nas rurais, predominam os homens, o que pode resultar em
isolamento e abandono dessas pessoas
(Camarano et al, 2004; Camarano et al, 1999; Saad, 1999).
Quanto ao local de moradia, os idosos podem estar no ambiente
familiar ou em instituições de longa permanência para idosos (ILPI).
Cuidados institucionais não são prática generalizada nas sociedades
latinas. É consenso entre as mais variadas especialidades científicas
que a permanência dos idosos em seus núcleos familiares e comunitários
contribui para o seu bem-estar (Camarano & Pasinato, 2004). No
entanto, os dados referentes à população idosa institucionalizada no
Brasil são falhos. Em 2002, a Comissão de Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados publicou o relatório “V Caravana Nacional de Direitos
Humanos: uma amostra da Realidade dos Abrigos e Asilos de Idosos no
Brasil”. De acordo com o relatório, havia cerca de 19.000 idosos
institucionalizados em todo o País, o que representa 0,14% do total de
idosos brasileiros. É de se esperar que esse número seja bem maior
levando-se em conta que muitas das instituições asilares não são
cadastradas e que grande parte funciona na clandestinidade.
A heterogeneidade do grupo de idosos, seja em termos etários,
de local de moradia ou socioeconômicos, acarreta demandas
diferenciadas, o que tem rebatimento na formulação de políticas
públicas para o segmento (Camarano et al, 2004).
O envelhecimento populacional desafia a habilidade de produzir
políticas de saúde que respondam às necessidades das pessoas idosas. A
proporção de usuários idosos de todos os serviços prestados tende a
ser cada vez maior, quer pelo maior acesso às informações do referido
grupo etário, quer pelo seu expressivo aumento relativo e absoluto na
população brasileira. (Lima-Costa & Veras, 2003).
Além disso, os idosos diferem de acordo com a sua história de
vida, com seu grau de independência funcional e com a demanda por
serviços mais ou menos específicos. Todos necessitam, contudo, de uma
avaliação pautada no conhecimento do processo de envelhecimento e de
suas peculiaridades e adaptada à realidade sócio-cultural em que estão
inseridos. Faz-se, portanto, necessário que os serviços que prestam
atendimento a idosos respondam a necessidades específicas e distingam-se
pela natureza da intensidade dos serviços que ofereçam.
Cumpre notar que os idosos são potenciais consumidores de
Serviços de Saúde e de Assistência. Esse grupo sabidamente apresenta
uma grande carga de doenças crônicas e incapacitantes, quando
comparado a outros grupos etários (Lima-Costa et al, 2003a; Lima-Costa
et al, 2003b; Caldas, 2003). Disso resulta uma demanda crescente por
serviços sociais e de saúde (Lima-Costa & Veras, 2003).
2.2. Contextualização: Responder às Demandas das Pessoas
Idosas mais Frágeis dentre a População em Maior Risco de
Vulnerabilidade
O envelhecimento populacional cursa com o aumento de doenças e
condições que podem levar a incapacidade funcional. Para Verbrugge
& Jette (1994), a incapacidade funcional é a dificuldade
experimentada em realizar atividades em qualquer domínio da vida
devido a um problema físico ou de saúde. Ela também pode ser entendida
como a distância entre a dificuldade apresentada e os recursos
pessoais e ambientais de que dispõe para superá-la (Hébert, 2003).
Incapacidade é mais um processo do que um estado estático (Iezzoni,
2002). A Organização Mundial de Saúde (OMS) em sua Classificação
Internacional de Funções, Incapacidade e Saúde (CIF, 2001) vê a
incapacidade e as funções de uma pessoa como a interação dinâmica
entre condições de saúde - doenças, lesões, traumas etc - e fatores
contextuais, incluindo atributos pessoais e ambientais. A dependência é
a expressão da dificuldade ou incapacidade em realizar uma atividade
específica por causa de um problema de saúde (Hébert, 2003). No
entanto, cabe enfatizar que a existência de uma incapacidade funcional,
independentemente de sua origem, é o que determina a necessidade de um
cuidador (Néri & Sommerhalder, 2002).
Incapacidade funcional e limitações físicas, cognitivas e
sensoriais não são conseqüências inevitáveis do envelhecimento. A
prevalência da incapacidade aumenta com a idade, mas a idade sozinha
não prediz incapacidade (Lollar & Crews, 2002). Mulheres, minorias
e pessoas de baixo poder socioeconômico são particularmente
vulneráveis (Freedman, Martin e Schoeni, 2002). Independentemente de sua
etiologia, pessoas com incapacidade estão em maior risco para
problemas de saúde e afins (Lollar & Crews, 2002). A presença de
incapacidade é ônus para o indivíduo, para a família, para o sistema
de saúde e para a sociedade (Giacomin et al., 2004).
