Medida proíbe dízimos e revista íntima de religiosos em presídios
Recentemente o
Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP),
vinculado ao Ministério da Justiça (MJ), baixou resolução que normatiza a
prática de cultos e assistência religiosa dentro de presídios
brasileiros. As normas orientam as secretarias estudais, reafirmando o
direto da prática religiosa, Seja qual for a crença, católica,
evangélica, afro-brasileira ou espírita, todas elas são comuns nos
presídios brasileiros.
A norma proíbe o recolhimento de dízimos e
venda de material religioso e prevê o cadastro das instituições, que
devem comprovar um ano de existência, e também dos agentes religiosos,
que passam a ser isentos de revista íntima. Também fica autorizado o uso
de objetos para os cultos, desde que não apresentem risco para a
segurança.
"A resolução efetiva o direito, deixando bem claro o
direito da prática religiosa, mas sem abrir mão da segurança, porque
estamos falando de presídios e não de locais abertos", afirma o
presidente do CNPCP, Geder Luiz Rocha Gomes.
O Ministério da
Justiça não possui um levantamento sobre as crenças religiosas dos
presidiários. Os dados disponíveis são de pesquisas sócio-criminais
realizadas nas penitenciárias federais de Catanduvas (PR) e Campo Grande
(MS) que datam de 2005 e 2007. Na primeira unidade, entre os
entrevistados, 57,3%, disseram ser católicos, 22,79%, evangélicos,
17,65%, sem religião, 1,47%, espíritas e, 0,74%, testemunhas de Jeová.
Em Campo Grande, 53,15%, se disseram católicos, 27,19%, evangélicos,
4,5%, espíritas, 3,6%, mulçumanos e 8,1%, não respondeu.
Segundo o
pastor Edvandro Machado Cavalcante, coordenador da Pastoral Carcerária
da Igreja Metodista do Rio de Janeiro, que realiza o trabalho de
assistência religiosa a presidiários há mais de 10 anos, o trabalho
dentro dos presídios é realizado por entidades das mais diversas
orientações religiosas: evangélicas, religiões afro-brasileiras,
espíritas e católicas. "São diversas religiões, mas a grande maioria é
evangélica, mas o espaço é plural, sim", afirma.
Ele considera a
iniciativa de norma como positiva, uma vez que as determinações apontam,
ao menos, diretrizes para problemas que se arrastavam há anos, como a
possibilidade de revista íntima para os agentes religiosos, o que passou
a ser proibido com a nova norma. "A legislação dava uma de João sem
braço. Isso era um ponto muito delicado, principalmente aqui no Estado
do Rio. Os agentes penitenciários não faziam, mas teoricamente poderiam
fazer. Acho muito importante que isso fique claro. Porque aquela revista
é vexatória", afirma.
Ele concorda ainda com a proibição da
arrecadação de dízimos e venda de material religiosa pois acredita que,
apesar da oferta fazer parte da prática religiosa de algumas igrejas,
dentro dos presídios a assistência religiosa deve ser feita de forma
diferente. "A igreja e qualquer entidade religiosa têm que agir de forma
diferente dentro dos presídios. Ir lá para arrecadar junto a essa
população tão espoliada é uma indignidade, violenta o principio mais
básico da dignidade humana. É uma preocupação de muito bom tom, apesar
da portaria 005 da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária
do Rio de Janeiro (SEAP), que regulamenta a ação do agente religioso, já
deixar claro que não pode haver comércio nem arrecadação", completa.
O
pastor conta que na maioria das unidades prisionais já existe uma local
destinado para as práticas religiosas, apesar das dificuldades impostas
pela arquitetura prisional existente no Brasil. No entanto, ele defende
ainda que o espaço seja usado para ações que ultrapassam a assistência
religiosa, com atividades educativas e profissionalizantes. "Um grande
problema é a arquitetura prisional, não tem lugares para atividades
laborativas, educacional", disse ele ao falar sobre um projeto de
educação informática que é realizado pela Metodista no Rio.
Evangélicos são respeitados
Uma
das religiões mais respeitadas, senão a mais, é a evangélica. Quando um
preso se converte, passa a fazer parte de um grupo, que convive em
áreas diferentes e que conta com uma certa imunidade entre as facções
dividas nos pavilhões.
"Isso é engraçado, em alguns presídios você
tem o comando tal, o comando x, e os evangélicos. Até porque eles têm
uma moral muito rígida dentro desses grupos, é a famosa teoria da
envergadura da vara, se você teve muito de um lado, a tendência é
radicalizar para o outro até encontrar um equilíbrio. Eles geralmente se
filiam ao que tem de mais radical, não só em termos de comportamento,
não só em relação a ética, mas também em relação a roupa e tudo mais.
Não sei se por culpa, deve ter algum fenômeno psicológico que explique
isso", analisa o pastor Edvandro.
Ele lembra de um episódio
ocorrido há cerca de cinco anos, em Bemfica, no Rio da Janeiro, quando
ocorreu um massacre de 38 detentos depois que administração do local
misturou diferentes facções. "Eu conversei com um dos sobreviventes,
porque sou do conselho da comunidade, um órgão que fiscaliza a execução
da pena. Fui junto com juiz da VEC (Vara de Execuções Criminais) e os
sobreviventes disseram assim: 'olha os crentes não mata não', 'só não me
mataram porque eu tinha essa vinculação de fé', isso é fato", afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário