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domingo, 27 de março de 2011

historico da cenerab

Em Outubro de 1991, no Estado do Rio de Janeiro, por ocasião do I Encontro Nacional de Entidades Negras, religiosos de matriz africana de todos os Estados da Federação reúnem e cria o CENARAB – Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira, entidade sem fins lucrativos, que tem como objetivo congregar e organizar religiosos de matriz africana, organizando as nossas casas para o embate à intolerância religiosa.

A história do CENARAB se confunde com a história da militância negra brasileira, na busca de um país livre de toda e qualquer forma de racismo, o CENARAB vem ao longo destes anos se pautando em uma agenda comprometida com a liberdade, com a ética e a participação organizada dos setores que representa, apresentando propostas políticas públicas, organizativas e inclusivas deste setor historicamente excluído da agenda política do país. A história do Brasil é marcada pelo racismo, a discriminação racial e o CENARAB é reconhecidamente uma entidade aguerrida na construção de um país democrático, que respeite sua pluralidade de formação.

A intolerância religiosa é uma das formas mais cruéis para a expressão do racismo, pois lida diretamente com a expropriação dos direitos inalienáveis do cidadão, busca retirar deste sua humanidade e projetar em sua realidade confissões e dogmas religiosos que não pertencem às tradições de matriz africana.

O CENARAB tem como papel organizar os/as sacerdotes, sacerdotisas de matriz africana investindo em sua formação, preparando-os para lidar com a realidade de uma sociedade que não os reconhece em sua plenitude. Organizar o CENARAB é assegurar aos milhares de religiosos e simpatizantes das religiões de matriz africana, uma representatividade expressiva na luta contra a intolerância religiosa.

Nos 15 anos que nos separam da data de criação do CENARAB, uma história muito bonita foi construída, uma história que mistura emoção, gratidão e desejo de ver nossas casas/templos reconhecidas por sua importância e papel social. Hoje, nos encontramos com problemas concretos no que diz respeito a nossa legalidade, mas não tem sido este fato impedimento para que continuemos a propor ações concretas que de fato visem colocar nossos templos no seu devido lugar junto à sociedade.

Somos milhares de sacerdotes e sacerdotisas de matriz africana espalhados por este país continente, cujos direitos constitucionais não são considerados, nossos templos são de propriedade privada para uso coletivo e ainda assim sofremos toda sorte de discriminação e intolerância religiosa. A nossa história é a história da resistência, é a história de uma gente que busca a cidadania plena independente de seu credo e de sua fé. E o CENARAB tem um papel histórico nesta política de afirmação e de auto estima.


As diversidades e a realidade brasileira em muito contribuiu para o desmantelamento da direção nacional do CENARAB, visto ser esta diversificada e representada por militantes nas diversas regiões brasileiras. As últimas tentativas de reunir a direção nas esferas e propiciar um momento para a troca de experiências assegurando a organização e fortalecimento do CENARAB, significa assegurar a continuidade de nossa atuação independente do cenário político que se desenhará a partir das eleições de outubro.

Hoje somos reconhecidos pelo Estado brasileiro enquanto espaços públicos para a implementação de políticas públicas, o que significa um avanço. Somos milhares de templos espalhados pelo país, cuja existência depende exclusivamente da vontade individual, onde estes são de propriedade privada para uso coletivo, contrastando com uma realidade totalmente diferente dos templos das demais religiões que se estruturaram em nosso país. Aliás, é sabido por todos que o Estado brasileiro em vários momentos de sua história se confundiu com religiões, tendo assimilado dogmas e paradigmas das religiões cristãs, tendo inclusive patrocinado o tráfico transatlântico e a escravidão de milhões de negros brasileiros, sob a bandeira desta fé.
Os negros são mais de 50% da população. Assim estaremos preparando os sacerdotes de matriz africana dos diversos Estados brasileiros para o embate diário, aprofundando o debate sobre as diversas formas como a intolerância religiosa no país vem afetando nossa prática religiosa.

Discutir sobre o papel do Estado e a necessidade de implementação de políticas públicas que nos assegure os direitos constitucionais é uma necessidade emergencial, pois, o Estado brasileiro sempre nos negou a importância de nossa contribuição e participação na construção da sociedade brasileira. A partir deste debate estaremos estabelecendo um cronograma de atuação das lideranças religiosas na luta contra a intolerância religiosa.

Garantir a reunião destas lideranças, buscando organizar esta entidade que historicamente tem se destacado na organização dos religiosos de matriz africana, é fundamental para a existência de um Estado e um país mais justo e democrático. Estas lideranças têm muito a contribuir para a formatação de uma sociedade que respeite a pluralidade e diversidade de sua formação.

Fernandes José Olufam
Exu kiumba Akirijebo

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