Estudos brasileiros de base populacional em idosos apontam a
existência de incapacidade entre idosos em cifras que variam de 2 a
45% dos idosos (Giacomin et al., 2005; Duarte, 2003; Lima-Costa, 2003;
Rosa et al; 2003), dependendo da idade e do sexo.
Assim, torna-se imprescindível incluir a condição funcional ao
se formularem políticas para a saúde dos idosos e responder,
prioritariamente, às pessoas idosas que já apresentem alta
dependência.
3. Diretrizes
Não se fica velho aos 60 anos. O envelhecimento é um processo
natural que ocorre ao longo de toda a experiência de vida do ser
humano, por meio de escolhas e de circunstâncias. O preconceito contra
a velhice e a negação da sociedade quanto a esse fenômeno colaboram
para a dificuldade de se pensar políticas específicas para esse grupo.
Ainda há os que pensam que se investe na infância e se gasta na
velhice. Deve ser um compromisso de todo gestor em saúde compreender
que, ainda que os custos de hospitalizações e cuidados prolongados
sejam elevados na parcela idosa, também aí está se investindo na
velhice “Quando o envelhecimento é aceito como um êxito, o
aproveitamento da competência, experiência e dos recursos humanos dos
grupos mais velhos é assumido com naturalidade, como uma vantagem para
o crescimento de sociedades humanas maduras e plenamente integradas”
(Plano de Madri, Artigo 6º).
Envelhecer, portanto, deve ser com saúde, de forma ativa,
livre de qualquer tipo de dependência funcional, o que exige promoção
da saúde em todas as idades. Importante acrescentar que muitos idosos
brasileiros envelheceram e envelhecem apesar da falta de recursos e da
falta de cuidados específicos de promoção e de prevenção em saúde.
Entre esses estão os idosos que vivem abaixo da linha de pobreza,
analfabetos, os seqüelados de acidentes de trabalho, os amputados por
arteriopatias, os hemiplégicos, os idosos com síndromes demenciais, e
para eles também é preciso achar respostas e ter ações específicas.
São apresentadas abaixo as diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa:
a) promoção do envelhecimento ativo e saudável;
b) atenção integral, integrada à saúde da pessoa idosa;
c) estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade da atenção;
d) provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa;
e) estímulo à participação e fortalecimento do controle social;
f) formação e educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa;
g) divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde
da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do
SUS;
h) promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa; e
i) apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas.
3.1. Promoção do Envelhecimento Ativo e Saudável
A promoção do envelhecimento ativo, isto é, envelhecer
mantendo a capacidade funcional e a autonomia, é reconhecidamente a
meta de toda ação de saúde. Ela permeia todas as ações desde o
pré-natal até a fase da velhice. A abordagem do envelhecimento ativo
baseia-se no reconhecimento dos direitos das pessoas idosas e nos
princípios de independência, participação, dignidade, assistência e
auto-realização determinados pela Organização das Nações Unidas (WHO,
2002). Para tanto é importante entender que as pessoas idosas
constituem um grupo heterogêneo. Também será necessário vencer
preconceitos e discutir mitos arraigados em nossa cultura. Os
profissionais de saúde e a comunidade devem perceber que a prevenção e
a promoção de saúde não é privilégio apenas dos jovens. A promoção
não termina quando se faz 60 anos e as ações de prevenção, sejam elas
primárias, secundárias ou terciárias, devem ser incorporadas à atenção
à saúde, em todas as idades.
Envelhecimento bem sucedido pode ser entendido a partir de
seus três componentes: (a) menor probabilidade de doença; (b) alta
capacidade funcional física e mental; e (c) engajamento social ativo
com a vida (Kalache & Kickbush, 1997; Rowe & Kahn, 1997;
Healthy People 2000). O Relatório Healthy People 2000 da OMS enfatiza
em seus objetivos: aumentar os anos de vida saudável, reduzir
disparidades na saúde entre diferentes grupos populacionais e assegurar o
acesso a serviços preventivos de saúde. Além disso, é preciso
incentivar e equilibrar a responsabilidade pessoal – cuidado consigo
mesmo – ambientes amistosos para a faixa etária e solidariedade entre
gerações. As famílias e indivíduos devem se preparar para a velhice,
esforçando-se para adotar uma postura de práticas saudáveis em todas
as fases da vida (OMS, 2002).
Com a perspectiva de ampliar o conceito de “envelhecimento
saudável”, a Organização Mundial da Saúde propõe “Envelhecimento
Ativo: Uma Política de Saúde” (2005), ressaltando que o governo, as
organizações internacionais e a sociedade civil devam implementar
políticas e programas que melhorem a saúde, a participação e a
segurança da pessoa idosa. Considerando o cidadão idoso não mais como
passivo, mas como agente das ações a eles direcionadas, numa abordagem
baseada em direitos, que valorize os aspectos da vida em comunidade,
identificando o potencial para o bem-estar físico, social e mental ao
longo do curso da vida.
Aproveitar todas as oportunidades para:
a) desenvolver e valorizar o atendimento acolhedor e resolutivo à pessoa idosa, baseado em critérios de risco;
b) informar sobre seus direitos, como ser acompanhado por
pessoas de sua rede social (livre escolha) e quem são os profissionais
que cuidam de sua saúde;
c) valorizar e respeitar a velhice;
d) estimular a solidariedade para com esse grupo etário;
e) realizar ações de prevenção de acidentes no domicílio e nas vias públicas, como quedas e atropelamentos;
f) realizar ações integradas de combate à violência doméstica e institucional contra idosos e idosas;
g) facilitar a participação das pessoas idosas em equipamentos
sociais, grupos de terceira idade, atividade física, conselhos de
saúde locais e conselhos comunitários onde o idoso possa ser ouvido e
apresentar suas demandas e prioridades;
h) articular ações e ampliar a integração entre as secretarias
municipais e as estaduais de saúde, e os programas locais
desenvolvidos para a difusão da atividade física e o combate ao
sedentarismo;
i) promover a participação nos grupos operativos e nos grupos
de convivência, com ações de promoção, valorização de experiências
positivas e difusão dessas na rede, nortear e captar experiências;
j) informar e estimular a prática de nutrição balanceada, sexo seguro, imunização e hábitos de vida saudáveis;
k) realizar ações motivadoras ao abandono do uso de álcool, tabagismo e sedentarismo, em todos os níveis de atenção;
l) promover ações grupais integradoras com inserção de avaliação, diagnóstico e tratamento da saúde mental da pessoa idosa;
m) reconhecer e incorporar as crenças e modelos culturais dos
usuários em seus planos de cuidado, como forma de favorecer a adesão e
a eficiência dos recursos e tratamentos disponíveis;
n) promover a saúde por meio de serviços preventivos
primários, tais como a vacinação da população idosa, em conformidade
com a Política Nacional de Imunização;
o) estimular programas de prevenção de agravos de doenças crônicas não-transmissíveis em indivíduos idosos;
p) implementar ações que contraponham atitudes preconceituosas
e sejam esclarecedoras de que envelhecimento não é sinônimo de
doença;
q) disseminar informação adequada sobre o envelhecimento para
os profissionais de saúde e para toda a população, em especial para a
população idosa;
r) implementar ações para reduzir hospitalizações e aumentar habilidades para o auto-cuidado dos usuários do SUS;
s) incluir ações de reabilitação para a pessoa idosa na
atenção primária de modo a intervir no processo que origina a
dependência funcional;
t) investir na promoção da saúde em todas as idades; e
u) articular as ações do Sistema Único de Saúde com o Sistema Único de Assistência Social – SUAS.
3.2. Atenção Integral e Integrada à Saúde da Pessoa Idosa
A atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa deverá
ser estruturada nos moldes de uma linha de cuidados, com foco no
usuário, baseado nos seus direitos, necessidades, preferências e
habilidades; estabelecimento de fluxos bidirecionais funcionantes,
aumentando e facilitando o acesso a todos os níveis de atenção;
providos de condições essenciais - infra-estrutura física adequada,
insumos e pessoal qualificado para a boa qualidade técnica.
Instrumentos gerenciais baseados em levantamento de dados
sobre a capacidade funcional (inventários funcionais) e
sócio-familiares da pessoa idosa deverão ser implementados pelos
gestores municipais e estaduais do SUS, para que haja a participação
de profissionais de saúde e usuários na construção de planos locais de
ações para enfrentamento das dificuldades inerentes à complexidade de
saúde da pessoa idosa.
Incorporação, na atenção básica, de mecanismos que promovam a
melhoria da qualidade e aumento da resolutividade da atenção à pessoa
idosa, com envolvimento dos profissionais da atenção básica e das
equipes do Saúde da Família, incluindo a atenção domiciliar e
ambulatorial, com incentivo à utilização de instrumentos técnicos
validados, como de avaliação funcional e psicossocial.
Incorporação, na atenção especializada, de mecanismos que
fortaleçam a atenção à pessoa idosa: reestruturação e implementação
das Redes Estaduais de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa, visando a
integração efetiva com a atenção básica e os demais níveis de atenção,
garantindo a integralidade da atenção, por meio do estabelecimento de
fluxos de referência e contra-referência; e implementando de forma
efetiva modalidades de atendimento que correspondam às necessidades da
população idosa, com abordagem multiprofissional e interdisciplinar,
sempre que possível. Contemplando também fluxos de retaguarda para a
rede hospitalar e demais especialidades, disponíveis no Sistema Único
de Saúde.
A prática de cuidados às pessoas idosas exige abordagem
global, interdisciplinar e multidimensional, que leve em conta a
grande interação entre os fatores físicos, psicológicos e sociais que
influenciam a saúde dos idosos e a importância do ambiente no qual
está inserido. A abordagem também precisa ser flexível e adaptável às
necessidades de uma clientela específica. A identificação e o
reconhecimento da rede de suporte social e de suas necessidades também
faz parte da avaliação sistemática, objetivando prevenir e detectar
precocemente o cansaço das pessoas que cuidam. As intervenções devem
ser feitas e orientadas com vistas à promoção da autonomia e
independência da pessoa idosa, estimulando-a para o auto-cuidado.
Grupos de auto-ajuda entre as pessoas que cuidam devem ser
estimulados.
Uma abordagem preventiva e uma intervenção precoce são sempre
preferíveis às intervenções curativas tardias. Para tanto, é
necessária a vigilância de todos os membros da equipe de saúde, a
aplicação de instrumentos de avaliação e de testes de triagem, para
detecção de distúrbios cognitivos, visuais, de mobilidade, de audição,
de depressão e do comprometimento precoce da funcionalidade, dentre
outros.
O modelo de atenção à saúde baseado na assistência médica
individual não se mostra eficaz na prevenção, educação e intervenção,
em questões sociais, ficando muitas vezes restritas às complicações
advindas de afecções crônicas. A cada etapa de intervenção os
profissionais deverão considerar os anseios do idoso e de sua família.
Pressupondo-se troca de informações e negociação das expectativas de
cada um, levando-se em consideração elementos históricos do paciente,
seus recursos individuais e sociais e aqueles da rede de suporte
social disponível no local.
Um dos instrumentos gerenciais imprescindíveis é a
implementação da avaliação funcional individual e coletiva. A partir
da avaliação funcional coletiva determina-se a pirâmide de risco
funcional, estabelecida com base nas informações relativas aos
critérios de risco da população assistida pelas Unidades Básicas de
Saúde (UBS) de cada município. Verifica-se como está distribuída a
população adscrita à equipe do Saúde da Família, com base no
inventário de risco funcional. Nos municípios que não dispõem da
Estratégia Saúde da Família, as equipes das UBS poderão ser
responsáveis por esse levantamento e acompanhamento. Assim, é possível
conhecer qual a proporção de idosos que vivem em Instituições de Longa
Permanência para Idosos, a proporção daqueles com alta dependência
funcional – acamados –, a proporção dos que já apresentam alguma
incapacidade funcional para atividades básicas da vida diária (AVD) –
como tomar banho, vestir-se, usar o banheiro, transferir-se da cama
para a cadeira, ser continente e alimentar-se com a própria mão – e
qual a proporção de idosos independentes.
Considera-se o idoso independente aquele que é capaz de
realizar sem dificuldades e sem ajuda todas as atividades de vida
diária citadas acima. Esses idosos comporão a base da pirâmide.
Indivíduos idosos, mesmo sendo independentes, mas que
apresentem alguma dificuldade nas atividades instrumentais de vida
diária (AIVD) – preparar refeições, controlar a própria medicação,
fazer compras, controlar o próprio dinheiro, usar o telefone, fazer
pequenas tarefas e reparos domésticos e sair de casa sozinho utilizando
uma condução coletiva –, são considerados idosos com potencial para
desenvolver fragilidade e por isso merecerão atenção específica pelos
profissionais de saúde e devem ser acompanhados com maior freqüência.
Considera-se idoso frágil ou em situação de fragilidade aquele
que: vive em ILPI, encontra-se acamado, esteve hospitalizado
recentemente por qualquer razão, apresente doenças sabidamente
causadoras de incapacidade funcional – acidente vascular encefálico,
síndromes demenciais e outras doenças neurodegenerativas, etilismo,
neoplasia terminal, amputações de membros –, encontra-se com pelo
menos uma incapacidade funcional básica, ou viva situações de
violência doméstica. Por critério etário, a literatura estabelece que
também é frágil o idoso com 75 anos ou mais de idade. Outros critérios
poderão ser acrescidos ou modificados de acordo com as realidades
locais.
Uma vez conhecida a condição de fragilidade, será necessário
avaliar os recursos locais para lidar com ela, de modo a facilitar o
cuidado domiciliar, incluir a pessoa que cuida no ambiente familiar
como um parceiro da equipe de cuidados, fomentar uma rede de
solidariedade para com o idoso frágil e sua família, bem como promover
a reinserção da parcela idosa frágil na comunidade.
De acordo com a condição funcional da pessoa idosa serão
estabelecidas ações de atenção primária, de prevenção – primária,
secundária e terciária –, de reabilitação, para a recuperação da
máxima autonomia funcional, prevenção do declínio funcional, e
recuperação da saúde. Estarão incluídas nessas ações o controle e a
prevenção de agravos de doenças crônicas não-transmissíveis.
Todo profissional deve procurar promover a qualidade de vida
da pessoa idosa, quando chamado a atendê-la. É importante viver muito,
mas é fundamental viver bem. Preservar a autonomia e a independência
funcional das pessoas idosas deve ser a meta em todos os níveis de
atenção.
Ficam estabelecidos, portanto, os dois grandes eixos
norteadores para a integralidade de ações: o enfrentamento de
fragilidades, da pessoa idosa, da família e do sistema de saúde; e a
promoção da saúde e da integração social, em todos os níveis de
atenção.
3.3. Estímulo às Ações Intersetoriais, visando à Integralidade da Atenção
A prática da intersetorialidade pressupõe o reconhecimento de
parceiros e de órgãos governamentais e não-governamentais que
trabalham com a população idosa. A organização do cuidado
intersetorial a essa população evita duplicidade de ações, corrige
distorções e potencializa a rede de solidariedade.
As ações intersetoriais visando à integralidade da atenção à
saúde da pessoa idosa devem ser promovidas e implementadas,
considerando as características e as necessidades locais.
3.4. Provimento de Recursos Capazes de Assegurar Qualidade da Atenção à Saúde da Pessoa Idosa
Deverão ser definidas e pactuadas com os estados, o Distrito
Federal e os municípios as formas de financiamento que ainda não foram
regulamentadas, para aprimoramento da qualidade técnica da atenção à
saúde prestada à pessoa idosa. Os mecanismos e os fluxos de
financiamento devem ter por base as programações ascendentes de
estratégias que possibilitem a valorização do cuidado humanizado ao
indivíduo idoso. Abaixo são apresentados os itens prioritários para a
pactuação:
a) provimento de insumos, de suporte em todos os níveis de
atenção, prioritariamente na atenção domiciliar inclusive
medicamentos;
b) provimento de recursos para adequação de estrutura física dos serviços próprios do SUS;
c) provimento de recursos para ações de qualificação e de
capacitação de recursos humanos, e incremento da qualidade técnica dos
profissionais de saúde do SUS na atenção à pessoa idosa;
d) produção de material de divulgação e informativos sobre a
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, normas técnicas e
operacionais, protocolos e manuais de atenção, para profissionais de
saúde, gestores e usuários do SUS;
e) implementação de procedimento ambulatorial específico para a avaliação global do idoso; e
f) determinação de critérios mínimos de estrutura, processo e
resultados, com vistas a melhorar o atendimento à população idosa,
aplicáveis às unidades de saúde do SUS, de modo que a adequação a
esses critérios seja incentivada e mereça reconhecimento.
3.5. Estímulo à Participação e Fortalecimento do Controle Social
Deve-se estimular a inclusão nas Conferências Municipais e
Estaduais de Saúde de temas relacionados à atenção à população idosa,
incluindo o estímulo à participação de cidadãos e cidadãs idosos na
formulação e no controle social das ações deliberadas nessas
Conferências.
Devem ser estimulados e implementados os vínculos dos serviços
de saúde com os seus usuários, privilegiando os núcleos familiares e
comunitários, criando, assim, condições para uma efetiva participação e
controle social da parcela idosa da população.
3.6. Divulgação e Informação sobre a Política Nacional de
Saúde da Pessoa Idosa para Profissionais de Saúde, Gestores e Usuários
do SUS
As medidas a serem adotadas buscarão:
a) incluir a PNSPI na agenda de atividades da comunicação social do SUS;
b) produzir material de divulgação, tais como cartazes, cartilhas, folhetos e vídeos;
c) promover ações de informação e divulgação da atenção à
saúde da pessoa idosa, respeitando as especificidades regionais e
culturais do País e direcionadas aos trabalhadores, aos gestores, aos
conselheiros de saúde, bem como aos docentes e discentes da área de
saúde e à comunidade em geral;
d) apoiar e fortalecer ações inovadoras de informação e
divulgação sobre a atenção à saúde da pessoa idosa em diferentes
linguagens culturais;
e) identificar, articular e apoiar experiências de educação
popular, informação e comunicação em atenção à saúde da pessoa idosa; e
f) prover apoio técnico e/ou financeiro a projetos de
qualificação de profissionais que atuam na Estratégia Saúde da Família
e no Programa de Agentes Comunitários de Saúde, para atuação na área
de informação, comunicação e educação popular em atenção à saúde da
pessoa idosa.
3.7. Promoção de Cooperação Nacional e Internacional das Experiências na Atenção à Saúde da Pessoa Idosa
Devem-se fomentar medidas que visem à promoção de cooperação
nacional e internacional das experiências bem sucedidas na área do
envelhecimento, no que diz respeito à atenção à saúde da pessoa idosa,
à formação técnica, à educação em saúde e a pesquisas.
3.8. Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas
Apoiar o desenvolvimento de estudos e pesquisas que avaliem a
qualidade e aprimorem a atenção de saúde à pessoa idosa. Identificar e
estabelecer redes de apoio com instituições formadoras, associativas e
representativas, universidades, faculdades e órgãos públicos nas três
esferas, visando:
a) fomentar pesquisas em envelhecimento e saúde da pessoa idosa;
b) identificar e apoiar estudos/pesquisas relativos ao
envelhecimento e à saúde da pessoa idosa existentes no Brasil, com o
objetivo de socializar, divulgar e embasar novas investigações;
c) criar banco de dados de pesquisadores e pesquisas em
envelhecimento e saúde da pessoa idosa realizadas no Brasil,
interligando-o com outros bancos de abrangência internacional;
d) identificar e divulgar as potenciais linhas de
financiamento – Ministério da Ciência e Tecnologia, Fundações
Estaduais de Amparo à Pesquisa, terceiro setor e outros – para a
pesquisa em envelhecimento e saúde da pessoa idosa;
e) apoiar a realização de estudo sobre representações sociais,
junto a usuários e profissionais de saúde sobre a saúde da pessoa
idosa;
f) priorizar as linhas de pesquisas em envelhecimento e saúde
da pessoa idosa a serem implementadas pelo SUS, visando o
aprimoramento e a consolidação da atenção à saúde da pessoa idosa no
SUS; e
g) implementar um banco de dados nacional com resultados de avaliação funcional da população idosa brasileira.
4. Responsabilidades Institucionais
Caberá aos gestores do SUS, em todos os níveis, de forma
articulada e conforme suas competências específicas, prover os meios e
atuar para viabilizar o alcance do propósito desta Política Nacional
de Saúde da Pessoa Idosa.
4.1. Gestor Federal
a) elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS;
b) definir recursos orçamentários e financeiros para a
implementação desta Política, considerando que o financiamento do
Sistema Único de Saúde é de competência das três esferas de governo;
c) estabelecer diretrizes para a qualificação e educação permanente em saúde da pessoa idosa;
d) manter articulação com os estados e municípios para apoio à implantação e supervisão das ações;
e) promover articulação intersetorial para a efetivação desta Política Nacional;
f) estabelecer instrumentos e indicadores para o
acompanhamento e avaliação do impacto da implantação/implementação
desta Política;
g) divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; e
h) estimular pesquisas nas áreas de interesse do
envelhecimento e da atenção à saúde da pessoa idosa, nos moldes do
propósito e das diretrizes desta Política.
4.2. Gestor Estadual
a) elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS;
b) definir recursos orçamentários e financeiros para a
implementação desta Política, considerando que o financiamento do
Sistema Único de Saúde é de competência das três esferas de governo;
c) Discutir e pactuar na Comissão Intergestores Bipartite
(CIB) as estratégias e metas a serem alcançadas por essa Política a
cada ano;
d) promover articulação intersetorial para a efetivação da Política;
e) implementar as diretrizes da educação permanente e qualificação em consonância com a realidade loco regional;
f) estabelecer instrumentos e indicadores para o
acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação
desta Política;
g) manter articulação com municípios para apoio à implantação e supervisão das ações;
h) divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa;
i) exercer a vigilância sanitária no tocante a Saúde da Pessoa Idosa e a ações decorrentes no seu âmbito; e
j) apresentar e aprovar proposta de inclusão da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa no Conselho Estadual de Saúde.
4.3. Gestor Municipal:
a) elaborar normas técnicas referentes à atenção à saúde da pessoa idosa no SUS;
b) definir recursos orçamentários e financeiros para a
implementação desta Política, considerando que o financiamento do
Sistema Único de Saúde é de competência das três esferas de governo;
c) discutir e pactuar na Comissão Intergestores Bipartite
(CIB) as estratégias e metas a serem alcançadas por essa Política a
cada ano;
d) promover articulação intersetorial para a efetivação da Política;
e) estabelecer mecanismos para a qualificação dos profissionais do sistema local de saúde;
f) estabelecer instrumentos de gestão e indicadores para o
acompanhamento e a avaliação do impacto da implantação/implementação
da Política;
g) divulgar a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa; e
h) apresentar e aprovar proposta de inclusão da Política de Saúde da Pessoa Idosa no Conselho Municipal de Saúde.
5. Articulação Intersetorial
As diretrizes aqui definidas implicam o desenvolvimento de um
amplo conjunto de ações, que requerem o compartilhamento de
responsabilidades com outros setores. Nesse sentido, os gestores do
SUS deverão estabelecer, em suas respectivas áreas de abrangência,
processos de articulação permanente, visando ao estabelecimento de
parcerias e a integração institucional que viabilizem a consolidação de
compromissos multilaterais efetivos. Será buscada, igualmente, a
participação de diferentes segmentos da sociedade, que estejam direta
ou indiretamente relacionadas com a presente Política. No âmbito
federal, o Ministério da Saúde articulará com os diversos setores do
Poder Executivo em suas respectivas competências, de modo a alcançar
os objetivos a seguir explicitados.
5.1. Educação
a) inclusão nos currículos escolares de disciplinas que
abordem o processo do envelhecimento, a desmistificação da
senescência, como sendo diferente de doença ou de incapacidade,
valorizando a pessoa idosa e divulgando as medidas de promoção e
prevenção de saúde em todas as faixas etárias;
b) adequação de currículos, metodologias e material didático
de formação de profissionais na área da saúde, visando ao atendimento
das diretrizes fixadas nesta Política;
c) incentivo à criação de Centros Colaboradores de Geriatria e
Gerontologia nas instituições de ensino superior, que possam atuar de
forma integrada com o SUS, mediante o estabelecimento de referência e
contra-referência de ações e serviços para o atendimento integral dos
indivíduos idosos e a capacitação de equipes multiprofissionais e
interdisciplinares, visando à qualificação contínua do pessoal de
saúde nas áreas de gerência, planejamento, pesquisa e assistência à
pessoa idosa; e
d) discussão e readequação de currículos e programas de ensino
nas instituições de ensino superior abertas para a terceira idade,
consoante às diretrizes fixadas nesta Política.
5.2. Previdência Social
a) realização de estudos e pesquisas de cunho epidemiológico
junto aos segurados, relativos às doenças e agravos mais prevalentes
nesta faixa etária, sobretudo quanto aos seus impactos no indivíduo,
na família, na sociedade, na previdência social e no setor saúde; e
b) elaboração de programa de trabalho conjunto direcionado aos
indivíduos idosos segurados, consoante às diretrizes fixadas nesta
Política.
5.3. Sistema Único de Assistência Social:
a) reconhecimento do risco social da pessoa idosa como fator determinante de sua condição de saúde;
b) elaboração de inquérito populacional para levantamento e
estratificação das condições de risco social da população idosa
brasileira;
c) elaboração de medidas, com o apontamento de soluções, para abordagem da população idosa sob risco social;
d) criação de mecanismos de monitoramento de risco social
individual, de fácil aplicabilidade e utilização por profissionais da
atenção básica do SUS e do SUAS;
e) difusão de informações relativas à preservação da saúde e à prevenção ou recuperação de incapacidades;
f) inclusão das diretrizes aqui estabelecidas em seus programas de educação continuada;
g) implantação de política de atenção integral aos idosos residentes em Instituições de Longa Permanência para Idosos;
h) promoção da formação de grupos sócio-educativos e de
auto-ajuda entre os indivíduos idosos, principalmente para aqueles
com doenças e agravos mais prevalentes nesta faixa etária;
i) implantação e implementação de Centros de Convivência e Centros-Dia, conforme previsto no Decreto nº 1948/96;
j) apoio à construção de Políticas Públicas de Assistência
Social que considerem as pessoas, suas circunstâncias e o suporte
social e que atuem como aliadas no processo de desenvolvimento humano e
social, e não como tuteladora e assistencialista, tanto na proteção
social básica, como na proteção social especial;
k) compromisso com a universalização do direito, inclusão
social, eqüidade, descentralização e municipalização das ações,
respeitando a dignidade do cidadão e sua autonomia, favorecendo o
acesso à informação, aos benefícios e aos serviços de qualidade, bem
como à convivência familiar e comunitária; e
l) desenvolvimento de ações de enfrentamento à pobreza.
5.4. Trabalho e Emprego:
a) elaboração, implantação e implementação de programas de preparação para a aposentadoria nos setores público e privado;
b) implantação de ações para a eliminação das discriminações
no mercado de trabalho e a criação de condições que permitam a
inserção da pessoa idosa na vida socioeconômica das comunidades; e
c) levantamento dos indivíduos idosos já aposentados e que
retornaram ao mercado de trabalho, identificando as condições em que
atuam no mercado, de forma a coibir abusos e explorações.
5.5. Desenvolvimento Urbano:
a) implantação de ações para o cumprimento das leis de
acessibilidade (Decreto Lei nº 5296/2004), de modo a auxiliar na
manutenção e no apoio à independência funcional da pessoa idosa; e
b) promoção de ações educativas dirigidas aos agentes
executores e beneficiários de programas habitacionais quanto aos
riscos ambientais à capacidade funcional dos indivíduos idosos.
5.6. Transportes:
a) implantação de ações que permitam e/ou facilitem o
deslocamento do cidadão idoso, sobretudo aquele que já apresenta
dificuldades de locomoção, tais como elevatórias para acesso aos
ônibus na porta de hospitais, rampas nas calçadas, bancos mais altos
nas paradas de ônibus. Em conformidade com a Lei da Acessibilidade,
Decreto Lei nº 5296, de 2 de dezembro de 2004.
5.7. Justiça e Direitos Humanos:
a) promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa, no tocante
às questões de saúde, mediante o acompanhamento da aplicação das
disposições contidas na Lei nº 8.842/94 e seu regulamento (Decreto nº
1.948/96), bem como a Lei nº 10.741/2003, que estabelece o Estatuto do
Idoso.
5.8. Esporte e Lazer
a) estabelecimento de parceria para a implementação de
programas de atividades físicas e recreativas destinados às pessoas
idosas.
5.9.Ciência e Tecnologia:
fomento à pesquisa na área do envelhecimento, da geriatria e
da gerontologia, por intermédio do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e demais órgãos de
incentivo à pesquisa, contemplando estudos e pesquisas que estejam,
prioritariamente, alinhados com as diretrizes propostas nesta
Política.
6. Acompanhamento e Avaliação
A operacionalização desta Política compreenderá a
sistematização de processo contínuo de acompanhamento e avaliação, que
permita verificar o alcance de seu propósito – e, conseqüentemente, o
seu impacto sobre a saúde dos indivíduos idosos –, bem como proceder a
eventuais adequações que se fizerem necessárias.
Esse processo exigirá a definição de critérios, parâmetros,
indicadores e metodologia específicos, capazes de evidenciar, também, a
repercussão das medidas levadas a efeito por outros setores, que
resultaram da ação articulada preconizada nesta Política, bem como a
observância dos compromissos internacionais assumidos pelo País em
relação à atenção à saúde dos indivíduos idosos.
É importante considerar que o processo de acompanhamento e
avaliação referido será apoiado, sobretudo para a aferição de
resultados no âmbito interno do setor, pelas informações produzidas
pelos diferentes planos, programas, projetos, ações e/ou atividades
decorrentes desta Política Nacional.
Além da avaliação nos contextos anteriormente identificados,
voltados principalmente para a verificação do impacto das medidas
sobre a saúde dos indivíduos idosos, buscar-se-á investigar a
repercussão desta Política na qualidade de vida deste segmento
populacional.
Nesse particular, buscar-se-á igualmente conhecer em que
medida a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa tem contribuído
para a concretização dos princípios e diretrizes do SUS, na
conformidade do Artigo 7º da Lei nº 8.080/90, entre os quais,
destacam-se aqueles relativos à integralidade da atenção, à
preservação da autonomia das pessoas e ao uso da epidemiologia no
estabelecimento de prioridades (respectivamente incisos II, III e VII).
Paralelamente, deverá ser observado, ainda, se:
a) o potencial dos serviços de saúde e as possibilidades de
utilização pelo usuário estão sendo devidamente divulgados para a
população de forma geral e, principalmente, à população idosa;
b) as ações, programas, projetos e atividades que
operacionalizam esta Política estão sendo desenvolvidos de forma
descentralizada, considerando a direção única em cada esfera de
gestão; e
c) a participação dos indivíduos idosos nas diferentes instâncias do SUS está sendo incentivada e facilitada.